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Capital

Obra inacabada se transforma em "lar precário" de moradores de rua

Centro Municipal de Belas Artes é o mais antigo elefante branco de Campo Grande

Osvaldo Júnior | 15/04/2018 11:37
Centro Municipal de Belas Artes, o "avô" dos elefantes brancos de Campo Grande (Foto: Paulo Francis)
Centro Municipal de Belas Artes, o "avô" dos elefantes brancos de Campo Grande (Foto: Paulo Francis)

Um arranjo de pimenta artificial serve de “decoração” que tenta dar algum aspecto de lar ao mais antigo elefante branco de Campo Grande: o Centro Municipal de Belas Artes. Precários brinquedos, patinete, bicicleta ergométrica, colchões, pedras amontoadas que servem de fogão, roupas, sapatos, dão à obra, iniciada no século passado, uma utilidade provisória: abrigo a pessoas em situação de rua.

A “casa improvisada” é apenas uma das funções adquiridas pelo local enquanto as obras não são retomadas. O empreendimento, que já recebeu cerca de R$ 10 milhões de dinheiro público, também é usado para outros fins, como consumo de drogas e como “motel”. “Acontece de tudo aí”, contou o aposentado João Fernandes, 69 anos, que mora na região desde que nasceu.

João se lembra da época em que a área era usada para cultivo de hortaliças. “Era tudo horta de um japonês”, conta sobre o local que abriga uma obra iniciada há quase três décadas e que já passou por nove gestões e seis prefeitos.

“Poderia até mesmo construir um lagoa artificial aqui. Água tem bastante pra isso”, sugere o aposentado, que acredita que a obra será finalizada. “Tenho esperança nisso. Acho que vai ficar muito bonito. Mas por enquanto, essa 'belas artes' não têm nada de belo”, finalizou.

Nascido na região, o aposentado João Fernandes tem esperança de continuidade da obra (Foto: Paulo Francis)
Nascido na região, o aposentado João Fernandes tem esperança de continuidade da obra (Foto: Paulo Francis)

A obra foi orçada em R$ 35 milhões. Como resultado de um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) firmado em 2007 com o MPE (Ministério Público Estadual), a prefeitura elaborou projeto para transformar o prédio em Centro de Belas Artes. Para continuidade do empreendimento, o Ministério do Turismo destinou R$ 8,3 milhões, pagos em duas parcelas, em 2008 e em 2010.

Recentemente, o promotor de Justiça Humberto Lapa, titular da 31ª Promotoria de Justiça do Patrimônio Público, e o prefeito Marquinhos Trad (PSD) estiveram no local. O MPE cobra a retomada das obras, porque a prefeitura recebeu dinheiro do governo federal.

Bicicleta ergométrica é um dos objetos velhos que estão no lugar (Foto: Paulo Francis)
Bicicleta ergométrica é um dos objetos velhos que estão no lugar (Foto: Paulo Francis)
Brinquedo e colchão indicam que o lugar é habitado (Foto: Paulo Francis)
Brinquedo e colchão indicam que o lugar é habitado (Foto: Paulo Francis)

Tentativa de casa – Enquanto isso não ocorre, o arranjo de pimenta artificial sobre uma mala velha cumpre precariamente seu propósito: “enfeita” o ambiente, tomado por muita sujeira, mato alto, garrafas pets, copos plásticos e objetos que aparentam estar em uso, como roupas, tênis, chinelos e colchões.

Além de adultos, é possível que tenha criança no lugar. Isso é indicado pela presença de alguns brinquedos: um dragãozinho de plástico, uma boneca e um patinete. 

Tudo no lugar é precário, inclusive o próprio prédio. Há diversas infiltrações, deterioração do material e as paredes da construção inacabada estão marcadas por pichações. Na parte inferior de uma escadaria, está pichada a palavra "opinião" sobre a pergunta "cadê?" A questão é emblemática, pois há muito a ser encontrado, sobretudo o caminho para conclusão da obra. 

Tijolos são usados como fogão precário na obra do Centro de Belas Artes (Foto: Paulo Francis)
Tijolos são usados como fogão precário na obra do Centro de Belas Artes (Foto: Paulo Francis)
Arranjo de pimenta artificial, tentativa de "decoração" do lugar (Foto: Paulo Francis)
Arranjo de pimenta artificial, tentativa de "decoração" do lugar (Foto: Paulo Francis)
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