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Capital

“Nunca havia passado por uma situação como essa”, diz enfermeiro algemado em UPA

Edson Lima, de 34 anos, foi algemado por policial militar durante a triagem de uma paciente na Upa Leblon

Adriano Fernandes | 26/07/2022 22:51


Em 11 anos de profissão, dois deles dedicados à saúde na rede pública do município o enfermeiro Edson Lima, de 34 anos, diz já ter se deparado com todo tipo de ataque. Mas ser algemado enquanto exercia a sua função é algo que ele jamais poderia imaginar. “Eu nunca havia passado por uma situação semelhante a essa”, conta após o ocorrido inusitado do último domingo (24). Edson foi algemado por policial militar durante a triagem de uma paciente na Upa Leblon após ter perguntando o nome dela. O profissional foi parar na delegacia, mas a ocorrência sequer foi registrada porque o delegado de plantão entendeu que não houve conduta criminosa na postura do enfermeiro.

Edson conta que até agora não entende o porquê da exaltação do policial. Ele lembra que era por volta das 8h quando o militar chegou ao local com a paciente que teria sido vítima de violência doméstica. “Eu pedi para ele colocar ela na maca enquanto eu ia fazer a ficha dela e perguntei o nome da paciente”, comenta.  O questionamento faz parte do protocolo de qualquer atendimento médico da unidade.

“Ele disse que eu não precisava saber o nome dela, que devia pegar o nome depois e primeiro atender ela. Eu justifique que aquele era o procedimento, que era o meu trabalho, mas ele se exaltou”, comenta. Edson lembra que a paciente estava consciente, orientada e andando.

Em meio ao desentendimento ele foi algemado pelo policial e colocado na viatura. Vídeo repercutido nesta terça-feira, mostra o rapaz no banco de trás do veículo. A situação não só retardou ainda mais o atendimento da vítima, como comprometeu o atendimento dos outros pacientes da Upa, diante do desfalque do profissional. Edson era o responsável pelo atendimento de emergência da Upa no plantão de domingo.

“Meus colegas ainda tentaram argumentar que aquela era a área vermelha, que haviam pacientes graves, crianças aguardando o atendimento então não era certo tirar mais um enfermeiro de lá”, conta. O policial só teria retirado as algemas do rapaz na delegacia. Após a espera por atendimento, Edson foi ouvido pelo delegado plantonista, que ressaltou que a situação não configurava crime.

Da hora em que foi algemado até ser liberado na delegacia, Edson estima que se passaram 2h30, mas ele não teve condições de voltar ao trabalho no mesmo dia. O enfermeiro desabafa que ataques de usuários da rede pública de saúde são recorrentes, mas o desentendimento do último domingo tomou uma proporção inédita. “Somos atacados o tempo inteiro, as vezes as pessoas se exaltam, ficam nervosas, a violência anda cada vez mais comum”, conta.

Ele já voltou a trabalhar, mas conta que ainda está abalado. “Passar por essas coisas acaba dando uma desestimulada na gente, afinal, eu invisto na minha profissão, me dedico, estudo para prestar um atendimento de qualidade então é difícil sofrer um baque como esse, mas não posso deixar a peteca cair", comenta.

O profissional diz não ter interesse em representar diretamente contra o policial, mas está em contato com o sindicato da categoria, o Coren-MS (Conselho Regional de Enfermagem) e aguarda um posicionamento sobre quais procedimentos serão adotados.

Ao Campo Grande News, o Conselho informou que “iniciou uma investigação e seguirá tomando as providências que competem ao conselho”. Já a Polícia Militar informou em nota que "não procede a informação sobre o motivo da condução do funcionário do posto de saúde. O mesmo fora conduzido a delegacia em virtude de ter omitido socorro à vítima que havia sido conduzida pela guarnição da PM à unidade de saúde em decorrência de um grave ferimento. De acordo com o relatório policial, o funcionário teria deixado a vítima em pé, sangrando e sendo apoiada pelo policial militar, tendo abandonado o setor de emergência. Em razão de tal comportamento, o funcionário foi conduzido até a Delegacia de Polícia para prestar esclarecimentos acerca de seu comportamento, tendo sido conduzido dentro da viatura junto com os policiais militares".

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