Após passar 50 dias em barraco de fazenda, indígena denuncia trabalho escravo
Caso envolvendo condições degradantes foi encaminhado ao MPT
O barraco onde morou por 50 dias, já abrigou gente por mais de 50 anos. É o que diz a denúncia de indígena sobre as condições degradantes de trabalho oferecidas na Fazenda Morrinho do município de Miranda, distante 202 quilômetros de Campo Grande. O caso foi encaminhado ao MPT (Ministério Público do Trabalho) e será investigada.
Conforme o indígena, além dele, outro rapaz executava o serviço de instalação de cerca entre os meses de março e abril deste ano. Este mora no barraco. “Antes, o pai dele, que morreu há dois meses, morou lá por 52 anos”, relatou.
O local oferecido como abrigo não tem luz, nem água, é de chão batido e, para cozinhar, é preciso lenha.
A falta de infraestrutura não era o único problema. A execução do trabalho era acompanhada de episódios de humilhação e assédio moral.
Durante o tempo em que estavam na fazenda, os trabalhadores não foram autorizados a ir até a cidade visitar os familiares. A justificativa era aumentar as chances de contrair o coronavírus. A remuneração também foi feita abaixo do combinado.
Os dois não seriam os únicos a serem mantidos nesta situação na propriedade. Outros quatro indígenas estariam trabalhando e sendo abrigados em um antigo barraco de madeira, também sem luz ou água.
Ex-vereador - De acordo com o indígena, a fazenda pertence a família do ex-vereador Ivan Bossay.
Em agosto do ano passado, o TRE-MS (Tribunal Regional Eleitoral de Mato Grosso do Sul) determinou o afastamento da prefeitura de Miranda, Marlene de Matos Bossay (MDB), do vice, Adailton Rojo Alves (PTB), e também do vereador Ivan Bossay (MDB), filho de Marlene.
Segundo o MP, no dia 21 de setembro do mesmo ano, a campanha de Marlene foi acusada de distribuir vales-combustíveis a eleitores também para tentar cooptar votos. Em operação policial, foram apreendidos 39 tíquetes de abastecimento em um posto de combustíveis da cidade e registros de câmeras de segurança.
A reportagem do Campo Grande News entrou em contato com Ivan Bossay. Ele negou que o fato tenho ocorrido em propriedade da família. "Acho que há um equívoco sobre o assunto. Jamais tivemos qualquer problema dessa natureza", afirmou via Whats App.
Condições análogas às de escravo - Somente em 2020, o MPT-MS (Ministério Público do Trabalho em Mato Grosso do Sul) atuou em operações conjuntas de resgate a 63 trabalhadores que se encontravam em condições análogas às de escravo em quatro diferentes estabelecimentos, todos eles localizados na área rural do estado.
O número de resgates é 46% superior ao de 2019, quando 43 trabalhadores foram flagrados nestas condições, em seis propriedades rurais.
Em uma das operações, realizada no dia 22 de junho de 2020, 24 trabalhadores indígenas da etnia Guarani Kaiowá, aliciados por um empreiteiro para coletar mandioca em uma fazenda localizada no município de Itaquiraí, foram encontrados submetidos a condições degradantes.
Os outros flagrantes envolveram o trabalho escravo na criação de bovinos e cultivo de soja, e ocorreram em propriedades rurais dos municípios de Corumbá, Nioaque e Porto Murtinho.
(Matéria alteradas às 17H38 para acréscimo de informações)