Público já está reduzido em academias, onde orientação é álcool em tudo
Infectologista orienta que momento de “não ir” deve chegar nos próximos 15 dias, caso ocorra transmissão comunitária
Ainda pode ir na academia, com cuidado redobrado na higienização. Locais coletivos e onde suor e saliva ficam no ar e nas superfícies, representam risco de contágio do novo coronavírus. Mato Grosso do Sul ainda não tem transmissão comunitária do novo vírus, portanto, a orientação médica é: vá, mas álcool gel 70% é para ser aplicado "em tudo".
Além disso, limpeza intensificada com uso de água sanitária em todo o espaço e equipamentos, higienização pessoal das mãos, e dos equipamentos -, quando o cliente acaba de usar -, são parte das orientações da médica infectologista do Hospital Universitário, pesquisadora e professora da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul), Mariana Croda.
“Em relação ao nosso estado, ainda não temos transmissão sustentada aqui, nossos casos são rastreáveis, nossa preocupação é evitar que frequentem ambientes fechados utilizados por muitas pessoas. A recomendação para esses ambientes é intensificar a higienização. Academia é ainda mais intenso, a cada momento se utiliza aparelhos”, diz.
A médica lembra que o vírus é sensível e ainda não se compreende, por completo, seu comportamento. “O que a gente já vê é que ele dura até 72h nas superfícies, mas ele é sensível à questão de temperatura, ao hipoclorito, então limpeza tem que ser com a quiboa, a cândida, que têm esse poder, por isso já usamos nos ambientes de saúde, mas no momento é importante que as pessoas continuem fazendo as suas atividades”, orienta.
Momento vai chegar – A infectologista emenda, no entanto, que o cenário, até agora, é indício de que o momento de orientar não ir às academias vai chegar, o que pode ocorrer nos próximos 15 dias se Mato Grosso do Sul tiver, como Rio de Janeiro e São Paulo, transmissão comunitária ou sustentada, quando os vetores não são de fora da localidade e já não é possível rastrear o vírus.
O Estado tem, até agora, 2 casos: uma estudante de 23 anos e um homem de 31 anos. Acredita-se que ela pode ter adquirido o vírus no Rio de Janeiro, para onde viajou e ele, em Londres, na Inglaterra, onde estava a trabalho.
“A forma mais fácil de pegar é quando você toca nas superfícies e toca as mucosas, hoje em dia a gente começa a reparar o quanto a gente coloca a mão no rosto, é involuntário”, comentou.
Nas academias – Em Campo Grande, ainda assim, o cuidado já se reflete em redução de público, especialmente dos idosos, mais vulneráveis ao novo coronavírus. Na academia Boss Fit, na Avenida Eduardo Elias Zahran, o proprietário redobrou todas as práticas de limpeza nesta e nas outras unidades da marca.
Conforme Mardem Antunes, além de orientação, contratou mais funcionários para limpeza, feita duas vezes por dia a partir de agora, e dobrou a quantidade de recipientes de álcool gel 70% nas academias. As medidas foram adotadas desde o final da última semana, após a confirmação dos casos na sexta-feira (13).
Os idosos, segundo ele, já representaram redução de 20% no público da manhã e o proprietário também disse ter percebido que os clientes estão mais atentos à higienização, não só corporal, mas dos equipamentos, e evitando os cumprimentos como aperto de mão. Ainda assim, comentou ter medo do contágio no Brasil.
“Olha a Europa, já está fechando tudo, e são países de primeiro mundo, imagine a gente. O que o governo vai fazer para ajudar empresários?”, disse ele, que afirmou temer efeito “em cascata” na economia.
No local, quem malhava tranquilamente era um médico imunologista. Celso Tabosa, 58, afirma que segue a rotina normal, mas que está tomando todo o cuidado com a higiene. Ele disse estar indo em horário mais cedo do que o normal, por ter menos pessoas. “A facilidade de disseminação é o mais preocupante”, avaliou.
Em outras academia visitadas pela reportagem, proprietários relataram redução de público e disseram temer terem demissão de funcionários.
Na Campo Fit, o proprietário Luiz Carlos afirmou ter colocado mais recipientes de álcool gel em toda a academia e orientado os alunos sobre o uso de equipamentos e sobre a higiene. Segundo ele, a limpeza é realizada 1 vez ao dia e, duas vezes por semana de forma mais intensa. “Os clientes comentam que têm medo, não sabem o que vai acontecer”, afirmou.
Por ali, a dona de casa Paola Graciano, 32, mantém a rotina, “com certos cuidados de higiene”. “Me sinto mais tranquila", disse ela, com relação ao horário mais esvaziado de público.