Terminais tiveram só maquiagem para compensar isenção de R$ 10 milhões
Consórcio Guaicurus recebeu R$ 10 milhões em isenção para congelar tarifa por seis meses, reformar terminais e instalar novos pontos de ônibus
Quase quatro meses depois de concedida a isenção de ISSQN (Imposto Sobre Serviço de Qualquer Natureza) ao Consórcio Guaicurus – concessionário de transporte coletivo na Capital – as reformas nos terminais de ônibus e instalação de pontos de ônibus cobertos em Campo Grande, contrapartida das empresas para obter o benefício, limitam-se a pinturas e manutenção em alguns dos banheiros nos locais de transbordo.
No último dia 30 de março, o Consórcio Guaicurus obteve isenção de ISSQN durante seis meses. Com a medida, a Prefeitura de Campo Grande deixa de arrecadar R$ 10 milhões em impostos. Em troca, as empresas se comprometeram a manter a tarifa congelada em R$ 3,55 e custear a reforma dos nove terminais de ônibus, além de instalar 100 pontos cobertos.
De acordo com a Prefeitura, até o momento foi realizada manutenção nos banheiros e bebedouros dos terminais Bandeirantes, Aero Rancho, Julio de Castilho, Morenão e General Osório. Contudo, a reportagem do Campo Grande News constatou outra realidade.
Na sexta-feira (21), no Terminal Nova Bahia, dois homens realizam a pintura da fachada. Um deles, identificado como Marcio Mendes, que se classificou como “polivalente”, disse que representa a ‘empresa” contratada pelo Consórcio Guaicurus para fazer as reformas.
De acordo com Marcio, junto a ele trabalham mais dois funcionários, há cerca de três meses, realizando serviços de pintura, hidráulica e elétrica nos banheiros e bebedouros. A equipe de Marcio diz ter realizado reparos nos terminais Guaicurus, Morenão, Aero Rancho, Bandeirantes e atualmente no Nova Bahia, que é o único a ter a fachada pintada até o momento. Nos demais, a pintura nova se restringe aos banheiros.
No Nova Bahia, a reportagem encontrou banheiros bem conservados, mas os bebedouros não passaram por reparos.
Para o guarda noturno Elvis Godoy, de 26 anos, a reforma não passa de uma “maquiagem”. “Acho que poderia melhorar mais. Está sendo investido muito em alguns e em outros pouco. O banheiro aqui não tem espelho, não tem porta. Está limpo, mas não é como outros. Um bom exemplo é o do Bandeirantes, que está bem conservado”. Ele reclama que não há mais guardas nos terminais.
No Terminal General Osório, ao contrário do que informou a Prefeitura, até o momento não houve qualquer reparo. Marcio diz que ele é o próximo a passar pela reforma. Além das pichações, o banheiro masculino está sucateado. Veja o vídeo.
Nos terminais Morenão e Guaicurus a situação é semelhante. Banheiros pintados e bebedouros reformados. A parte onde ficam os encanamentos foi fechada com grades de ferro, para evitar a ação de vândalos.
Para a atendente Clarice Gomes, de 23 anos, “os banheiros são os que precisam de mais cuidado. Falta uma melhor estrutura para deficientes. A porta está sem tranca aqui (Morenão) e o espelho está quebrado. O Guaicurus está do mesmo jeito e olha que foi reformado esses tempos atrás. Os bebedouros estão bons, mas acho que tinham que fazer um menor para as crianças”, avalia.
No Bandeirantes, dos quatro (dois femininos e dois masculinos), apenas dois (um para cada gênero) estavam disponíveis para os usuários, os outros dois estavam trancados e os responsáveis não souberam explicar o motivo. Os que estavam em funcionamento realmente impressionam pela boa conservação. Os bebedouros também foram reformados.
A vendedora ambulante Graziele Ledesma da Silva, 33 anos, conta que há três meses foram feitas as reformas. “Ficou bom. Graças a Deus está tudo conservado. Este terminal é tranqüilo. Mas acho que precisa de guarda, às vez tem vândalos, bêbados que causam confusão. Mas os banheiros estão limpos, grandes, bem estruturados”, declarou.
Procurado para comentar as reformas e instalação dos pontos de ônibus, o Consórcio Guaicurus não respondeu aos questionamentos da reportagem. A Prefeitura informou que até o momento 40 novos pontos cobertos foram instalados na cidade, mas não informou os locais.
O prazo final para conclusão das reformas e até 30 de setembro, quando acaba também a isenção do imposto. A renúncia de receita estimada para o período pode chegar a R$ 10 milhões.