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Capital

Pai e familiares se unem para não deixar morte de menina de 2 anos impune

"A gente só está sobrevivendo e a saudade está aumentando cada vez mais", lamentou pai da vítima

Gabriel de Matos e Gabrielle Tavares | 26/02/2023 17:34
Pai da menina de dois anos amarrando balões pretos (Foto: Marcos Maluf)
Pai da menina de dois anos amarrando balões pretos (Foto: Marcos Maluf)

"A gente só está sobrevivendo, cada dia que passa é um dia a mais, e a saudade está aumentando cada vez mais", foi assim que lamentou o pai da menina de 2 anos que morreu após série de agressões, o técnico de enfermagem Jean Carlos Ocampos.

Neste domingo (26), manifestação em frente ao Bioparque Pantanal, na Avenida Afonso Pena, marcou um mês da morte da criança. A concentração teve camisetas rosas com mensagens em homenagem à menina e apoiadores receberam pulseira e balões pretos.

O pai da criança estava bastante abalado, com os olhos vermelhos de choro. Seu companheiro, Igor de Andrade, teve mais palavras para relatar a tristeza e a indignação. Explica que não conseguiram voltar à rotina ainda. "A gente esta se fazendo de forte para gente lutar por justiça. Dói, está fazendo um mês hoje que a gente foi atrás, que a gente pediu socorro e não ouviram a nossa voz".

Igor completa que o objetivo é chamar a atenção para que o caso não seja esquecido. "A gente une forças não sei de onde, eu por ele e ele por mim, tem dia que eu estou um pouco melhor e dou um colo pra ele, tem dia que é ao contrário", relata.

Jean e Igor estavam presentes na manifestação que marca um mês da morte (Foto: Marcos Maluf)
Jean e Igor estavam presentes na manifestação que marca um mês da morte (Foto: Marcos Maluf)

Rede de apoio - A manifestação reuniu apoiadores que se sensibilizaram com o caso e prestaram homenagens à criança. Esse é o caso de Sara, de 42 anos. Ela lamenta que somente após o falecimento, as pessoas acreditam nos casos de violência e discriminação. "No Brasil, as pessoas às vezes precisam morrer pra conseguirem acreditar nos outros. Se eles fossem héteros teriam conseguido com mais facilidade".

Outro apoiador, que não quis se identificar, também reforçou que o casal gay pode ter sofrido discriminação. "Pelo que fiquei sabendo da história, eles fizeram muitas denúncias e a Justiça não ouviu até que o fato aconteceu. Às vezes por eles serem casal gay são descriminados, denunciaram ao externo e ninguém acreditou".

A prima de Jean e da vítima, Pâmela Rodrigues da Silva, de 37 anos, ainda está incrédula com a morte da menina. "Ainda estamos com muitos porquês, momento de questionamento, está muito recente. Um mês se passou e parece que ainda não aconteceu. A imagem que nós temos dela é ela vindo brincar sorridente, era uma criança que não deixava transparecer o que vinha sofrendo".

O tio da criança, Pedro Felipe, de 26 anos, relembrou que a menina passava vários momentos na casa deles e que amava estar com a avó. "Ela de vez em quando passava semanas lá em casa. E sempre chorava para não ir com a mãe dela. Sempre queria ficar".

A avó materna da menina, Delziene da Silva de Jesus, não teve contato com Stephanie de Jesus da Silva, 24, a mãe da criança, após a prisão. "Estamos tentando nos reerguer, não está sendo fácil. É muito difícil o que aconteceu. Não sei se vou perdoar a minha filha. No momento, eu sinto que não consigo".

Mulher com roupa preta entregando mensagens em homenagem à menina (Foto: Marcos Maluf)
Mulher com roupa preta entregando mensagens em homenagem à menina (Foto: Marcos Maluf)

Entrevista da mãe - A mãe da menina falou ao Jornal Folha de São Paulo. Na entrevista, divulgada na sexta-feira (24), ela admitiu que poderia ter denunciado o marido Christian Campoçano Leitheim, de 25 anos, o agressor da filha, mas teve medo.

Igor de Andrade comentou o relato divulgado e disse que eles evitam ver materiais sobre o caso. "Hoje, a gente está aqui mesmo para lutar por ela, não está para olhar nem pra A nem para B. Isso a gente até evita ficar vendo, evita ter acesso".

Processo - A advogada assistente da acusação, Janice de Andrade, explicou como está o processo de investigação do caso. "A gente pediu várias diligências. Não tem muita novidade, é esperar o resultado das diligências que o Ministério Público pediu".

Ela analisa que as entidades de saúde não estão preparadas para lidar com casos como este. "Existem protocolos, muitos hospitais em São Paulo, Rio de Janeiro, tem protocolos. Tem que ter treinamento e colocar pessoas preparadas para lidar com as crianças. Não podemos ter omissões".

Jean e Igor se reuniram e discursaram, falaram para olhar sempre pelas crianças e deixar o preconceito de lado. "Se nossa filha não está aqui hoje é porque vocês não olharam pra ela". Depois, todos presentes gritaram por justiça.

Ao final, eles saíram do Bioparque, caminharam com a faixa até o semáforo da esquina e mostraram faixa em homenagem à menina para os carros quando o sinal estava vermelho e entregaram mensagens.

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