Vídeo e áudios da manhã que menino quebrou a perna mostram agressividade de pai
Vigilante foi preso por maus-tratos após menino de 4 anos dar entrada em UPA com fêmur fraturado
Vídeo e áudios ajudam a compreender um pouco do temperamento do vigilante noturno, de 29 anos, preso por quebrar a perna do filho de 4 anos durante “surra”. Ele é conhecido por familiares e vizinhos pela agressividade.
Esse cara é um mostro. Não é a primeira vez que ele agride as crianças”, resume pessoa da família, com quem a reportagem conversou.
Na primeira gravação a qual o Campo Grande News teve acesso, ele grita com o filho mais novo, de 2 anos, enquanto carrega o mais velho no colo. Pouco tempo depois, a ex-mulher recebe mensagens do homem, também aos berros.
As imagens das câmeras de segurança de um comércio localizado a poucos metros da creche onde as crianças estão matriculadas mostram o momento que o pai passa pelo local com o menino que se feriu no colo, na manhã de terça-feira (12), segundo a versão dele, minutos depois de ter empurrado o garoto que caiu de uma rede, e, de acordo com o depoimento de uma testemunha, logo após o vigilante ter chutado o filho com tanta força, que o fez sofrer fratura no fêmur (osso localizado na coxa). Às 6h46, ele grita: “Vem (...)*, vamo [sic]!”.
Embora a reportagem tenha de preservar a identidade das crianças – por isso, o rosto do menino ferido no colo do pai aparece borrado – é possível ver pela feição que o garotinho chora. O filho menor caminha logo atrás, atravessa uma rua e sobe sozinho alguns degraus. Cerca de 1 minuto depois, às 6h47, o áudio da câmera de segurança ainda capta o homem gritando. Dois rapazes que passam por ele se assustam e olham para trás.
Os berros dados pelo homem preso por maus-tratos também chocam nos áudios que foram enviados por ele à mãe da criança, no mesmo dia, aparentemente, quando o pai tenta comunicar que o filho não está bem e precisa de socorro médico. Irritado porque a mulher não atende suas ligações, ele grita: “você nunca pode atender o celular” e diz que o filho “está ruim, está mal” e “não pode contar com você para nada”. Ouça:
O homem foi preso na manhã de terça-feira (12), logo após chegar com o filho a UPA (Unidade de Pronto Atendimento) da Vila Almeida. Ele, em primeiro momento, alegou que a criança havia caído de uma rede.
Após discutir com a mãe do garoto no posto de saúde, a desconfiança da equipe médica, que acionou a GCM (Guarda Civil Metropolitana) e, posteriormente, a PM (Polícia Militar), o vigia se sentiu pressionado e confessou agressão, alegando, contudo, situação mais branda.
Versão do pai – Levado para a DEPCA (Delegacia Especializada de Proteção à Criança e ao Adolescente), ele disse que está separado da mulher e “cuidando” dos dois filhos – o mais velho, que ficou ferido, e o mais novo, de 2 anos – há 10 dias. Na manhã desta terça-feira, as duas crianças estavam no quarto e brigavam por um celular, segundo ele. No cômodo, há uma cama de casal, uma infantil e uma rede entre as duas.
O pai afirma que o filho de 4 anos estava na rede e que ele o empurrou, acertando-o na cabeça, para que não pegasse o celular do irmão. A criança se desequilibrou e caiu sobre a proteção lateral da cama infantil, ficando com meio corpo para fora. O menino reclamou de dor, mas o homem alega que acreditou ser birra.
O vigilante narrou ainda que como as crianças estavam prontas, decidiu levá-las para a creche. O menino ferido foi chorando e em determinado ponto, o pai diz que colocou na calçada, as crianças voltaram a brigar e ele empurrou o filho novamente, acertando-o na cabeça. O pai relatou ainda que, neste momento, “cutucou” o menino com o pé para que ele levantasse.
O homem afirma que seguiu até a creche, deixou o outro filho e voltou para casa com objetivo de levar o mais velho até a UPA, porque ele não parava de chorar e reclamar de dor.
Histórico de violência – Além do depoimento da testemunha contradizer o que alega o pai, conforme apurado pelo Campo Grande News, não é a primeira vez que o vigilante é violento com os filhos e a mulher. Ele e a mãe das crianças já se separaram várias vezes e ela já o denunciou por violência doméstica.
Além disso, a própria direção da unidade escolar, onde a vítima estuda desde os 2 anos e o irmão foi matriculado no ano passado, recebeu na terça-feira (12) denúncia que o aluno era vítima de agressões e, imediatamente, informou a assistente social da UPA.
De acordo com a Semed (Secretaria Municipal de Educação), a Emei (Escola Municipal de Educação Infantil) já havia feito registros internos “devido à situação que as crianças chegavam ao local”. Além disso, encaminhou a mãe dos meninos para a Casa da Mulher Brasileira, após ela revelar ter sido agredida pelo marido, em março do ano passado.
“As crianças nunca chegaram [à creche] com hematomas ou ferimentos de violência. Foram 7 atas registradas na escola, onde estão relatadas turbulências referente ao relacionamento conjugal do casal e questões comportamentais dos adultos”, explica a nota da Secretaria.
O Conselho Tutelar também já foi procurado pelo casal várias vezes, sempre que os dois brigavam. Conforme já noticiado pelo Campo Grande News, há registros de atendimentos à família desde 2022, mas segundo a conselheira Sandra de Souza Szablewiski, nunca houve denúncias de agressões praticadas contra as crianças. “No dia 27 de fevereiro, este pai procurou o Conselho Tutelar, alegando que a mulher havia ido embora de casa levando os filhos e queria a nossa intervenção. Nós o encaminhamos para a Defensoria Pública, para que providenciasse o pedido de guarda”.
Preso por tempo indeterminado – O pai do menino responderá por maus-tratos e lesão corporal grave preso, já que durante audiência de custódia, na manhã desta quinta-feira (14), ele teve a prisão em flagrante convertida em preventiva, ou seja, sem prazo para terminar.
Enquanto isso, o garotinho se recupera de cirurgia. A reportagem apurou que a operação aconteceu ainda na noite de terça-feira na Santa Casa de Campo Grande e durou cerca de 4 horas. Para corrigir fratura no fêmur (osso da coxa), foi preciso colocar pinos. O menininho teve alta na tarde desta quinta-feira (14), mas ficará 120 dias sem andar.
(...)* O homem cita o nome do filho mais novo, que foi omitido em respeito ao que determina o ECA (Estatuto da Criança e do Adolescente).
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