Sem kits, combate à leishmaniose está parado há quase três anos
Desde 2013 a Sesau (Secretaria Municipal de Saúde) não realiza as visitas domiciliares para coleta de sangue de cães com o objetivo de identificar possíveis portadores de leishmaniose. A informação foi confirmada na quarta-feira (17) pelo próprio órgão.
A alegação é de que há quase três anos o Ministério da Saúde não disponibiliza os kits necessários para os exames, que são fundamentais para realizar uma triagem e detectar as regiões onde a doença ocorre com maior incidência, permitindo ao poder público, elaborar estratégia de combate.
Ainda de acordo com a secretaria, a expectativa é de que o material volte a ser disponibilizado para uma campanha em meados de junho deste ano.
No entanto, a assessoria ressalta que os donos de cães que suspeitam ou desejam saber se o animal está contaminado, podem procura o CCZ (Centro de Controle de Zoonoses), que realiza a coleta no local.
Caso o animal apresente resultado positivo no primeiro teste, é feito outro exame para contraprova, para confirmar ou não a doença. O material coletado é examinado pelo Lacen (Laboratório Central).
Como não realiza campanhas desde 2013, a Sesau não dispõe de dados atualizados quanto a incidência de cães contaminados ou sacrificados, nem qual região da cidade apresenta maior incidência da doença.
Para o presidente regional da Anclivepa (Associação Nacional de Clínicos Veterinários de Animais de Pequeno Porte), Antônio Carlos de Abreu, a falta de dados é preocupante, já que os profissionais dependem dessas informações para realizar as campanhas e ter um conhecimento real do cenário na cidade.
Baseado em relatos de colegas de profissão e na rotina de vários consultórios, que diariamente atendem cães em tratamento da doença, ele estima que entre 24% e 25% da população canina, que hoje totaliza cerca de 130 mil cães na Capital, esteja contaminada pela leishmaniose.
No entanto, ele acredita que as estatísticas podem ser maiores, uma vez que é comum o cão não apresentar os sintomas da doença, especialmente se ele tem uma boa qualidade de vida.
"A leishmaniose veio para ficar. Pode ser que no futuro ela seja controlada, mas se o poder público não fizer sua parte, fica difícil. Sei que muitas pessoas não gostavam de ver os agentes coletando sangue de seus cães, mas é a única forma de traçarmos um mapa da doença", afirma.
Na opinião de Antôno Carlos, é provável que todos os moradores de Campo Grande tenham um cão positivo perto de sua residência.
Para retomar o controle, ele ressalta que seria necessário retomar, o quanto antes, as visitas domiciliares para coleta de sangue dos cães, enquetes epidemiológicas além de borrifação para eliminar o mosquito flebótomo, também conhecido como "mosquito-palha".
A falta de informação atualizada também preocupa o empresário Victor Antunes, que há 20 dias perdeu um cão de dois anos, da raça Pastor Alemão, para a doença. Apesar de sempre tratar da saúde no animal em clínicas particulares, ele começou a desconfiar da eficácia do controle feito pela rede municipal ao ouvir relatos de profissionais que afirmam que a cidade passa por uma pandemia da doença.
"Não pude tratar meu cão porque ele apresentava um problema renal e não resistiria aos medicamentos, que são muito fortes, mas durante esse período que lo levei na clínica, ouvi muita conversa sobre a falta de controle da leishmaniose que me assustou", diz.
Ele conta que desconhecia a possibilidade de levar o animal no CCZ, por exemplo, para a coleta de material. "Isso precisa ser divulgado para a população carente, que não tem condição de pagar o exame na rede particular", ressalta.
O empresário conta que seu cão era vacinado contra a leishmaniose, porém sabia que a vacina não oferece proteção total.
Na opinião de Victor, o descaso com o controle de endemias reflete na epidemia de dengue que a Capital e o Estado passam. "Se não fosse a mídia em cima, nem mesmo essas campanhas de conscientização e mutirões estariam sendo realizados", enfatiza.