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Capital

"O atendimento dá vontade de viver", diz paciente sobre hospital em greve

Novas consultas no Hospital de Câncer estão suspensas por causa de deficit de R$ 770 mil por mês

Caroline Maldonado | 28/02/2023 11:53
Paciente do HCAA, Patrícia dos Santos mostra cartão de tratamento (Foto: Henrique Kawaminami)
Paciente do HCAA, Patrícia dos Santos mostra cartão de tratamento (Foto: Henrique Kawaminami)

Em um salão cheio de cadeiras, todas ocupadas, dá-se a rotina de espera de horas pela consulta, que é seguida de uma cirurgia, radioterapia, quimioterapia, outra cirurgia e, em meio a tudo isso, dezenas de pessoas desconhecidas passam a ser um porto seguro para quem luta contra a doença. São faxineiros, enfermeiros, técnicos, médicos e voluntários que servem até café e pão com margarina aos pacientes do HCAA (Hospital de Câncer Alfredo Abrão).

É só mais um dia no ritmo frenético do atendimento à saúde pública na Capital, mas para cada um que está ali “na luta contra o câncer”, como se costuma dizer, cada detalhe faz a diferença.

Paralisação

Na última semana, o cenário mudou um pouco, porque novos pacientes não estão sendo atendidos. O hospital manda embora quem chega, porque os médicos paralisaram as novas consultas para paciente do SUS (Sistema Único de Saúde).

Com 422 funcionários e 75 médicos, o HCAA atende 70% dos pacientes com câncer de Mato Grosso do Sul e alega deficit de R$ 770 mil por mês, esperando que o Governo do Estado e a Prefeitura de Campo Grande aumentem o repasse.

“O amor e o carinho que eles têm e como nos tratam faz a gente sentir vontade de viver”, resume a paciente Patrícia dos Santos, de 47 anos. Ela descobriu o câncer em 2018, fez uma cirurgia, anos depois fez outra para retirar a mama e agora espera pela prótese. Em 2021, a mãe dela, de 65 anos, também precisou do hospital para combater um câncer no útero.

Rotina de atendimentos

O atendimento demora porque são poucos médicos para muitos pacientes. Se alguém reclama, Patrícia faz questão de entrar em defesa da equipe toda.

“Uma vez cheguei lá e tinha uma paciente reclamando da demora para entrar na consulta. Expliquei para ela que lá tem que ir sem outro compromisso porque tem que esperar. Falei para ela ir em outros hospitais e ver como é a realidade. As pessoas reclamam de barriga cheia. Lá, eles nos atendem muito bem. Não tenho do que reclamar”, conta Patrícia.

Paciente do HCAA, Patrícia dos Santos mostra papéis de exames e encaminhamentos (Foto: Henrique Kawaminami)
Paciente do HCAA, Patrícia dos Santos mostra papéis de exames e encaminhamentos (Foto: Henrique Kawaminami)

Ela conta que não falta nada no hospital para quem está em tratamento, mas é preciso ter paciência, porque é muita gente chegando a cada dia para começar um tratamento.

“A RedeFeminina ampara com alimentação de manhã e a tarde, pasta de dente, sabonete.. Eles fornecem tudo o que precisar para quem não tem condições, como sutiã com prótese, turbante e peruca", conta.

Quanto aos médicos, Patrícia conta que além de fazer as consultas e cirurgias, eles dão apoio e força aos pacientes, pequenos detalhes que amenizam a tristeza de enfrentar uma doença tão devastadora.

“Quando eu estava internada eu perguntei para uma enfermeira “por que vocês tratam a gente com tanto carinho e amor? Ela me falou que eles são preparados para atender bem, porque já estamos em uma situação tão complicada que se atender mal como que seria”, lembra Patrícia.

O relato, que expõe um pouco da rotina nos corredores e salas do hospital, é de uma das pacientes que espera ver o atendimento voltando ao normal. Ela também dá sua opinião quanto ao impasse financeiro.

“Tem que aumentar o repasse. O governo e prefeitura fazem tanta coisa que não tem necessidade, tem que olhar para área da saúde. E aqueles terminais que fizeram no meio da rua, por exemplo? A saúde está precisando mais, porque o Hospital de Câncer atende todo o Mato Grosso do Sul. O que fazem ali, a estrutura, o conforto que dão para os pacientes têm um custo, tem que ter ajuda do governo sim, é justo”, comenta Patrícia.

Paralisação parcial 

Desde quarta-feira (22), novos pacientes não entram em tratamento. No entanto, estão sendo realizados os atendimentos de urgência e emergência realizados no PAM (Pronto Atendimento do HCAA), que funciona 24 horas.

Área de espera no HCAA (Foto: Henrique Kawaminami)
Área de espera no HCAA (Foto: Henrique Kawaminami)

Os médicos mantêm também o trabalho de cirurgias de urgências e emergências, atendimentos de UTI (Unidade de Tratamento Intensivo) e os tratamentos nos setores de quimioterapia, radioterapia e hormonioterapia já em andamento.

Reivindicação

A equipe médica cobra a regularização dos pagamentos e dos vínculos/contratos dos integrantes do corpo clínico e regularização dos serviços de patologia e exames de imagens (ressonância magnética e cintilografia óssea), essenciais aos diagnósticos e segmentos de tratamentos.

Está pré-agendada para quarta-feira (1º) nova reunião entre integrantes da SES (Secretaria Estadual de Saúde), representantes do HCAA e Sesau (Secretaria Municipal de Saúde de Campo Grande) para discutir a situação do hospital.

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