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Cidades

Desemprego e brasiguaios inflam acampamentos e dão fôlego a MST

Aline dos Santos | 03/05/2015 08:37
Mega acampamento foi montado na fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai (Foto: Divulgação)
Mega acampamento foi montado na fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai (Foto: Divulgação)
Famílias sem-terra montam acampamento em Japorã (Foto: Divulgação)
Famílias sem-terra montam acampamento em Japorã (Foto: Divulgação)

Desemprego, migração de brasiguaios, segurança. As diversas explicações são para um mesmo fato: o crescimento de sem-terra em acampamentos de Mato Grosso do Sul. O aumento vem acompanhado de um cenário de paralisia da reforma agrária.

Um dos três maiores do Estado, o MST (Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra) sente os ventos que levam mais pessoas a buscar fixação no campo. O grupo tem, atualmente, 2.500 famílias. No pico da luta pela terra, entre 2002 e 2007, o MST já representou 7 mil famílias

“Vai aumentando. Vai passando os anos, tem desemprego. A pessoa vai para onde se não tem dinheiro para o aluguel? E se não faz reforma agrária a tendência é aumentar”, afirma Jonas Carlos da Conceição, da direção estadual do MST.

Localizado em Japorã, o maior acampamento de Mato Grosso do Sul tem 1.500 famílias e reflete a vinda dos brasiguaios, que foram expulsos pelo movimento campesino no Paraguai. No município, que fica na região de fronteira e tem raquítico índice de desenvolvimento social, o acampamento abriga mil famílias oriundas do país vizinho. Os brasiguaios são filhos de brasileiros, mas nasceram no Paraguai.

“Viveram 30,40 anos lá e o governo não toma posição. São expulsos, sem ter onde morar”, diz Jonas. Segundo ele, o acampamento acaba cumprindo o papel que era do governo, de dar melhores condições de vida. “Fazer a luta para reivindicar que seja tomada providência”, salienta. O MST tem 8 mil famílias assentadas.

Coordenador do setor rural da CUT (Central Única dos Trabalhadores), Francisco Militão Sampaio avalia que o movimento não cresce só em números, mas em representatividade. Segundo ele, além dos tradicionais CUT, MST e Fetagri (Federação dos Trabalhadores na Agricultura), há cinco novos grupos.

“Ultimamente, está voltando [ a crescer]. Está aumentado agora. Há cinco anos deu uma paralisada grande, mas vem aumentando num fluxo bem rápido”, diz Francisco.

Ele explica que a CUT, apesar de ter acampamentos na região Sul, não atua com brasiguaios. Na sua análise, a procura pela zona rural está relacionada à segurança. “A questão é que a pessoa se sente mais segura no campo, é mais tranquilo. Apesar da dificuldade de produção, tem mais segurança”, afirma,

A CUT tem 800 famílias acampadas nos municípios de Nova Alvorada do Sul, Nova Andradina, Dourados, Rio Brilhante, Ponta Porã, Anastácio e Dois Irmão do Buriti.

Patina - Se por um lado a procura aumenta, por outro, a reforma agrária patina há anos no Estado. As lideranças afirmam que falta de tudo no Incra (Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária), órgão federal responsável pelo setor. As maiores queixas são deficiência de quadro técnico e ingerência.

“A gente vem se reunindo todo mês com a superintendência, mas não avançamos além do cafezinho que toma lá. Parece que está tudo resolvido, mas passa meses, anos. O Incra não tem planejamento, não tem cronograma de trabalho e pouco servidor”, diz Jonas Carlos da Conceição, da direção do MST.

Segundo ele, a situação penaliza os assentados. Há caso de pessoas que receberam lotes há sete anos e ainda não receberam o contrato de concessão de uso. O problema acontece em Japorã, no assentamento Jacob Carlos Franciosi, antiga fazenda Princesa do Sul.

“A maioria exerce alguma atividade para consumo, mas é impossibilitado de comercializar, nem energia elétrica tem no lote”, relata Jonas. O MST tem 170 famílias no assentamento.

De acordo com ele, a paralisia na reforma agrária, que ocorre há cinco anos, já resultou em devolução de recursos do Incra ao Tesouro Nacional por falta de utilização.

“Estamos tentando dialogar com o Incra nacional para mudar a realidade. Foram apresentadas para o Incra mais de 20 áreas, algumas até vistoriadas e ainda não pagou”, afirma o dirigente.

A falta de servidores no Incra também é apontada pela CUT. “Falta estrutura, se desloca equipe para uma região, falta para outra. Várias pessoas aposentaram, passaram em concurso, mas você não vê concurso novo. A questão é de pessoas para trabalhar”, avalia Francisco Militão.

Conforme a assessoria de imprensa do Incra, na região entre Nova Alvorada do Sul e Bataguassu, na divisa com São Paulo, foram analisadas 17 fazendas, sendo cinco com processo prontos e sendo analisados em Brasília. Também é aguardada a liberação de recursos.

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