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Interior

Delegado vai pedir quebra de sigilo telefônico de jornalista executado

Aline dos Santos | 14/02/2012 13:00

Crime tem as características de pistolagem, modalidade criminosa que foi retratada em livro por Rocaro

Paulo foi baleado em carro, quando passava pela avenida Brasil. (Foto: Léo Veras)
Paulo foi baleado em carro, quando passava pela avenida Brasil. (Foto: Léo Veras)

As ligações telefônicas feitas e recebidas pelo jornalista Paulo Roberto Cardoso Rodrigues, conhecido profissionalmente como Paulo Rocaro, que foi morto a tiros em Ponta Porã, serão analisadas para tentar desvendar o crime.

O pedido de quebra de sigilo telefônico será feito à Justiça pelo delegado Odorico Ribeiro de Mendonça Mesquita. “Vamos ver para quais números ligava, com quem falava mais tempo”, afirma o delegado.

O jornalista foi atingido por cinco tiros no domingo à noite, na avenida Brasil, que faz fronteira com o Paraguai, e morreu na madrugada de ontem, no hospital.

De certo, conforme o delegado, estão as características de crime de pistolagem, ou seja, alguém foi contratado para dar fim à vida do jornalista. “Tem os elementos que caracterizam esse tipo de crime. Era uma dupla, com capacetes escuros, uma moto sem placas, a pistola 9 mm, que é de uso restrito, a fuga para o Paraguai”, analisa Odorico Mesquita.

O estilo de crime é bastante conhecido em Mato Grosso do Sul, principalmente por moradores da região de fronteira com o Paraguai, e dificulta a identificação dos mandantes e executores.

No caso de Rocaro, a testemunha que viu o crime afirma que não é possível reconhecer os autor, pois ele estava de capacete. O fato de ter sido à noite também dificulta a utilização de imagens das câmeras de vigilância, devido à qualidade das imagens.

Estratégia – A partir de hoje, a polícia vai ouvir seis testemunhas, dentre familiares, amigos que estavam com o Paulo horas antes do crime e colegas de trabalho.

Ontem, no hospital onde o jornalista foi socorrido, os familiares foram ouvidos de forma informal e afirmaram não saber de ameaças contra a vítima. No domingo, dia do crime, Paulo Rocaro voltava da casa do ex-prefeito de Ponta Porã, Vagner Piantoni (PT), de quem era amigo.

O jornalista conduzia um Fiat Idea, que pertence ao Jornal da Praça, onde Rocaro era editor chefe, enquanto sua esposa seguia à frente, em um outro veículo.

Conhecido por ter estilo combativo, Paulo Rocaro, que também era diretor do Mercosul News, nunca fez registro policial de ameaça. Nem mesmo em 2002, quando publicou o livro sobre a ação de policiais e traficantes na região de fronteira.

De acordo com o delegado Odorico Mesquita, uma das hipóteses é de que o jornalista não quisesse alarmar a família, preferindo silenciar sobre eventuais ameaças. “Porém, no dia do crime, ele estava com os dois vidros do carro abertos. Conduta que não corresponde a de uma pessoa que sofra ameaças”, afirma.

Segundo o delegado, também há amigos do jornalista procurando a polícia de forma espontânea. “Eles falam que o Paulo não tinha dívidas nem relação extraconjugal”, relata. Cenário que reforçaria a ligação do crime com a atuação profissional.

A polícia investiga para saber a motivação do crime, fio da meada que pode levar ao autor. Foram requisitadas imagens de três câmeras, que ficam no percurso feito pelo jornalista. As imagens serão analisadas na tentativa de ver imagens da dupla.

Porém, de acordo com delegado plantonista Clemir Vieira Júnior, que atendeu o caso no domingo, a câmera do hotel Frontier só mostrava a calçada. “Aqui, em geral, as câmeras não ficam voltadas para a rua”, afirma.

Tempestade – Em 2002, Paulo Rocaro publicou o livro “A Tempestade – Quando o crime assume a lei para manter a ordem”. A obra fala de pistolagem e da conivência policial num território dominado pelo tráfico.

De acordo com os delegados, o livro não traz o nome dos envolvidos, o que enfraquece a possibilidade de uma vingança dez anos depois. “Ele não dá nomes. É uma obra de ficção”, afirma Clemir.

Em artigo publicado ontem no Jornal Agora MS, o jornalista Waldemar Gonçalves, conhecido como Russo, lembra que “Paulo Rocaro vinha travando uma ‘guerra fria’ com delegados da Polícia Civil de Ponta Porã e inclusive teria sido processado por eles”. Russo foi autor do prefácio do livro A Tempestade.

Em junho de 2011, delegados fizeram boletim de ocorrência e representação contra Rocaro. A justificativa é que ele fez acusação generalizada contra a categoria. A situação foi enquadrada como crime de calúnia contra funcionário público. Os delegados que investigam o caso não assinaram a denúncia contra o jornalista.

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