Um ano depois, transferência de famílias resultou em três novas favelas
Em março completa um ano que a prefeitura transferiu 314 famílias da favela Cidade de Deus, próximo ao Dom Antônio Barbosa, para áreas no Bom Retiro, região da Vila Nasser; Canguru; Teruel II e Vespasiano Martins. Um ano depois, nada do planejado aconteceu e, na prática, o que houve foi a transformação de uma favela em outras três na cidade.
À época, a ONG Morhar foi contratada para conduzir a construção de casas, no sistema de mutirão assistido. Nas três primeiras áreas o trabalho foi interrompido, as famílias continuam morando em barracos e vivendo em condições precárias. Apenas no Vespasiano Martins as casas foram parcialmente finalizadas.
“Ali na Cidade de Deus não passávamos tanto aperto. Viemos para cá com a expectativa de termos nossa casa e agora não temos perspectiva de nada”, diz o jardineiro Rogério Carvalho do Carmo, 30 anos.
No Bom Retiro, onde vive Rogério do Carmo com a esposa e mais três filhos, a construção da casas ainda está incipiente. Ocorre que o trabalho, feito em sistema de mutirão assistido seria coordenado pela ONG (Organização Não-Governamental) Morhar Organização Social, que forneceria material e profissionais para orientar que os próprios moradores levantassem a casa.
Rogério do Carmo conta que o trabalho estagnou e ninguém mais apareceu para falar com os moradores. “A nossa situação ficou bem difícil, porque apesar de o bairro ser bom, por outro lado o custo de vida é muito mais alto. Para ter ideia, enquanto um pão custava R$ 0,25 no Dom Antônio, aqui custa R$ 0,50. Sem contar que tínhamos a opção de coletar materiais recicláveis e fazer dinheiro”, aponta.
O vigilante Alex Rodrigues Roges, 29 anos, tem a mesma opinião. “Ali podíamos coletar materiais recicláveis e isso facilitava. Aqui tem muita família que está sem trabalho”, disse. Ele mantém em frente de casa a palavra de protesto que expressou o sentimento da família em agosto do ano passado, quando as obras foram paralisadas e os moradores interditaram parte da Rua Pedro José dos Santos.
“A indignação é a mesma daquela época. Viemos para cá com a promessa de uma casa digna, mas estamos do mesmo jeito, morando em barraco no fundo, porque não há condições de terminar a casa”, lamenta. Ele também divide o barraco com a esposa e três filhos.
Para Jucelene Roas, 21 anos, a situação piora em dias de chuva. “A situação ficou bem precária porque aqui o barraco não é estruturado como era lá, então entra água e fica tudo bem difícil”, diz.
Protesto – Desde meados do ano passado até aqui houve protesto em todos os loteamentos. O mais recente foi na manhã desta segunda-feira (13), quando moradores da antiga favela Cidade de Deus bloquearam a BR-262, no trecho próximo ao aterro sanitário no Bairro Dom Antônio Barbosa. Eles reivindicavam o término da construção de casas nos loteamentos para onde foram transferidas as famílias.
No protesto, os moradores alegaram que enfrentam problemas de constantes inundações dos barracos onde vivem, e solicitaram doações principalmente de colchões. No fim da manhã, o diretor-presidente da Emha (Agência Municipal de Habitação de Campo Grande), Enéas Neto esteve no local e disse que sua missão era vistoriar as condições dos barracos e avaliar o que a prefeitura pode fazer emergencialmente pelos moradores.
Revisão – A Emha informou que o contrato firmado com o município está sendo revisado e ainda não há prazo para uma definição. A situação contratual para a construção de moradias nas quatro áreas designadas para o reassentamento dos moradores da Cidade de Deus será auditado.
Além disso, a Emha também informou que medidas para solucionar, o mais rápido possível, a situação dessas famílias estão sendo estudadas juntamente com o Governo do Estado.
Quanto à situação de inundações, ainda segundo a empresa, equipe será designada para fazer o rebaixamento da rua, formando, assim, um leito de escoamento para que não entrem mais as águas nos lotes. A expectativa é fazer este trabalho ainda nesta semana.