Enersul acaba com gato e falta de luz castiga doentes e crianças em favela
Sem energia há mais de 28 horas, moradores da favela Cidade de Deus, no Bairro Dom Antônio Barbosa, estão perdendo alimentos e se preocupam com a saúde dos filhos diante do calor de mais de 34 graus e da baixa umidade do ar. A sensação térmica, segundo eles, é insuportável dentro dos barracos, que, até ontem (11), eram abastecidos com energia irregular.
Em um dos barracos vivem as irmãs Deise Campos Barbosa, de 19 anos e Denise Campos Barbosa, 23. As duas são catadoras e, depois de receber o pagamento, foram às compras ontem. “Sem a energia, estamos perdendo carne, frango e frutas”, contou Deise.
Com bronquite, Denise usa inalador, que depende de luz elétrica. “Tenho bronquite e, com tempo seco, não estou podendo fazer inalação”, contou. A situação a revoltou. “Acho isso uma falta de respeito, somos cidadãos e eleitores. Para piorar, há boatos de que a água também será cortada”, completou.
No barraco da diarista Brenda Lili, de 42 anos, os alimentos também estão estragando. “Está muito calor e nem temos água gelada para tomar, estou me sentindo igual um cachorro, estou sem saída e não posso sair daqui, porque não tenho para onde ir”, desabafou.
Com dois filhos, de 7 meses e 2 anos, a dona de casa Graciele Aparecida Pereira, de 17 anos, também está desesperada. “As crianças estão ficando com diarreia e, para dar água gelada a elas, precisamos pagar R$ 2 por gelo em garrafa pet”, contou.
O caso – Após incêndio registrado ontem na favela, a Enersul foi até o local e desligou a energia. Por meio da assessoria, a concessionária reafirmou que as ligações são clandestinas.
O MPE (Ministério Público Estadual), inclusive, instaurou inquérito para investigar a ocupação irregular da área e alertou para o risco das ligações irregulares. A prefeitura conseguiu suspender a reintegração de posse após alegar que não há uma área para reacomodar as 800 famílias.
Segundo a moradora Deise, a Enersul foi à favela escoltada pela polícia e desligou a energia, porém, pouco depois, teria reativado o serviço. “Mas, por ordem do prefeito, tiveram que desligar novamente”, afirmou. “Agora, dizem que só vão religar depois da ordem da prefeitura”, completou.
A catadora disse ainda que paga tarifa social pelo serviço, contudo reconhece que há ligações clandestinas no local.
Ontem à noite, Nilton César do Nascimento Jarson, de 38 anos, foi encaminhado para o centro cirúrgico da Santa Casa para realizar uma cirurgia no braço, após ser atingido por choque na hora que tentou reativar a energia.
Procurados pela reportagem os secretários municipais Rodrigo Pimentel (Governo e Relações Institucionais) e Valtemir Brito (Administração) não atenderam as ligações e nem as retornaram para falar a posição da prefeitura sobre o impasse.