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Capital

Pais espalham alarmes falsos e aumentam pânico

Cortar redes sociais da garotada também pode ajudar a conter onda de medo, diz delegada

Anahi Zurutuza | 11/04/2023 06:15
No fim da tarde de ontem, mães de alunos de escola municipal pediram mais segurança. (Foto: Alex Machado)
No fim da tarde de ontem, mães de alunos de escola municipal pediram mais segurança. (Foto: Alex Machado)

O caos está instalado. Desde a semana passada, quando o Brasil testemunhou massacre em creche de Blumenau (SC), o medo do “efeito contágio” – ou seja, que novas escolas sejam alvo de ataques sangrentos – se espalha, a cada dia com mais rapidez. Há quem ache interessante contribuir para o pânico, fazendo “ameaças” de chacinas nos banheiros dos colégios ou por meio de perfis falsos na internet. E para adicionar lenha nessa fogueira, mães, pais ou responsáveis ajudam a compartilhar esse tipo de informação.

Na semana passada, a PM (Polícia Militar) recebeu seis chamados para ocorrências em escolas de Campo Grande. Chegou a haver revista de alunos, mas as ameaças não passavam de trotes. Nesta segunda-feira (10), chegaram ao Campo Grande News dez denúncias de “atentados” em colégios da rede municipal e estadual da Capital – nos bairros Universitário, Recanto dos Rouxinóis, Pioneiros, Centro Oeste, Aero Rancho, Caiçara, Guanandi, Coophavilla 2 e Lar do Trabalhador. A maior parte delas, feitas pelos pais dos alunos e que também eram alarmes falsos.

Além dos prints, recebidos pelos responsáveis em grupos de WhatsApp, onde supostamente adolescentes faziam ameaças, há áudios de adultos comentando as falsas ocorrências. Num deles, voz de mulher fala de pessoas com “faconas” em colégio onde a PM (Polícia Militar) esteve ontem e a reportagem acompanhou a ação, que nada de irregular encontrou. Ou seja, a informação é falsa e como diz o ditado, “quem conta um conto aumenta um ponto”. O segundo áudio já falava em “caras armados”, dando margem para o ouvinte pensar em armas de fogo.

Por isso, a recomendação da Polícia Civil é “segurar o dedo” e só fazer alertas sobre os supostos atentados diretamente à direção da escola do filho, que saberá como proceder, ou acionar a polícia. “Se você não tem certeza da informação, a gente recomenda não divulgar, não compartilhar. Se você suspeita de alguém e tem informações mais precisas, ligue para o 190”, explica a delegada Daniela Kades, da Deaij (Delegacia Especializada de Atendimento à Infância e Juventude).

Viatura da ronda escolar em frente à escola estadual da Capital na semana passada. (Foto: Henrique Kawaminami/Arquivo)
Viatura da ronda escolar em frente à escola estadual da Capital na semana passada. (Foto: Henrique Kawaminami/Arquivo)

Consequências – Tanto a Polícia Militar quanto a Civil estão atentas às denúncias. “Tudo o que chega para nós, enviamos para o Setor de Inteligência verificar”, afirma a delegada.

Nesta segunda-feira, quatro adolescentes foram parar na Deaij por envolvimento com “anúncios” de massacres. A primeira providência tomada foi apreender os celulares dos jovens. Agora, investigados, eles terão os aparelhos vasculhados para verificar se fazem parte de algum fórum de discussão ou de algum desafio na internet que cultua assassinatos em massa, por exemplo.

Garotos e garotas podem ser responsabilizados por provocar alarma (artigo 41 da Lei de Contravenções Penais), incitação ao crime (artigo 286 do Código Penal) e ameaça (artigo 147 do CP), por exemplo. “Se criarem perfis falsos, podem responder por falsidade ideológica”, lembra a delegada.

Espalhar esse tipo de ameaça também pode render um “enquadro”. “Não se deve ficar estimulando isso em grupos de WhatsApp, até porque tivemos casos de alunos que tiveram nomes levianamente implicados”, afirma Daniela Kades. Imputar conduta criminosa a alguém é crime de calúnia.

Pausa – A delegada recomenda até que pais cortem temporariamente o acesso de crianças e adolescentes ao WhatsApp e demais redes sociais. Para estudantes, é mais difícil conter a ânsia de avisar os colegas, discernir sobre o que se deve ou não comentar e com os ânimos à flor da pele, informações compartilhadas nos grupos também podem servir como gatilho para troca de ofensas, dentre outros transtornos.

“Os pais têm de monitorar, mas como não se consegue fazer isso o tempo todo, nesse momento de maior comoção, talvez seja interessante um afastamento momentâneo do Tik Tok , WhatsApp, todas as redes”, aconselha a titular da Deaij.

Efeito contágio – O Campo Grande News optou por não detalhar as supostas ameaças e nem expor as escolas que tiveram problemas para não contribuir com o chamado “efeito contágio”.

Na semana passada, veículos de comunicação de todo o Brasil anunciaram mudanças nos protocolos de cobertura de ataques em escolas, baseados em recomendações de estudiosos em comunicação e violência. Ao exibir imagens e contar a história do agressor, a mídia pode favorecer a proliferação de ataques a escolas e creches, por exemplo. O que esses assassinos buscam, dizem estudos, é a notoriedade instantânea.

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