Vizinhos fazem abaixo-assinado pedindo "remoção" de moradores do "Carandiru"
Vizinhança garante que só quer ajudar, mas morador de residencial não acredita
Moradores do bairro Mata do Jacinto, em Campo Grande, começaram um abaixo-assinado para reivindicar a saída dos moradores do Residencial Atenas, conhecido como "Carandiru". Eles vivem em três blocos inacabados localizados na Rua Jamil Basmage e este ano foram alvos de operação contra crimes na região. Os moradores do residencial nem querem comentar a mobilização dos vizinhos, mas quem fala diz que naõ acredita em ajuda.
Obra da Construtora Degrau Ltda., o Residencial Atenas foi ocupado de forma irregular por dezenas de famílias. O local foi invadido há quase duas décadas, após a falência da construtora. A área total do terreno é avaliada em R$ 12,7 milhões.
Apesar do abaixo-assinado citar apenas possibilidade de "remoção e realocação de todos os residentes", ao ser questionado pelo Campo Grande News, o representante do grupo Guardiões da Região Prosa, Elias Camilo, deu outra versão. Falou que a mobilização é para chamar atenção das autoridades para a urgente necessidade de "reforma e regularização dos três blocos inacabados".
Precisam realizar uma reforma ali, não deixar da forma que tá. Queremos ajudá-los. Tem muitas famílias ali, com idosos e crianças. Acreditamos que podemos obter muito apoio até o prazo estabelecido para a entrega do abaixo-assinado", comenta Elias.
De acordo com Elias, a ideia surgiu depois que incêndio acabou favela do Mandela, outra invasão. O local está com problemas de infraestrutura graves, com risco de desabamento. "Lá vaza água, os degraus balançam, o reboco está caindo. É uma situação caótica. Precisam realizar uma reforma ali, não deixar da forma que está. Não podemos esperar que aconteça uma nova tragédia, como foi com o Mandela”.
Até o momento, cerca de 500 pessoas assinaram o documento. Segundo Elias, a pretensão é entregar o documento à Prefeitura e ao Ministério Público em janeiro de 2024. “É importante deixar claro que a atual construção não apresenta mais condições adequadas para moradia. Que desmanche e faça um condomínio novo ou dê outro lugar com segurança para aquelas famílias”.
Elias também aponta que a iniciativa do abaixo-assinado foi apresentada para alguns moradores do residencial inacabado. “Foi falado sobre o assunto sim. Entretanto, nem todos desejam sair daquele local, eles têm medo de deixar o lugar e perder suas casas”.
No domingo (18), o único morador do "Carandiru" que aceitou falar, não quis se identificar. Ele disse que não foram informados sobre a mobilização e que não acredita na boa intenção dos vizinhos da Mata do Jacinto. “A gente acha que é mentira, eles querem tirar a gente daqui”. O morador também informou que um advogado orientou a não falar com a imprensa.
Nenhuma das famílias que estavam em frente ao condomínio quis conversar, além do morador que concedeu um relato, sem se identificar.
Além disso, a reportagem tentou contato com a prefeitura para saber a situação fundiária do local e se há pretensão de regularizar a situação dos moradores. Entretanto, até o fechamento desta matéria, não obteve resposta. O espaço segue aberto.
Ocupação - A história do "Carandiru" iniciou há 18 anos, quando três blocos inacabados de 16 apartamentos foram invadidos após a falência da Construtora Degrau. Segundo a advogada da massa falida, Hilda Priscila Corrêa Araújo, a extensão desde a parte que já está construída até a inacabada é de 8.500 m². Já o metro quadrado por imóvel na região fica em torno de R$ 1,5 mil, o que no fim das contas resulta no valor milionário.
Ainda conforme a representante da empresa, a obra do antigo condomínio Atenas, agora conhecido como “Carandiru”, paralisou no início de 2002, pouco depois de a empresa entrar em crise financeira.
No dia 3 de outubro de 2005, cerca de 40 famílias, que somam mais de 200 pessoas, ocuparam o local. “Não tinha privada, não tinha fiação elétrica, o último bloco não tinha o 3º andar, a obra estava com 60% concluída, é muito pouco. O estado precário é real, o prédio não tinha condições de habitabilidade, é um risco”, afirmou a advogada Hilda Priscila Correia Araújo, representante legal da Construtora Degrau Ltda, ao Campo Grande News.
No dia 6 de junho, a Operação “Abre-te Sésamo” da Polícia Civil cumpriu mandados de busca e apreensão em 46 apartamentos nos 3 blocos inacabados. Naquela manhã, mais de 200 policiais, totalizando 321 agentes da polícia, perícia, assistência social e bombeiros, surpreenderam os moradores.
Durante a operação, pelo menos 10 pessoas foram presas na ação policial. Além de buscar alvos ligados a furtos e roubos na localidade, também foram enviadas equipes do Corpo de Bombeiros, Defesa Civil, Energisa e assistência social do Município para averiguar as condições dos imóveis e das famílias que ali residem. Naquele dia, as ruas ao entorno do condomínio foram fechadas.
Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News.