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Cidades

Espinha dorsal da segurança, Sigo está falido e pode parar de vez em MS

Luana Rodrigues e Mayara Bueno | 14/09/2016 10:27
Adriano Chiarapa e engenheiros responsáveis pela manutenção do SIGO (Foto: Fernandes Antunes)
Adriano Chiarapa e engenheiros responsáveis pela manutenção do SIGO (Foto: Fernandes Antunes)

Criado em Mato Grosso do Sul, referência no Brasil e para outros países, o SIGO (Sistema Integrado de Gestão Operacional) pode parar definitivamente de funcionar no Estado. A informação é do criador do sistema, o empresário Adriano Chiarapa, que diz estar há quase dois anos com dificuldades para receber e renegociar seu contrato com o Poder Público e não enxerga o fim da negociação.

O sistema já está há dois meses sem funcionar plenamente. De três dias para cá, não opera de jeito nenhum.

Os problemas no sistema começaram há 21 meses, quando o contrato venceu e houve a falta de pagamento à empresa campo-grandense Compnet, responsável pela ferramenta. “Não entendo mais o que o governo quer, estou há meses tentando chegar a uma conclusão favorável, mas isso não acontece. Dispensamos praticamente todos os funcionários e vou decretar o fim da empresa aqui no Estado”, afirma Chiarapa.

Do outro lado, o secretário estadual de Justiça e Segurança Pública, José Carlos Barbosa, diz que está negociando e prevê até o fim do mês fechar o contrato. “O governo está trabalhando para recontratar a empresa. Dependia de um parecer da PGE (Procuradoria Geral do estado), que já está pronto, é favorável, mas contém algumas observações que vão ser sanadas”, afirma.

O empresário diz que não se convence com essa informação do secretário. “Não há mais o que ser feito. Porque todas as condições que eles impuseram nós fizemos, o contrato caiu pela metade, de R$ 1,7 milhão para R$ 760 mil, o que mais podemos fazer? Acho que o motivo para isso tudo é outro, mas não consigo entender”, rebate.

O secretário nega motivos ocultos e diz que são só questões burocráticas. “Herdamos esse problema do outro governo e estamos tentando resolver. Se a empresa quiser desistir, nós vamos buscar outra alternativa. Tem alternativas, uma delas é o próprio SGI (Sistema de Gestão Integrada) do Governo”, ressalta.

Sistema está fora do ar desde o início da semana. (Foto: Reprodução)
Sistema está fora do ar desde o início da semana. (Foto: Reprodução)

Corpo da segurança - Elaborado há 19 anos em Mato Grosso do Sul, o SIGO funciona como um "corpo". O programa reúne todos os órgãos de segurança pública, desde a Polícia Militar, Polícia Civil, Corpo de Bombeiros, Departamento de Trânsito até Agência Penitenciária, Defesa Civil, Guarda Municipal e Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência).

Com a plataforma é possível acompanhar as áreas da cidade onde estão sendo registrados os maiores números de ocorrência, ver o tempo médio de atendimento nas delegacias e acompanhar quais são os tipos de casos que estão em andamento.

O acesso às informações é dividido em sete níveis de segurança, dando ao governador e o secretário de Segurança Pública os mais altos. A tecnologia permite também acompanhar a quantidade de carros roubados que estão na chamada "situação de busca e até mesmo o desempenho dos policiais pode ser analisado.

O SIGO já foi vendido por até R$ 9 milhões, mas na época em que contratou os serviços, Mato Grosso do Sul adquiriu a tecnologia por R$ 238 mil, contou o proprietário da empresa. “Se colocar na ponta do lápis, o custo que se tem com o sistema é muito menor do que sem ele”, garante Chiarapa.

Registro de crimes é feito em livro, método considerado "arcaico" pelos policiais. (Foto: Divulgação/ Sinpol)
Registro de crimes é feito em livro, método considerado "arcaico" pelos policiais. (Foto: Divulgação/ Sinpol)

Método arcaico - Com o problema no sistema, escrivães tem que registrar os boletins de ocorrência de forma arcaica e inadequada, segundo o Sinpol/MS (Sindicato dos Policiais Civis de Mato Grosso do Sul). “Isso prejudica os depoimentos das vítimas e toda a instrução do inquérito. Também causa lentidão no andamento do processo e no tempo de resposta à população”, informa Giancarlo Miranda.

E em programas de texto do computador, que os policiais registram as ocorrências e arquivam em pastas. Enquanto isso, as investigações de crimes praticamente param.

“Todos os trâmites relacionados às investigações são feitos no sistema, que na teoria tem que agilizar e normatizar os procedimentos. No entanto, o sistema está engessado e vários recursos não funcionam, como autos de prisão em flagrante, impressão de capas de inquéritos policiais. Também há bagunça nas numerações dos boletins, o que causa confusão nas delegacias”, protesta Giancarlo.

Segundo o sindicalista, a situação prejudica, principalmente, a população, que leva de duas a quatro horas para registrar boletim de ocorrência nas delegacias. Já situações como extravios e furtos simples, que antes podiam ser registradas por meio da Delegacia Virtual, agora não podem mais.

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