Prefeitura empurra impasse e pede mais tempo para resolver caos em favela
Após sair da reunião com a Enersul sem acordo, a Prefeitura de Campo Grande pediu mais cinco dias para devolver a energia elétrica às 800 famílias da favela Cidade de Deus, no Bairro Dom Antônio Barbosa. Enquanto isso, prometeu manter dois geradores para não deixar os moradores na escuridão.
Na manhã de quinta-feira (11), a Enersul cortou a energia na comunidade, alegando rede clandestina. A decisão ocorreu, após incêndio destruir seis barracos. Sem luz, os moradores pediram socorro à prefeitura que, na madrugada de sábado (13), levou dois geradores, emprestados por empresários.
O prefeito Gilmar Olarte (PP), inclusive, foi até a favela e anunciou a volta definitiva da energia, nesta segunda-feira (15). Porém, em reunião com secretários, a Enersul pediu R$ 8 mil mensais para regularizar a situação e devolver a luz à comunidade. O recurso seria correspondente ao gasto de energia das 800 famílias.
Com o prefeito em Brasília, os secretários pediram mais cinco dias para apresentar uma contra-proposta e prometeram, enquanto isso, manter os geradores para abastecer a favela. “Estamos tranquilos porque o gerador vai continuar, mas é preciso mais agilidade para resolver isso”, cobrou o porteiro Marcos Roberto Pereira, de 36 anos, morador da comunidade há dois anos.
Na favela da Portelinha, na região do Bairro Estrela do Sul, a prefeitura assumiu a conta de energia e, em 20 dias, prometeu transferir os moradores para um conjunto habitacional. “Lá o caso é diferente. A maioria dos moradores está inscrita em um programa habitacional. Já, na Cidade de Deus, só 200 das 800 famílias estão cadastradas”, explicou o secretário de Administração, Valtemir Brito.
Secretário de Governo, Rodrigo Pimentel frisou ainda que o problema vem se arrastando há dois anos e não tem como o prefeito, que assumiu há seis meses, resolver “de uma hora para outra”. “Não é só a demanda da energia para resolver, é preciso dar terreno e estrutura em outro local, porque onde estão é área invadida e de preservação ambiental”, emendou.
O plano da prefeitura é conseguir, em 90 dias, terreno para abrigar as 800 famílias, fechar convênio com o Governo Federal para conseguir kits de material de construção e montar estrutura de água e luz no novo local. “Queremos fazer uma desocupação organizada, mas como começar se a Enersul vai lá e corta a energia? Tem que haver harmonia entre as partes envolvidas”, cobrou Pimentel.
Sobre o fato de a prefeitura entrar na Justiça para manter as famílias na favela, apesar de ser irregular, Brito reforçou que, de imediato, não há outra solução. “Não podemos jogar essas pessoas na rua. Antes de obedecer a lei temos que pensar no lado humano, tem muitas crianças, idosos e deficientes no meio das famílias que não podem ficar desamparados”, comentou.