Com UTI lotada e médicos sem salário, Dourados “empilha” mortes pela covid
Mais quatro pessoas morreram enquanto funcionários de UTI protestam por pagamento
A saúde pública de Dourados chegou ao fundo do poço em plena pandemia do novo coronavírus. A doença se espalha de forma assustadora, com média diária de 172 casos nesta semana e mortes todos os dias enquanto funcionários da linha de frente protestam para receber seus salários.
Pacientes com a forma mais agressiva da covid-19 esperam na fila por vaga em terapia intensiva – com 100% de ocupação até ontem – ao mesmo tempo em que leitos de UTI permanecem desativados. O motivo: a falência financeira da prefeitura que não tem dinheiro para contratar profissionais especializados e comprar insumos e medicamentos.
De segunda-feira (7) até hoje, 691 novos casos da doença foram registrados em Dourados com 12 mortes só nesses quatro dias. Seis eram moradores de Dourados e outras seis residiam em cidades da região, mas morreram nos hospitais douradenses.
De março até agora, 208 pessoas já morreram em decorrência do novo coronavírus nos hospitais de Dourados – 131 moradores locais e 77 pacientes vindos de cidades vizinhas. Com gestão plena dos recursos de saúde, Dourados é responsável pelo atendimento especializado a outros 32 municípios, onde moram 800 mil pessoas.
Foram quatro mortes incluídas na estatística nas últimas 24 horas. Dois pacientes eram da região, mas morreram em Dourados. Um douradense morreu em hospital particular local e uma mulher, também douradense, morreu no hospital de Naviraí, mas o óbito é contabilizado para Dourados.
Crise – Administradora do Hospital da Vida e da UPA, a Funsaud (Fundação de Serviços de Saúde de Dourados) – órgão que faz parte da prefeitura – acumula dívidas de pelo menos R$ 35 milhões.
Sem receber em dia o repasse da Secretaria Municipal de Saúde, a fundação não consegue nem mesmo pagar seus funcionários. Servidores que atuam na linha de frente da pandemia protestaram segunda-feira (7) para receber o salário de novembro, pago nesta quarta-feira (9).
Na noite de ontem, o protesto foi de profissionais terceirizados da empresa Intensicare, que gerencia os leitos de UTI do Hospital da Vida. Eles ainda não receberam o salário de novembro nem a primeira parcela do décimo terceiro salário.
Leitos desativados – Reunião nesta quinta-feira (10) no Ministério Público começou a discutir solução para a falta de leitos de UTI em Dourados. Entre os presentes estava o advogado Alexandre Mantovani, assessor especial da prefeita Délia Razuk (sem partido).
O principal objetivo é conseguir ativar com urgência os dez leitos de UTI instalados no Hospital da Vida, mas que não funcionam por falta de profissionais especializados e de insumos e medicamentos.
Ao final da reunião, o presidente do conselho curador da Funsaud, Everaldo Leite Dias, informou que outros encontrados estão agendados para ainda hoje, em busca de uma saída para a ativação dos leitos de UTI.
“A ala com os leitos está pronta no Hospital da Vida, mas faltam insumos e pessoal. O objetivo é ativar a UTI e os leitos clínicos o mais rápido possível para atender pacientes com covid. O Estado vai entrar com parte do dinheiro e vai ajudar com insumos”, afirmou Everaldo.
O presidente do conselho curador confirmou a crise financeira da Funsaud. “Parece que essa fundação já nasceu devendo”, disse ele. Segundo Everaldo, o contrato da fundação com o município, de R$ 4,3 milhões mensais, tem valores defasados há dois anos e se tornou insuficiente para bancar os gastos.
Ordem judicial – No dia 4 deste mês, juiz José Domingues Filho, da 6ª Vara Cível, mandou a prefeitura adotar providências urgentes para aumentar os leitos de UTI destinados a pacientes infectados pelo novo coronavírus em Dourados.
Na decisão, o juiz citou que entre junho e julho havia mais de 30 leitos de UTIs destinados para tratamento de pessoas em estado grave de covid-19. Na semana passada estavam disponibilizados apenas 18 leitos, com 16 ocupados.
Ontem, a prefeitura fez novo acordo com o HU (Hospital Universitário) da UFGD para aumentar os leitos disponíveis naquela unidade. Foram abertos mais sete leitos de UTI adulto para pacientes com covid, passando agora para 15 leitos de terapia intensiva no HU.
Também foram abertos mais três leitos para pacientes infectados pelo vírus na enfermaria obstétrica, que agora conta com quatro. Ao todo o Hospital Universitário disponibiliza agora 37 leitos.
Com mais esses sete leitos de UTI, a prefeitura informou que nesta quinta-feira a taxa de ocupação dos leitos de terapia intensiva para pacientes com covid caiu para 88%. Entretanto, 100% dos leitos de UTI geral (para pacientes de outras causas) estão ocupados (Colaboropu Adilson Domingos).