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Capital

Trabalhador caminha 1,5 km para conseguir ônibus em bairro nobre

Linhas foram retiradas na pandemia e não retornaram com a rotina presencial

Por Kamila Alcântara | 18/06/2024 15:49
Ponto de ônibus "desativado" na Rua Pernambuco, entre a Autonomista e Dr. Paulo Machado (Foto: Alex Machado)
Ponto de ônibus "desativado" na Rua Pernambuco, entre a Autonomista e Dr. Paulo Machado (Foto: Alex Machado)

Os trabalhadores de escritórios e empregadas domésticas do Jardim Autonomista, em Campo Grande, estão cansados de percorrer 1,5 km para chegar ao ponto de ônibus mais próximo da região. Em algumas ruas, como a Pernambuco, restaram apenas os tradicionais pontos laranjas de madeira, mas nenhuma linha está disponível no bairro.

Quem precisa trabalhar dentro do quadrante entre a Rua Ceará, Avenidas Mato Grosso, até a Nally Martins e a Rua Santa Bárbara, tem que caminhar até essas vias principais para conseguir um transporte coletivo. Do centro dessa região até a Ceará, por exemplo, é mais de mil metros e, para a Mato Grosso, aproximadamente 800 metros.

Segundo o coordenador  de relacionamento de um dos escritórios no bairro, Aldair Júnior, de 28 anos, diz que as caminhadas em dias de sol até já se acostumaram a enfrentar, mas os dias de chuva ou quando se perde o ônibus são os piores.

“Em dias de chuva temos que nos submeter a carros de aplicativo, que chegam a quarenta reais. É um incômodo coletivo, conversamos com as senhoras que trabalham o dia inteiro nas casas de família, diaristas, e elas também têm que enfrentar essa distância para conseguir um ônibus”, destaca.

Aldair Júnior já chegou a pagar R$40 em carro de aplicativo em dias de chuva (Foto: Alex Machado)
Aldair Júnior já chegou a pagar R$40 em carro de aplicativo em dias de chuva (Foto: Alex Machado)

Outra problemática é que, no inverno, os dias escurecem mais cedo e o Jardim Autonomista possui muitas áreas verdes, pouco iluminadas. “Como mulher, percorrer essa distância é ainda mais tenso à noite. Há relatos de assaltos e abordagem às mulheres que desciam para a Mato Grosso”, conta a auxiliar de comunicação Tamara de Oliveira, 27 anos.

A alternativa é sair todos juntos. “Desde que passou a escurecer mais cedo, saímos em bando até o ponto, para dar a sensação de maior segurança. Também dividimos carro de aplicativo até um ponto com mais opções de linhas”, reforça a auxiliar administrativa Kellen Cunha, de 29 anos.

Pelo aplicativo Moovit (mapa abaixo) é possível ver todo o centro do mapa sem linhas de ônibus, acrescentamos apenas os dois pontos na Rua Ceará. Já na Avenida Mato Grosso há mais pontos, mais fáceis de serem visualizados no Google Maps, com distância média de duas quadras uns dos outros.

Ruas como Pernambuco, das Garças ou Amazonas não possuem linhas de ônibus (Imagem: reprodução Moovit)
Ruas como Pernambuco, das Garças ou Amazonas não possuem linhas de ônibus (Imagem: reprodução Moovit)

Segundo a NTU (Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos), recomenda-se que o distanciamento médio entre paradas seja de 300 a 400 metros nas áreas centrais, de 400 a 600 metros nas áreas intermediárias e de 600 a 800 metros nas áreas periféricas das cidades.

O Campo Grande News entrou em contato com o Consórcio Guaicurus, que administra o transporte coletivo na Capital. Por nota, a empresa esclareceu que “os pontos de ônibus e terminais são bens públicos, de propriedade do Município. Por força da lei, a responsabilidade pela manutenção desses locais é do ente público”.

Ainda segundo a concessionária, “conforme estabelecido no contrato de concessão do serviço de transporte público, o Consórcio Guaicurus é responsável apenas pela operação dos ônibus. Nosso papel é garantir a qualidade do serviço de transporte oferecido à população”.

Na tarde de segunda-feira (17), o Campo Grande News questionou a possibilidade de retorno da linha à Prefeitura, mas até a publicação desta matéria não houve retorno. Para o presidente da Comissão Permanente de Mobilidade Urbana da Câmara dos Vereadores, o vereador professor André Luis (PRD), essa falta de assistência pode ser considerada um descumprimento do contrato de concessão, sem a fiscalização da Agereg (Agência de Regulação dos Serviços Públicos Delegados de Campo Grande).

"Está tudo desorganizado. Em vez de comprar ônibus de boa qualidade, comparam de péssima qualidade, além de diminuírem o número de linhas entre os bairros, agora são principalmente bairro centro. Temos um desmantelamento da política pública de transporte”, critica André.

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