Dividido em 2 núcleos, esquema transformou delegacias em balcão de negócios
Preso em Goiás, escrivão da 2ª DP é acusado de comandar núcleo envolvendo traficantes de drogas
O suposto esquema criminoso envolvendo policiais civis de Ponta Porã (a 313 km de Campo Grande), investigado pelo Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) no âmbito da Operação Codicia (ganância, em espanhol), funcionava há pelo menos cinco anos e era dividido em dois núcleos.
Através da interceptação de conversas e quebra do sigilo fiscal e bancário dos investigados, o Gaeco descobriu que um dos núcleos era comandado pelo escrivão aposentado Veldenei Peromalle, o “Nei”.
Segundo a investigação, o núcleo de Peromalle era formado ainda pelo escrivão da ativa Jonatas Pontes Gusmão, o “Jhow”, pela também escrivã Adriana Jarcem da Silva, pelos investigadores Márcio André Molina Azevedo e Mauro Ranzi, pelo perito Rogério Insfran Ocampos e pelo delegado Patrick Linares da Costa. Com exceção do delegado (afastado das funções), todos os demais estão presos.
O Gaeco aponta que esse grupo transformou as delegacias da Polícia Civil de Ponta Porã em “balcão de negócios” para obtenção de vantagens indevidas na liberação de veículos apreendidos na fronteira.
O dinheiro vinha através de propinas pagas por seguradoras e locadoras de carro e também da extorsão de proprietários que procuravam os policiais para reaver veículos colocados em poder da polícia.
A investigação revelou centenas de operações financeiras envolvendo os acusados. Depósitos e transferências eram feitos principalmente para a conta bancária de Valdenei Peromalle, que se incumbia de dividir com os comparsas.
“Durante as investigações confirmou-se uma série de delitos de corrupção (na casa de dezenas), indicando que a restituição/movimentação de veículos recuperados somente ocorria nas Unidades Policiais de Ponta Porã com o pagamento de propina. Com o afastamento do sigilo bancário de todos, confirmou-se que o esquema estava em funcionamento há tempos e de maneira sistemática”, afirma o Gaeco.
Tráfico – O segundo núcleo identificado pelo Gaeco seria formado pelo escrivão Jonatas Gusmão e pelos irmãos Ricardo Alexandre Olmedo e João Batista Olmedo Júnior. O crime: tráfico de drogas, inclusive desviadas do depósito da Polícia Civil. Os irmãos estão presos, assim como Marcos Alberto Alcântara, também acusado de ligação com o comércio de entorpecente chefiado por “Jhow”.
Conversas gravadas com autorização da Justiça revelaram diálogos envolvendo até mesmo integrantes de organizações criminosas, como uma mulher não identificada, que ameaçou “mandar um salve” contra Olmedo Júnior por causa da demora em resolver pendência de droga.
Em outro diálogo interceptado pela operação, o próprio João Olmedo Júnior ameaça outro envolvido com o tráfico. Em conversa com homem chamado por ele de “gaúcho”, o suspeito deixa claro que mandaria matar o desafeto e os filhos. “To nem aí, já to ferrado mesmo”.
Ricardo Alexandre Olmedo, João Batista Olmedo Júnior e Ricardo Alexandre Olmedo e João Batista Olmedo Júnior estão presos, mas a Justiça negou o pedido de prisão de Elisandro Ostergerg e do policial civil aposentado Ronaldo Medina, apontados como integrantes do núcleo do tráfico.
Jonatas Gusmão foi preso no interior de Goiás, onde passava férias. Ontem (3), o juiz Olivar Augusto Roberti Coneglian, da 2ª Vara Criminal da Capital (onde tramita a ação penal), acatou pedido da Corregedoria da Polícia Civil e da defesa e autorizou a remoção do escrivão para Mato Grosso do Sul.