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Capital

Porto seco é justificativa usada para aumentar perímetro urbano

Paula Vitorino | 04/12/2012 10:13
Vereador Carlos Augusto Borges diz que apresentou emenda à pedido do Prefeito. (Foto: Arquivo)
Vereador Carlos Augusto Borges diz que apresentou emenda à pedido do Prefeito. (Foto: Arquivo)

A justificativa para ampliar em 136,85 hectares o perímetro urbano de Campo Grande foi baseada no desenvolvimento que o Terminal Intermodal, o chamado Porto Seco, deve trazer para a região sul da Capital – próximo à área do lixão do bairro Dom Antônio Barbosa. O aumento gerou polêmica e críticas.

A alegação é do vereador Carlos Augusto Borges (PSB), conhecido como Carlão, autor da emenda de aumento do perímetro urbano à Lei Complementar nº 205, de autoria do Poder Executivo, que foi aprovada pela Câmara em 26 de outubro.

“Aquela área vai gerar cerca de 400 empregos e atrair moradias. Aquele pedaço de terra estava descupado, sem uso, e por ser cosiderado perímetro rural não poderia ser utilizado futuramente pela Prefeitura para construção de lotes de residenciais, escolas, postos de saúde, por exemplo”, diz. O Terminal está aguardando a autorização da Receita Federal para os trâmites legais no despacho de produtos.

Segundo ele, o pedido de incluir a área ao perímetro urbano, como também os dados de desenvolvimento, foram passados pelo prefeito Nelson Trad Filho (PMDB). A emenda foi feita a projeto original encaminhado pelo Executivo à Câmara.

O vereador avalia que a área já estava “no meio urbano, cercada de bairro” e que a oficialização do terreno como urbano é fundamental para o desenvolvimento da cidade.

“O município não pode parar por conta de um triângulo de terra parado no meio da região urbana”, diz.

Sobre a propriedade da área, o vereador informou que o terreno fica ao lado do porto seco e que a maior parte é da Prefeitura de Campo Grande. No entanto, ele diz que não tem dados para afirmar se toda a área é pública ou existe parte particular.

A reportagem entrou em contato com a Planurb e a assessoria de imprensa da Prefeitura para descobrir no nome de quem está a área, mas não obteve resposta.

Órgãos de arquitetura vão pedir que MPE investigue irregularidade.
Órgãos de arquitetura vão pedir que MPE investigue irregularidade.

Sem necessidade - Para quem acompanha a questão, o aumento do perímetro urbano é totalmente desnecessário considerando a área já existente na cidade. O vice-presidente da Federação Nacional dos Arquitetos e Urbanistas, Ângelo Arruda, afirma que a cidade tem espaço para abrigar cinco vezes o número atual de habitantes nos 35.766 mil hectares que já possui. De acordo com o IBGE, o município tem 806 mil habitantes e considerando a conta de Ângelo, comportaria até 4 milhões .

“A cidade tem que crescer dentro do espaço vazio urbano que já existe e não criar mais perímetro em uma região afastada, sem infraestrutura”, diz.

Além do fator desnecessário, o arquiteto lembra que a ocupação urbana da área representa gastos com a demanda de investimentos em asfalto, saneamento básico, linha de ônibus e acesso a serviços básicos como saúde e educação.

“Do ponto de vista de planejamento, de organização de uma cidade, não existe benefício nenhum nesse aumento de perímetro”, avalia.

Uma das especulações sobre o benefício da área é a valorização do terreno e o “aquecimento” do mercado imobiliário. A área sendo considerada urbana passa a ser avaliada por metro quadrado e não mais por hectare, o que de acordo com o setor imobiliário é responsável por aumentar o valor de venda.

Área no entorno do poro seco, estrutura em branco que aparece na foto, foi acrescentada ao perímetro urbano de Campo Grande.
Área no entorno do poro seco, estrutura em branco que aparece na foto, foi acrescentada ao perímetro urbano de Campo Grande.
Porto seco, no anel viário de Campo Grande. (Foto: Arquivo)
Porto seco, no anel viário de Campo Grande. (Foto: Arquivo)

Irregular – Além disso, a alteração não poderia ter sido feita sem que houvesse antes uma revisão do Plano Diretor do Município, afirmam os críticos. O Conselho Municipal de Desenvolvimento Urbano (CMDU) afirma que só teve acesso ao projeto original, sem a emenda, e que aprovação do aumento da área "é totalmente irregular".

"Se o Conselho tivesse sido consultado nós teríamos alertado que a emenda era irregular de acordo com a lei, mas nem fomos consultado", diz o membro do CMDU e presidente do Secovi, Marcos Augusto Netto. O Conselho precisa aprovar o projeto antes de ser encaminhado para Câmara.

O arquiteto Ângelo ainda frisa que o projeto não poderia ter sido aprovado pela Câmara sem ao menos ter entrado em discussão ou ser aberto para opinião pública.

“Essa questão é pública, diz respeito a todos, e não poderia ter sido aprovada sem ser levada para consulta da sociedade. Além disso, o projeto publicado está quase criptografado e para quem não é da área é praticamente impossível entender o que foi feito e, assim, o projeto passa despercebido”, ressalta.

No entanto, o vereador Carlão afirma que o Conselho teve acesso a todo conteúdo do projeto e, além disso, o texto foi aprovado pela Câmara e sancionado pelo prefeito. “Foi aprovado por quem cabia, então, quem discordar que entre com as providências para questionar a ação”, afirmou.

Reunião entre Sindicato, Instituto de Arquitetos e OAB-MS (Ordem dos Advogados do Brasil) irá acontecer ainda nesta manhã para discutir a questão. Ângelo diz que o objetivo é acionar o Ministério Público para que questione a Prefeitura sobre a irregularidade da mudança na lei e motivos e benefícios para a alteração.

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