População reclama, mas joga lixo onde puder e até Mario Bros vai parar no esgoto
Rotina de concessionária mostra que esgoto vira problemão por descaso dos moradores
Problema que chega de uma hora para outra e tumultua o dia em várias regiões de Campo Grande é bem mais previsível que a maioria pensa. A rotina de trabalhadores da concessionária responsável pelo fornecimento de água e rede de esgoto mostra o tamanho do descaso com regras básicas na destinação de lixo.
Lauane da Silva, supervisora de serviços da Águas Guariroba, explicou ao Campo Grande News que a manutenção do esgoto vira desafio diante do descarte de óleo, de lixo e ligações clandestinas de esgoto.
“Então a gente pede a conscientização da população para não descartar lixo, tanto na pia da cozinha quanto no vaso sanitário", pede.
Nesta semana, na Avenida Nelly Martins, metros de lona foram retirados de um poço de visita, local que dá acesso à rede de esgoto. Mas até boneco do Super Mario Bros já acabou no esgoto em Campo Grande, assim como latas de tinta e fraldas, muitas fraldas. "Tem coisas absurdas que você nem imagina", relata Lauane.
Segundo ela, tem gente que passa, vê um buraco aberto e aproveita para fazer o que não deve. "Se encontrar algum PV (poço de visita) na rua também sem tampa, não deve fazer o descarte de lixo nele e sim avisar a gente para fazer a colocação da tampa”, diz.
Nos dias de chuva, quem mostra o poder de criar dor de cabeça são as ligações clandestinas. E o problema só aumenta. A supervisora de serviços da Águas Guariroba estima que os transbordamentos aumentam cerca de 20% durante os temporais de novembro a março.
“As ligações domésticas da água pluvial são incorretas, elas são ligadas na nossa rede esgoto. Então a rede de esgoto, ela é dimensionada para atender uma certa vazão. Com a ligação indevida da água pluvial nessa rede, a vazão aumenta muito e a rede não suporta e acaba extravasando. Sempre que há um extravasamento muito grande ou que retorne para a casa do cliente, nós já sabemos que há uma obstrução ali”, contou.
A residência deve ter dois tipos de ligação. Uma para a rede de esgoto e outra para a rede fluvial. “São duas tubulações que passam na nossa rua, na verdade são três, né? Uma de água, de esgoto e de drenagem. Essa água da chuva, captada nas casas, ela tem que ser ligada na drenagem. O pessoal, como acha mais cômodo, já liga direto na rede de esgoto, faz uma ligação só em vez de fazer duas, fazer uma de drenagem para captação da chuva e uma de esgoto, faz uma só e liga direto na rede de esgoto”, explicou.
Em análise realizada pela concessionária, as ocorrências de transbordamento de esgoto acabam ocorrendo com maior frequência em bairros periféricos. Dentre eles, a supervisora destaca os bairros Portal Caiobá, Aero Rancho, Santa Emília, Centenário e Santa Luzia.
É uma falta de conhecimento mesmo da população, a gente vê que nos bairros mais periféricos, às vezes, não há esse conhecimento da separação. Muitas vezes quem faz a própria ligação da casa é o morador, por não ter condições de contratar uma mão de obra especializada, e acabam fazendo da forma que ele acha que é o correto”, explica.
Limpeza - Sem uma central de monitoramento, a supervisora relata que a limpeza é realizada só após o entupimento ser denunciado à empresa, pelo WhatsApp: 0800 642 0115.
Assim que informada, a empresa encaminha uma equipe até o local que com auxílio de uma haste retira os resíduos mais densos. Depois é usada mangueira de hidrojato para retirar os resíduos menores, que a haste não consegue fazer a retirada. Em alguns casos também são usadas mangueiras de hidrovácuo, que sugam essas sujeiras.
Ao todo, a concessionária possui sete equipes que trabalham diariamente para atender essas ocorrências. Em meses com maior quantidade de chuva, há cerca de 1.200 casos de transbordamento de esgoto causado pelo acúmulo de lixo e mau uso da rede. Diariamente, são cerca de 30 casos atendidos por dia. Fora do período de chuva, os números caem pela metade.
A média apresentada pela supervisora de serviços é de 550 a 600 ocorrências por mês, no período de seca. Apesar dos serviços de limpeza realizados nos poços de visita, muitos resíduos acabam chegando na unidade de tratamento de esgoto.
Em média, chegam por mês 75 toneladas de lixo. Porque quando chega na estação para tratar, antes precisa passar por um gradeamento onde ficam aqueles sujeiras maiores. O que não chega lá é o que a gente fala que é o nosso problema nas cidades, que são as sujeiras que vão ficando pelo caminho”, diz.
Conscientização - A Águas Guariroba realiza reuniões constantemente nos bairros onde há mais casos de esgotos transbordando. Lauane explica que o objetivo dos encontros é diminuir a falta de consciência da população.
“Essa semana, por exemplo, a gente vai estar lá no Santa Luzia conscientizando a população. A gente também está em constante reunião também com o córrego limpo, com o pessoal da Semadur, para eles nos apoiarem também nesses pontos quando recebemos alguma denúncia ou se está tendo algum problema muito recorrente de extravasamento a gente entra em contato com o córrego limpo para eles nos ajudarem com a fiscalização”, disse.
Lauane ainda conta que as reuniões têm trazido resultados e que depois dos encontros, alguns moradores foram em busca de uma mão de obra qualificada para realizar os reparos necessários.
“Esse ano a gente teve um alto crescimento da rede de esgoto, a gente não conseguiu computar essa diferença. Consequentemente também aumentou o número de extravasamentos, apesar da conscientização. A gente vê um resultado sim, pela diminuição da recorrência”, relatou.
Ainda é explicado que as reuniões são combinadas com o presidente do bairro e posteriormente divulgadas com carro de som.
Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais.