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Capital

Saúde apura compras desnecessárias mesmo sem remédios em postos

Já suspenso o fornecimento de medicamentos, a Sesau comprou gesso para 10 anos, mesmo o produto tendo validade de quatro

Lucas Junot | 18/03/2017 11:59
R$ 240 mil foram investidos em gesso para 10 anos, quando medicamentos básicos faltavam nas unidades de saúde, por atraso no pagamento de R$ 250 mil ao fornecedor (Foto: Marcos Ermínio)
R$ 240 mil foram investidos em gesso para 10 anos, quando medicamentos básicos faltavam nas unidades de saúde, por atraso no pagamento de R$ 250 mil ao fornecedor (Foto: Marcos Ermínio)

A prefeitura de Campo Grande iniciou esta semana, o pagamento de dívidas com fornecedores de medicamentos, pendentes desde agosto do ano passado. Segundo a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde), de um rombo de R$ 20 milhões, entre remédios básicos, itens hospitalares, medicamentos de uso controlado, ações judiciais, entre outros itens já distribuídos em 2016, restou apenas o saldo devedor, trabalho e muitas dúvidas, como o motivo da aquisição de itens desnecessários e o desperdício de recursos.

Entre as discrepâncias, o coordenador de assistência farmacêutica da Sesau, Américo Basílio Nogueira, há 12 anos na prefeitura, conta que no final do ano passado, quando se encerrava a gestão, a secretaria determinou a compra de uma quantidade absurda de faixas gessadas, “suficiente para abastecer todas as unidades por 10 anos, mas o problema é que os itens têm validade de apenas quatro”.

Wilson Hiroshi, chefe de divisão do almoxarifado, lembra que a compra custou cerca de R$ 240 mil à prefeitura. “A gente não têm demanda pra esse item nas nossas unidades, então tentamos fazer algum tipo de permuta com outros municípios”, revela.

Américo lembra ainda que, desde outubro do ano passado, a Farmácia Municipal não recebia nenhuma nova remessa de medicamentos, até a recomposição dos estoques iniciada pelo atual prefeito, Marquinhos Trad.“Os fornecedores não estavam entregando porque não estava recebendo. A crise começou em junho, mas cessou de vez em outubro de 2016”, conta.

Quem conta a mesma história é Diomar Godoi, representante da Rio Clarense, principal fornecedora de medicamentos ao Executivo Municipal. “Nós não estávamos recebendo pelo que já tinhamos entregado e então tivemos que parar de fornecer, na gestão passada. Cheguei a falar com o prefeito anterior várias vezes, até que ele disse que não ia pagar porque não tinha dinheiro”, lembra.


A Rio Clarense tinha R$ 250 mil a receber. A empresa detém 40% dos itens fornecidos para a farmácia básica da prefeitura, conforme pregão realizado no ano passado, onde apresentou os melhores preços para compra. Ainda assim, mesmo com o fornecimento suspenso, a gestão determinou a compra de R$ 240 mil em faixas gessadas que abarrotam o galpão da Farmácia Municipal.

No local, ainda existem centenas de itens alocados em paletes com tarjetas destacando: vencido. Além disso, pilhas, lâmpadas, bicicletas, cadeiras, condicionadores de ar e até academias ao ar livre, todos novos. Wilson Hiroshi, explica que muitos itens são destinados pelo Ministério da Saúde e não podem ser destinados a lugares diferentes dos contemplados em convênio, mas outros tantos só precisavam de uma determinação do Executivo para serem distribuídos.

Uma outra área abriga milhares de caixas de papel com documentos da Sesau, completamente expostos e deteriorando-se.

“Muita coisa aqui está péssima, mas estava ainda pior. Estamos organizando. Tinha remédio vencido e remédio bom junto. Não se tinha sequer controle sobre a data de validade de alguns produtos, pois não estavam cadastrados no sistema, estamos fazendo isso tudo manualmente”, disse Hiroshi.

A situação foi apresentada ao prefeito Marquinhos Trad esta manhã. Ele classificou a situação como “criminosa” e pediu celeridade na organização para que itens não sejam perdidos ou se deteriorem ainda mais no tempo.

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