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“Pensei em me matar”, diz acusado de estupro que não aconteceu

Acusado de estuprar estudante em campus universitário, homem ficou um mês na cadeia por um crime que não cometeu e agora promete processar o Estado e a ex-namorada

Helio de Freitas, de Dourados | 31/05/2016 18:01
Mesmo inocente do crime de estupro, homem teme seu rosto estampado na imprensa (Foto: Eliel Oliveira)
Mesmo inocente do crime de estupro, homem teme seu rosto estampado na imprensa (Foto: Eliel Oliveira)
Acusado disse que implorou para não ser levado para presídio (Foto: Eliel Oliveira)
Acusado disse que implorou para não ser levado para presídio (Foto: Eliel Oliveira)

Um homem de 36 anos trabalhava na tarde de 4 de abril deste ano quando policiais civis chegaram ao local e o levaram algemado para uma cela da Delegacia de Atendimento à Mulher, em Dourados, cidade a 233 km de Campo Grande. Cumprindo pena no regime semiaberto por furto e roubo e respondendo a processo por porte de droga, ele dorme na cadeia e trabalha durante o dia, mas naquele momento não fazia ideia sobre o motivo de mais uma prisão.

Apenas durante o interrogatório, feito pela delegada da Mulher, Paula Ribeiro dos Santos Oruê, o acusado ficou sabendo que estava sendo acusado de estuprar uma estudante universitária, em pleno campus de duas universidades públicas. E o mais chocante: a suposta vítima era uma ex-namorada, que ele tinha conhecido em 2014 e com quem teve um namoro de uma semana.

O douradense é o mais recente, mais emblemático e mais conhecido caso de injustiça envolvendo denúncia de estupro, mas não é o único.

De dentro da cela onde ficou trancafiado por um mês por um crime que não cometeu, ele não viu, mas ficou sabendo das agressões, ameaças e atos de preconceito contra seus familiares por ele ter supostamente estuprado a universitária de 25 anos. Até sua mulher e seu irmão foram ameaçados na rua.

Esse crime ele não cometeu, pois a história do estupro foi uma grande mentira inventada pela suposta vítima para esconder um encontro sexual que ela teve naquele dia com um homem casado.

Pensou em se matar – Autuado em flagrante, o homem implorou para não ser mandado para a PED (Penitenciária Estadual de Dourados), porque temia ser assassinado por colegas de cela, por ser um suposto estuprador. Bandido não suporta estuprador. Quando descobrem o crime, os outros presos geralmente cometem violência sexual contra o acusado e o matam em seguida.

“Pedi pelo amor de Deus para não ir para a Phac por um crime que eu não cometi e disse que se fosse condenado por isso eu ia tirar a minha vida”, afirma o homem, que trabalha em uma empresa de prestação de serviços que mantém convênio com o presídio semiaberto.

Ele foi levado para uma cela da 1ª Delegacia de Polícia, onde ficou preso até o início de maio. Inicialmente pelo suposto estupro e depois por quebra de regime. Como estava preso, deixou de pernoitar no semiaberto e o juiz da Vara de Execuções Penais suspendeu o benefício.

Protesto – Só depois que deixou a cela e voltou ao regime semiaberto, ele ficou sabendo do que falaram dele nas redes sociais. Ficou sabendo que teve seu nome divulgado em meios de comunicação mesmo diante da falta de provas de que havia cometido o crime. Também foi alvo de um protesto de estudantes universitários, que pararam o campus para pedir mais segurança.

“Eu podia ter sido linchado na rua, podia ter sido morto na cadeia por um crime que não cometi. Cometi meus erros e estou pagando por eles, mas jamais estupraria alguém com duas facas na mão, como fui acusado”, afirma.

Mesmo inocente, ele ainda teme sofrer represália nas ruas e pede para suas fotos e seu nome não serem divulgados.

Antecedentes – Afirmando estar “regenerado” e trabalhando para pagar pelos erros que cometeu, o homem foi condenado pela primeira vez em 2012, por roubo majorado. Em 2014 pegou outra pena, por furto. Somados, os dois crimes lhe renderam nove anos de reclusão, que depois foram reduzidos para sete anos e nove meses.

Ele diz que ficou cinco anos em regime fechado e ainda tem dois para cumprir em regime semiaberto. Se fosse condenado pelo estupro, perderia o benefício e, além da pena por esse crime, ainda teria da cumprir o restante da primeira pena em regime fechado.

Namoro não foi para frente – Atualmente casado com outra mulher, “que quase perdi por ser acusado de uma coisa que não fiz”, ele conta que conheceu a estudante que o acusou de estupro em 2014, quando já cumpria pena em regime semiaberto e trabalhava durante o dia para uma prestadora de serviços contratada pela universidade.

“Ela se aproximou de mim, quis saber da minha vida, acabei me interessando por ela. Foi um namoro de uma semana. Até com o pai dela eu falei, disse do meu interesse. Ele falou que ela estava estudando, que ia se formar e pediu para eu cumprir minha pena primeiro e esperar ela se formar”, conta.

Segundo ele, na época, o relacionamento dos dois chegou ao conhecimento da reitoria – os dois eram vistos conversando frequentemente, ela levava café e suco para ele – e o detento acabou sendo punido disciplinarmente no presídio por se envolver com a universitária. Depois disso, afirma que nunca mais falou com a ex-namorada.

Nesta terça-feira, a advogada dele, Cristina Oliveira, disse ao Campo Grande News que a ação contra o Estado de Mato Grosso do Sul e contra a estudante que fez a denúncia do falso estupro está sendo preparada e será encaminhada ao Poder Judiciário nos próximos dias.

Sexo com homem casado – No dia 5 de maio, a delegada Paula Ribeiro dos Santos Oruê, o delegado regional de Polícia Civil Lupércio Degerone e os reitores da Uems (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul), Fábio Edir dos Santos Costa, e da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados), Liane Calarge, concederam uma entrevista coletiva para anunciar que o estupro foi uma mentira.

A história foi inventada pela estudante, que cursa letras na Uems (Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul), para esconder que tinha feito sexo com um homem casado. Para proteger a identidade do parceiro, ela culpou o ex-namorado.

De acordo com a delegada, a estudante praticou sexo com o homem casado no prédio da antiga biblioteca municipal, na Praça Antonio Alves Duarte, área central da cidade, próximo ao terminal de transbordo, onde os universitários pegam o ônibus para chegar ao campus.

Como era virgem, a universitária apresentou sangramento e chegou em casa com as roupas sujas. O fato chamou a atenção da mãe, que quis saber o que tinha ocorrido. Como não podia contar a verdade, a estudante culpou o ex-namorado.

Segundo a delegada, como as provas, principalmente laudos periciais, não corroboravam a versão de estupro, e sentindo-se pressionada pela família, a estudante foi chamada para novo depoimento na delegacia e confessou que tinha inventado a história.

Chamado para prestar depoimento, o homem confirmou a história e disse que o ato sexual foi consentido.

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