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Cidades

Em comunidades indígenas de MS, médico agora só vai uma vez por mês

Situação que já era precária piorou depois da saída dos profissionais cubanos ligados ao programa mais médicos

Izabela Sanchez | 14/01/2019 11:38
Crianças na comunidade indígena Kurussu Ambá, em Coronel Sapucaia (Foto: Divulgação/Cimi)
Crianças na comunidade indígena Kurussu Ambá, em Coronel Sapucaia (Foto: Divulgação/Cimi)

Em Mato Grosso do Sul, comunidades indígenas não são atrativos para os médicos. É o que indicam as vagas não preenchidas pelo programa Mais Médicos, que aguarda a chegada de profissionais desde o fim da parceria entre Cuba e Brasil, que mandou embora 114 profissionais de Mato Grosso do Sul. No estado, os locais que mais precisam de profissionais são os municípios que atendem as comunidades indígenas.

Mato Grosso do Sul, apesar de abrigar a segunda maior população indígena, possui apenas um Dsei (Distrito Sanitário Especial Indígena), que coordena 14 polos base – unidades de saúde indígena – em todo o estado. Coordenador do Dsei, Fernando Souza afirma que das 11 vagas disponíveis nos polo, apenas 4 foram preenchidas após a saída dos profissionais cubanos.

Conforme explicou, a situação mais crítica é na região sul, em especial no município de Paranhos, Tacuru, Amambai e Antônio João. “Além dos médicos do mais médicos, temos médicos por meio de convênio com uma organização não governamental, não está totalmente sem médico, mas o número não atende totalmente. Em Amambai temos dois do mais médicos e três contratados pelo sistema de convênio, não dão conta de atender toda a população indígena”, explica.

O polo base de Amambai atende três municípios. Além de Amambai, são contemplados pelo atendimento Coronel Sapucaia e Aral Moreia. No momento, 4 médicos atendem cinco aldeias e dois acampamentos indígenas. Coordenador técnico do polo, Elizeu Alexandre Junior declarou “não saber se as vagas serão preenchidas”.

“Estamos na expectativa. Tivemos bastante vantagem com eles [médicos cubanos], os últimos 3 que vieram foram médicos bem jovens, bem dispostos a ajudar, tinham boa comunicação em português e eles já estavam bem familiarizados com a comunidade. A saída prejudicou bastante, estamos há dois meses aguardando”, comentou.

Elizeu explica que uma das dificuldades é o atendimento aos pacientes com tuberculose, além da mortalidade infantil. Ele aponta que em 2018 foram 20 caos de mortes de crianças menores de cinco anos. Série histórica do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) aponta Amambai como o 5º município com maior taxa de mortalidade infantil em Mato Grosso do Sul: 27.38.

Médico uma vez por mês – Segundo o técnico, os médicos que visitaram as comunidades indígenas, em acampamentos, uma vez por semana, agora só vão uma vez por mês.

“O acompanhamento fica prejudicado. Nossos indicadores não fecharam bem em 2018. Nosso polo não teve só falta de médicos, tem a questão de hiv, das gestantes de alto risco. Nessas áreas, na verdade o atendimento já é mínimo, é uma vez por semana, agora só tem médico uma vez por mês. A população reclama. Estamos sofrendo”, conta.

Os polo base costumam atender vários municípios. O polo de Antônio João, por exemplo, também é responsável pelo atendimento em Ponta Porã e Bela Vista, em 4 aldeias e áreas de retomada. Liderança de uma das áreas ainda não homologadas na região, Kurussu Ambá, o Guarani-Kaiowá Elizeu Pereira Lopes explica que um dos problemas é o atendimento de urgência.

Esse atendimento, explica, é prejudicado pela distância da comunidade, na região de Coronel Sapucaia, do polo base de Amambai. Para “remediar” a falta de atendimento, conta, os índios recorrem ao uso de plantas medicinais.

“Como tem a distância do polo amambai, as condições são longe. Agora como isso aconteceu [saída dos médicos cubanos] está mais complicado, isso não é só nas retomadas, em toda a parte isso está acontecendo. Alguns indígenas estão se medicando dentro de casa, fazem uso das plantas medicinais. O mais complicado é a questão de precisar de atendimento mais rápido, chega muito tarde nas retomadas, demora ou vai no outro dia”, explica.

Em Kurussu Ambá, que tem 3 acampamentos a espera de demarcação, a mortalidade infantil é agravada pela condição precária do fornecimento de água. Sem água potável, as crianças são as mais atingidas ao consumirem água de rios, muitas vezes contaminadas.

“O mais necessitado mesmo é a situação de água, de saneamento. Em Kurussu Ambá já perdemos algumas crianças por falta de atendimento, estavam com diarreia e levaram para ser atendidas no outro dia. Muitas vezes é picado de cobra e muitas vezes demora para chegar o atendimento nas aldeias por conta do plantão, e quando a gente liga eles estão em outras aldeias”, relata.

“O atendimento das crianças, também por parte das doenças que pegam é por causa da água, por conta da contaminação da água que bebe, do rio”, complementa. Segundo Elizeu, em dezembro, além disso, a comunidade também registrou óbitos de crianças e adolescentes por suicídio. “Depois que foi cortado esse atendimento médico está faltando”, comenta.

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