"Sustentei minhas filhas", diz "gerente" ao admitir salário de 10 mil do "bicho"
Darlene nega, porém ter posição de chefe da organização que foi revelada na Operação Omertà
Em coletiva de imprensa na manhã desta quarta-feira (19), no escritório do advogado José Roberto Rodrigues da Rosa, na Rua Senador Ponce, Darlene Luíza Borges, conhecida como Dadá e apontada como gerente do jogo do bicho, admitiu que trabalhou na função durante 30 anos, e diz ser a pessoa "mais injustiçada da face da terra".
Ontem, desembargadores do TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul) decidiram pelo retorno dela à prisão. Ela é ré na operação Omertá, força-tarefa atuante desde 2019 contra o crime organizado.
Chorando, na companhia da família e do advogado de defesa, Darlene afirma nunca ter cometido crime nenhum, nem participado de nada “dessas coisas”, se ferindo ao grupo de milícia armada suspeita de várias execuções, que surgiu do "bicho", comandada pela família Name.
“Trabalhei no jogo do bicho, sim. Sustentei a minha família, minhas filhas, trabalhando de sol a sol, de domingo a domingo, mas nunca cometi crime nenhum. Nunca participei dessas coisas [milícias]. E falo para vocês, eu nunca vi nada disso. Eu vi só pela televisão".
“Eu não tenho nada, gente. Estou recebendo igual a Casas Bahia, picado. Eu não sou essa gerentona, eu trabalhei muito. Estou voltando para aquele lugar [presídio] e me sentindo a pessoa mais injustiçada da face da terra, não é fácil passar pelo o que eu passei. Não trabalhei para crime, nem para criminoso nenhum. Trabalhei numa contravenção”, diz.
Apesar de dizer que ganhava mais de R$ 10 mil por mês, Darlene afirma que nunca foi uma mulher que gastava dinheiro. “Ia uma vez por mês ao salão. Economizava para cuidar das minhas filhas. Trabalhei para conseguir com dignidade sustentar a minha família”, destaca.
“Nós 30 anos que trabalhei no jogo do bicho, eu sabia que era contravenção e sempre dizia que a partir do momento que fosse crime eu ia largar. Assim que minha loja começasse a dar lucro eu iria largar”. Darlene investiu em semijoias e lingerie para revender.
Ela contou que começou no bicho fazendo faxina, servindo café, conferindo canhotos do jogo até ir para a administração do escritório, para fazer pagamentos de funcionários e despesas da empresa.
Darlene foi presa sob acusação da prática dos delitos de associação criminosa, lavagem de capitais e exploração de jogos de azar. Ela ficou na cadeia até 12 de março deste ano, quando conseguiu decisão de liberdade da parte do juiz Roberto Ferreira Filho, da 1ª Vara Criminal, onde tramitava ação criminal da Omertà.
Inconformado com o despacho favorável à investigada, o Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado) recorreu ao segundo grau, que julgou nesta terça-feira (18) o caso, determinando o retorno da mulher ao regime fechado.
O advogado questiona a 6ª fase da operação, denominada “Arca de Noé”, na qual Darlene foi alvo, no dia 2 de dezembro do ano passado. Ele afirma que a cliente nunca foi gerente do jogo do bicho, nunca chefiou nada, apenas trabalhava no escritório.
Segundo a defesa, o Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado) afirma que o jogo do bicho continua sendo operado por Darlene. "É notório que continua sendo operado, mas é outra família que está no controle. Eles estão comparando a Darlene com o Castor de Andrade (bicheiro famoso que já morreu), como se ela comandasse o jogo do bicho ainda", reclama José.
Rosa vai esperar a publicação do acórdão para, na sequência, ingressar com liminar o STJ (Superior Tribunal de Justiça). Darlene vai ser apresentada na Polinter (Delegacia Especializada de Polinter e Capturas) e ainda hoje deve voltar para Instituto Penal Feminino Irmã Zorzi.