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Capital

"Sou amigo, não sou patife", diz presidente de clube flagrado na casa de Cezário

Giovani Jolando confirma visita a ex-presidente da FFMS para um abraço no amigo, mesmo proibido pela Justiça

Por Jhefferson Gamarra e Aline dos Santos | 28/08/2024 12:30
Membros do Gaeco na casa de Francisco Cezário, localizada no Bairro Taveirópolis (Foto: Henrique Kawaminami)
Membros do Gaeco na casa de Francisco Cezário, localizada no Bairro Taveirópolis (Foto: Henrique Kawaminami)

Giovani Jolando Marques, presidente do Operário Caarapoense, antigo Operário Atlético Clube de Dourados, se pronunciou após ter seu nome citado nas investigações envolvendo Francisco Cezário de Oliveira, o ex-presidente da FFMS (Federação de Futebol de Mato Grosso do Sul). Cezário, que comandou a entidade por quase três décadas, foi novamente preso pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) nesta quarta-feira (28) sob acusação de manter uma estrutura paralela da Federação em sua própria residência, mesmo após ter sido judicialmente afastado de qualquer função na entidade.

A nova prisão de Cezário ocorreu por ordem do juiz Marcio Alexandre Wust, da 6ª Vara Criminal de Campo Grande. O mandado foi cumprido no contexto de uma investigação mais ampla sobre corrupção e gestão fraudulenta na FFMS, que já havia resultado na prisão temporária de Cezário em maio deste ano, durante a Operação Cartão Vermelho. A operação revelou desvios de aproximadamente R$ 6 milhões da federação, quantia oriunda de repasses do governo estadual e da CBF (Confederação Brasileira de Futebol).

As investigações apontaram que, mesmo afastado, Cezário continuava a exercer influência significativa sobre as decisões da FFMS, inclusive coordenando atividades a partir de sua residência na Vila Taveirópolis, em Campo Grande.

Francisco Cezário sendo conduzido por mebros da força-tarefa do MP (Foto: Henrique Kawaminami)
Francisco Cezário sendo conduzido por mebros da força-tarefa do MP (Foto: Henrique Kawaminami)

Giovani, ao ser questionado sobre sua visita à casa de Cezário no dia 6 de agosto, quando se preparava para a assembleia geral da FFMS, negou qualquer envolvimento com atividades ilícitas e justificou a visita como um gesto de amizade. "O que eu tenho para te falar é que gratidão não tem prazo de validade e não prescreve. Eu tenho uma amizade com o Francisco Cezário, independentemente de qualquer coisa. Se ele errou ou se ele deixou de errar, não cabe a mim julgá-lo", declarou.

Ele também ressaltou que não tinha conhecimento de restrições que impedissem a visita a Cezário. "Eu passei na casa dele para fazer uma visita e vim embora para Dourados. Não sabia que não podia ir na casa dele, eu simplesmente passei lá para ver meu amigo."

O dirigente não poupou críticas a outros membros da FFMS, que, segundo ele, se beneficiaram do apoio de Cezário e agora se voltam contra ele. "E eu tenho lado, você vai me ver do lado de lá ou do lado de cá do muro, em cima do muro jamais. Diferente de certos patifes que hoje integram a Federação. Eu sei que o Francisco Cezário os ajudou muito, e hoje eles o apedrejam. Eu sou diferente desse povo, eu tenho gratidão”, disparou Giovani.

A visita de Giovani a Cezário ocorreu em um contexto de intensa movimentação nos bastidores do futebol sul-mato-grossense. No mesmo dia, Cezário recebeu em sua residência outras figuras de destaque do futebol local, como Ari Silas Portugal, diretor de futebol do Esporte Clube Comercial, Luiz Bosco da Silva Delgado, presidente do Corumbaense Futebol Clube, e Júlio Brant, conselheiro do Vasco da Gama. Brant, que também é consultor de futebol, foi convidado pelo então presidente interino da FFMS, Estevão Petrallás, para assumir uma posição executiva na federação, mas recusou o convite.

O envolvimento contínuo de Cezário nas atividades da FFMS, mesmo após seu afastamento, chamou a atenção do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul). A promotoria enfatizou que Cezário, mesmo proibido judicialmente de exercer qualquer função na Federação, continuava a exercer influência e coordenação de atividades, inclusive realizando viagens ao Rio de Janeiro para tratar de assuntos da FFMS junto à CBF.

A Operação Cartão Vermelho, que levou à prisão de Cezário em maio, revelou um esquema complexo de desvio de recursos na FFMS, incluindo saques frequentes e fracionados de valores inferiores a R$ 5 mil, que, segundo o MPMS, tinham o objetivo de evitar o monitoramento por órgãos de controle. Estima-se que, ao longo de 20 meses, os envolvidos realizaram mais de 1.200 saques, totalizando mais de R$ 3 milhões desviados.

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