Samu tem ambulância parada há mais de ano
Socorro deve vir em 8 minutos, mas sucateamento desfalca frota em Campo Grande: 16 viaturas, só 8 circulam
Uma auditoria feita por técnicos do Ministério da Saúde mostrou uma radiografia que se reflete nas ruas de Campo Grande, na hora de socorrer pacientes que precisam dos serviços do Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência). Três viaturas do serviço estavam encalhadas havia meses, uma por 355 dias, outra por 263 e a terceira por 176 dias, e dez precisavam de diferentes tipos de reparos. A efetividade desse serviço foi colocada em debate esta tarde, na Câmara de Vereadores, durante audiência pública. Na reunião, a Prefeitura divulgou que das 16 ambulâncias, oito estão paradas, ou seja, os atendimentos contam com metade da estrutura.
Essa condição prejudica o chamado tempo resposta, que é o necessário para o socorro. Na Capital, o atendimento chega em até 28 minutos, com desafio de baixar para 12. O superintendente do Ministério da Saúde, Ronaldo Costa, participante da audiência pública desta tarde, pontuou que o “tempo de ouro”, para salvar uma vida, é de 8 minutos.
O levantamento do Sistema de Auditoria do SUS, que foi debatido na reunião, compreendeu período entre janeiro de 2022 e julho do ano passado, com vistorias in loco realizadas em setembro de 2023. O levantamento, com mais de cem páginas, avaliou o financiamento, a gestão de pessoal, uso dos recursos, a infraestrutura e a regulação de pacientes, que também é conduzida pelo serviço.
Sobre as viaturas, o serviço mencionou a placa de cada uma verificada. Além das três encalhadas na oficina, a auditoria apontou que outras dez precisavam de reparos, desde buzina, lanterna, muitas com ar-condicionado pifado e uma delas circulava já superando dois mil quilômetros do momento da troca de óleo.
O levantamento mencionou que havia, também, falta de renovação de seguro de veículos, ausência de medicamentos elencados como essenciais para os atendimentos e equipamentos utilizados no primeiro socorro. A lista contém 26 remédios e seis estavam em falta na data em que houve a vistoria, desde antibiótico até medicação para dor, sem haver prova de que nos procedimentos de compra constavam alguns faltantes.
No relatório, o Ministério menciona a destinação de 9 ambulâncias ao serviço na capital e cinco adquiridas pela Prefeitura, citando que há dois veículos “em desfazimento” e quatro motocicletas, para atendimentos menos graves. A Prefeitura informou à equipe do Ministério que tinha um certame em aberto para aquisição. O pregão mencionado foi suspenso e desde novembro do ano passado não houve retomada.
Pelo levantamento, no ano de 2022, o combustível foi a principal despesa com os veículos, com R$ 799 mil e na primeira metade de 2023 correspondeu a R$ 315 mil. No levantamento geral, considerando os valores depositados por União, Estado e Município para o SAMU, a folha de pessoal ocupou 64,9% das receitas em 2002 e 60% em 2023. Mas os valores reais com os servidores envolvidos vão além da verba carimbada do SAMU, com os cofres do Município complementando os pagamentos. Em 2022, as despesas foram de R$ 22,9 milhões e até a metade do ano passado a soma foi de R$ 10,9 milhões.
Na reunião desta tarde, o coordenador geral do Samu na Capital, Ricardo Alves Rapassi, mencionou licitação para alugar dez ambulâncias. Conforme ele, o serviço conta com 62 médicos, entre intensivistas e reguladores, 42 técnicos de enfermagem, 30 enfermeiros, 30 administrativos e 50 motoristas.
Campo Grande é um polo para o serviço, com outras 11 cidades ligadas à Capital. Além do socorro, também compete ao Samu a regulação de vagas para pacientes. Das cidades que estão na rede da Capital, somente Corumbá tem unidade avançada para o atendimento.
Matheus Righer, assessor técnico do Samu, informou que a atuação envolve nove bases, incluindo o distrito de Anhanduí, com atendimento básico. O socorro pode ser mais simples, envolvendo um técnico e um condutor no veículo. Já os quatro veículos de suporte avançado contam com médico e enfermeiro no atendimento.
Solução –
Representando o sindicato dos profissionais de enfermagem na Capital, Angelo Macedo, apontou que a melhoria do serviço passa pelo investimento na estrutura e também valorização dos servidores do Samu. “Ainda é uma situação de sucateamento. As pessoas desconhecem essa realidade”, analisou.
O autor do pedido de audiência, vereador Victor Rocha, que já foi secretário de Saúde, mencionou os dados da auditoria sobre os veículos e defendeu maior eficiência no funcionamento do Samu, com aplicação racional dos recursos destinados ao serviço.
O superintendente do Ministério destacou a urgência em aperfeiçoar o atendimento, para reduzir o tempo do socorro. “Todos temos que nos unir para oferecer assistência necessária à população que precisa. A chance de vida das pessoas não está sendo atendida.”
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