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“Susto que a gente não esquece”, diz mãe de gêmeos socorridos após incêndio

Além dos bebês de 6 meses, dois adolescentes de 11 e 16 anos e uma senhora de 84 anos ficaram internados

Por Geniffer Valeriano | 29/07/2024 18:33
Dejanira segura sua filha, Ana Alice, no colo (Foto: Osmar Veiga)
Dejanira segura sua filha, Ana Alice, no colo (Foto: Osmar Veiga)

“Foi um susto, mas um susto que a gente não esquece”, diz mãe de gêmeos de seis meses que precisaram ser socorridos por terem inalado muita fumaça durante incêndio na Aldeia Água Bonita. As chamas atingiram a durante o final da manhã de sexta-feira (26).

Dejanira Pereira Domingos, de 30 anos, conta que quando o viu que o incêndio tinha começado o fogo estava longe e ela não imaginava que chegaria à beira de sua casa. “Antes disso, eu estava aqui, tomando tereré sem saber o que ia acontecer com a gente… Ele [o fogo] chegou rápido por conta do vento”, disse.

A dona de casa, o marido e os filhos de seis meses e 8 anos foram para o abrigo na sexta-feira, mas passaram a noite na Santa Casa após os gêmeos, Benjamin e Ana Alice, terem dificuldade para respirar.

Além do pouco tempo de vida, a preocupação da mãe aumentou, pois os filhos nasceram prematuramente. “O ar já estava tomado de fumaça e os meus filhos inalaram a fumaça e isso prejudicou o pulmãozinho deles. E foi quando a gente vimos que o Benjamin, um dos gêmeos, começou a sentir falta de ar. Eu vi que a respiração dele estava ficando fraquinha e disse para meu marido que vamos levar ele para o hospital”, conta.

Crianças brincam em terreno que teve vegetação totalmente queimada após incêndio (Foto: Osmar Veiga)
Crianças brincam em terreno que teve vegetação totalmente queimada após incêndio (Foto: Osmar Veiga)

A família de Dejanira está retornando para a aldeia nesta segunda-feira (29). Apesar do pensamento otimista, a mãe relata que tem medo que a vegetação que cerca o local volte a pegar fogo. Por morar em um barraco de madeira, a preocupação da dona de casa é dobrada.

“Eu ainda fico na mente com aquilo que aconteceu, porque foi um fogo muito alto, foi um fogo que eu nunca vi na vida. Um fogo alto, alcançando as árvores. Só deu tempo de eu pegar os meus filhos e levar eles para um lugar um pouco arejado, mas não tinha como o ar já estava tomado de fumaça”.

Apesar das chamas não terem atingido o barraco onde a família mora, algumas roupas dos bebês e do marido de Dejanice foram queimadas. “Foi muito desesperador para a gente, eu achei que ia perder tudo, mas graças a Deus eu não perdi, ainda deu tempo de catar as coisas”.

Vitória foi responsável por levar a sua avó para longe das chamas (Foto: Osmar Veiga)
Vitória foi responsável por levar a sua avó para longe das chamas (Foto: Osmar Veiga)

Cenário de guerra -  No barraco de Josinete da Silva, de 33 anos, as chamas ficaram mais distantes, mas o momento do incêndio é descrito por ela como desesperador. Quando as chamas chegaram próximas onde a família mora, apenas a mãe cadeirante, de 84 anos, a filha, de 17 anos, no 9º mês de gestação e os sobrinhos de 11, dois de 5 e outro de 3 anos estavam no barraco.

A matriarca da casa, a idosa de 84 anos, também precisou ser socorrida por conta da fumaça inalada. “Ela inalou muita fumaça, a imunidade dela ficou baixa também e quando chegamos lá ela não estava muito bem”, detalha Josinete.

Vitoria da Silva, de 17 anos, foi a responsável por ajudar a avó e os primos a deixarem a sua casa. “Como estava só nós, o meu primo começou a entrar em desespero e como só tem essa cadeira [de rodas] e ela não empurra bem ele começou a gritar por ajuda, mas estava todo mundo correndo, levando as coisas, aí eu e ele levamos ela”, relembra.

Josinete relata ainda que quando chegou ao local para auxiliar sua família, o cenário encontrado era semelhante ao de uma guerra. “Vinha fogo e tinha muita gente correndo, qualquer coisa que eles viam na frente pegavam tudo”, descreve.

"Achei que tinha perdido tudo", Josiane se emocionou ao lembrar do incêndio (Foto: Osmar Veiga)
"Achei que tinha perdido tudo", Josiane se emocionou ao lembrar do incêndio (Foto: Osmar Veiga)

Desesperador - “Estamos rodeados de fumaça e isso sufoca a gente”, diz Josiane Dias Lemes, de 40 anos. Dos 9 familiares com quem a dona de casa divide o barraco onde mora, apenas o filho de 14 anos precisou ser socorrido.

“A minha filha de seis anos entrou em pânico quando viu e eu só pensei em tirar ela daqui. Foi muito grito, muita correria, muito choro e os homens tentaram tirar tudo o que conseguiram tirar. O meu filho, que tem asma, e o meu marido eles ficaram o tempo todo na fumaça, até aquele fogo todo aquietar”, relembra.

Por conta do problema de saúde do adolescente, o menino passou a noite na UPA (Unidade de Pronto Atendimento) Nova Bahia recebendo oxigênio. “Hoje que ele está melhorzinho, ontem a noite achei que ia ter que voltar porque começou a sangrar muito o nariz e deu também falta de ar”, contou.

“É uma sensação de tristeza, você olha aí tudo pra trás e está tudo queimado. Olho pela janela da minha casa e vejo um cenário de tristeza. Eu fiquei muito triste também porque a minha gatinha de estimação também queimou, ela morreu queimada”.

Natália e Ramon combateram juntos as chamas do incêndio (Foto: Osmar Veiga)
Natália e Ramon combateram juntos as chamas do incêndio (Foto: Osmar Veiga)

Outra adolescente que precisou ser socorrida é a Natália Coronel, de 16 anos, que também ajudou a conter as chamas do incêndio. “Eu inalei muita fumaça, aí cheguei de tarde em casa, tomei banho e começou a me dar muita queimação no meu peito, aí falei para a minha mãe que eu estava com falta de ar”, contou.

Ramon Coronel, de 49 anos, pai de Natália, também esteve envolvido no controle do fogo e afirma que a preocupação deles era ajudar os vizinhos e impedir que as chamas queimassem o seu barraco. “Ninguém esperava por essa, essa foi uma tragédia grande. Quando nós vim aqui jogar água na casa para não pegar fogo”, relata.

Moradores receberam cestas básicas na tarde desta segunda-feira (Foto: Osmar Daniel)
Moradores receberam cestas básicas na tarde desta segunda-feira (Foto: Osmar Daniel)

Ajuda - Nesta tarde, a SAS (Secretária de Assistência Social) e a Defesa Civil esteve na aldeia realizando entrega de água, cestas básicas, colchão e máscaras. Após o incêndio, 47 pessoas foram acolhidas em um abrigo, sendo 19 crianças.

"Nenhum barraco teve dano total, apenas três barraco tiveram dano parcial, mas devido à urgência da hora eles começaram a socorrer as famílias e muitos começaram a jogar água para apagar o fogo, onde perderam o colchão, perderam roupas, então nesse sentido que a gente está realocando eles normalmente", explicou a diretora do Cras (Centro de Referência de Assistência Social) Vida Nova, Adriana Nascimento.

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