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Interior

Em meio a escândalo na Petrobras, fábrica está sem prazo para conclusão

Liana Feitosa | 25/11/2014 19:18
Manifestantes reclama que não receberam acerto financeiro referente à rescisão contratual. (Foto: Ricardo Ojeda/ Perfil News)
Manifestantes reclama que não receberam acerto financeiro referente à rescisão contratual. (Foto: Ricardo Ojeda/ Perfil News)

Anunciada como um dos maiores investimentos já realizados em Três Lagoas, a fábrica de fertilizantes da Petrobras, UFN 3 (Unidade de Fertilizantes Nitrogenados), não tem previsão de conclusão. Em meio ao turbilhão por que passa a gigante do petróleo, em razão do escândalo de corrupção, o clima de incerteza, que já era grande, se agravou com o calote aos empregados demitidos e a indefinição sobre o término da obra.

Trabalhadores da construção civil da cidade, a 338 quilômetros de Campo Grande, vivem momentos de incerteza por causa de dívida do consórcio responsável pela obra, que tem entre as empresas, a Galvão Engenharia e a GDK, envolvids no esquema. A GDK, inclusive, está em recuperação judicial. De acordo com a estatal, a construção da fábrica envolve investimentos de US$ 2,5 bilhões.

Funcionários que atuavam na construção da fábrica, demitidos recentemente, estão acampados em frente ao escritório da UFN3 na tentativa de negociar o pagamento dos valores referentes à rescisão contratual. Eles deviam ter recebido o acerto trabalhista no dia 3 deste mês, data que foi adiada para o último dia 13 e, recentemente, prorrogada para hoje (25), mas nenhum dos combinados foram cumpridos.

A inadimplência gera prejuízos que se estendem também às empresas do município. De acordo com o presidente da ACI (Associação Comercial e Industrial) de Três Lagoas, Atílio D'Agosto, o consórcio possui, atualmente, dívida de cerca de R$ 10 milhões com empresários da região.

Setores afetados - "De julho a setembro deste ano foi desenvolvida uma dívida de pouco mais de R$ 9 milhões. São empresas prestadoras de serviços da área de alimentação, segurança, medicina do trabalho, concreto, enfim, várias que estão sem receber pelos serviços prestados para que a obra tivesse andamento", explica Atílio.

"Como tem muita gente envolvida no processo (de construção), valores altos são gerados. Por isso, houve acúmulo de dívida e a associação decidiu intervir, junto com a prefeita, que apoiou a intermediação", complementa. Cerca de 10 mil trabalhadores estão envolvidos na obra.

Segundo o presidente da entidade, uma reunião acontece amanhã (26) com o objetivo de estabelecer um acordo com a empresa para que os empresários da cidade receberam pelos serviços prestados. "Nossa preocupação é com os empresários locais. Por isso, amanhã faremos uma reunião às 9h com representantes da empresa e da Petrobras", pontua.

Em junho do ano passado trabalhadores paralisaram as obras durante 30 dias por melhores condições salariais e de trabalho. (Foto: Ricardo Ojeda/ Perfil News)
Em junho do ano passado trabalhadores paralisaram as obras durante 30 dias por melhores condições salariais e de trabalho. (Foto: Ricardo Ojeda/ Perfil News)

Inadimplência recorrente - Durante a construção da fábrica, outros problemas com inadimplência foram registrados na cidade. Na ocasião, a empresa devia cerca de R$ 25 milhões a empresas de Três Lagoas. "Recebemos o diretor geral da Petrobras e o diretor do consórcio, que vieram do Rio de Janeiro, e criaram um cronograma de prazos a serem cumpridos, que realmente foram honrados", conta.

"Com isso, criamos um vínculo de negociação, por isso, acreditamos que eles vão cumprir com suas responsabilidades", compartilha Atílio. Conforme o representante, cerca de 80% da obra concluída. "Para terminar a obra, virão novas despesas, mas os empresários precisam receber para normalizar o atendimento à construção", observa.

Além disso, em junho do ano passado os trabalhadores paralisaram as obras durante 30 dias por melhores condições salariais e de trabalho. Acordo com a direção do consórcio demorou a sair.

Segundo a assessoria de imprensa do Sintricom (Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil, Imobiliário, Cerâmica e Montagem) da cidade, hoje, a UFN3 se recusa a conversar com o sindicato. "Eles apenas informam que não têm prazo para efeituarem o pagamento dos ex-funcionários", afirma.

A maior parte dos demitidos vieram do Nordeste do país para Mato Grosso do Sul. Eles estão hospedados em alojamentos da cidade. No entanto, o rumor é que a partir de sexta-feira (28) não terão mais direito à hospedagem, nem à alimentação.

"Eles ficarão na cidade sem ter onde dormir ou como comer, já que não receberam o valor do acerto. Hoje tivemos que levar cerca 60 marmitex para os trabalhadores que estão em frente ao escritório porque eles não tinham nem como se alimentar, mas não sabemos até quando a situação ficará assim, já que a empresa não se manifesta", disse a assessoria.

Petrobras - Em nota, a Petrobras confirma que a finalização da obra está em atraso e, por isso, busca soluções junto ao consórcio UFN3. A estatal também afirma que não cabe a ela se manifestar sobre a saúde financeira, a gestão de negócios ou a mão de obra de suas contratadas. "As demissões de funcionários alocados na obra, as dívidas reivindicadas por fornecedores e as ações judiciais noticiadas dizem respeito a questões internas do Consórcio UFN3", diz a nota.

A Petrobras também afirma estar ciente da situação de inadimplência do Consórcio UFN3 perante prestadores de serviços. "No âmbito desse contrato, (a Petrobras) informa que já exigiu a imediata regularização e cumprimento pelo Consórcio UFN3 das obrigações assumidas por este perante seus fornecedores", consta.

De acordo com a estatal, fiscalizações são feitas regularmente para que o contrato seja executado e medidas sendo adotadas. O contrato com o consórcio também continua em vigor. "Sendo certo que os resultados apresentados pelo Consórcio e a situação da obra são objeto de permanente análise", completa a nota.

Por fim, o esclarecimento afirma que a Petrobras não está com pagamentos em atrasos. "A Petrobras reitera que está em dia com todas as suas obrigações contratuais, e que os pagamentos de seus compromissos foram realizados de acordo com a legislação vigente e com os prazos e procedimentos estabelecidos no contrato", finaliza a nota.

No ano passado, obra parou por melhores condições salariais e de trabalho. (Foto: Ricardo Ojeda/ Perfil News)
No ano passado, obra parou por melhores condições salariais e de trabalho. (Foto: Ricardo Ojeda/ Perfil News)
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