Em presídio com 2 mil cervejas, regalia custava R$ 100 e fuga valia U$S 30 mil
Primeira audiência da Operação La Catedral foi marcada para 5 de maio
Batizada de La Catedral em alusão à prisão de luxo construída pelo narcotraficante Pablo Escobar, a operação do Dracco (Departamento de Repressão à Corrupção e ao Crime Organizado) mostra que tudo tinha preço na Unidade Penal Ricardo Brandão, em Ponta Porã.
No presídio que tinha estoque de duas mil cervejas, havia regalias a partir de R$ 100 à fuga pela porta da frente ao custo de 30 mil dólares. Os valores constam na denúncia do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul) contra um grupo de servidores, que foram alvos da Operação La Catedral em 6 de janeiro.
No dia 30 de junho do ano passado, câmeras do presídio registraram a chegada de uma caminhonete carregada com caixas de cerveja. Na unidade penal, foi encontrada expressiva quantidade de bebida alcoólica.
Exatamente 1.798 unidades de Skol, 132 unidades de Brahma e 120 unidades de Corona. Também foram apreendidas oito garrafas de Velho Barreiro, duas garrafas de vinho Campo Largo, uma garrafa de vinho Jota Pe, cinco garrafas de Jamel e uma garrafa de uísque Johnnie Walker.
De acordo com a denúncia, o policial penal Maicom Thomaz Correa de Alencar (chefe de segurança) franqueia o acesso da caminhonete. Para descarregar a cerveja, o policial penal João Xavier Martins Neto liberou quatros presos, que foram solicitados por Maicom. Nesta data, um detento foi punido com recolhimento para a cela “forte”.
Em primeiro de julho, os outros três foram identificados. No dia seguinte, dois foram punidos. Mas a medida de isolamento não foi adotada para o interno Celso Gonçalves Sanguina, que fugiu no mesmo dia pela porta da frente da unidade penal. Também foi registrada a fuga de Nédio Marques Brito Filho.
A suspeita é de que a fuga custou 30 mil dólares, quantia que seria destinada a Luiz Carlos Soto (chefe de equipe).
Numa das celas, foi apreendida um caderno que cita a quantia de R$ 200 mil, equivalente a 30 mil dólares na época da fuga. A anotação foi atribuída ao fugitivo Nédio Marques Brito Filho.
Mangueirão – Segundo a denúncia, o epicentro das regalias era o chamado Mangueirão, nome dado ao pavilhão C, solário II. O local contava com banheiro azulejado, chuveiro quente e móveis. Em 2019, teria sido cobrado R$ 100 de cada um dos 80 presos do setor. A taxa assegurava revistas superficiais. Para não ser alvo de vistoria, cobrava-se mais R$ 200 por interno.
Um preso relatou ter pago R$ 4 mil a Carlos Eduardo Lhopi Jardim (diretor do presídio) para ser transferido para o Mangueirão. Para não ser transferido do presídio, outro detento denuncia que pagou R$ 10 mil.
O grupo de servidores foi denunciado por organização criminosa, concussão (utilizar o cargo para exigir vantagem indevida) e corrupção passiva.
Em 3 de fevereiro, o juiz da 2ª Vara Criminal de Ponta Porã, Marcelo Guimarães Marques, aceitou a denúncia contra Justo Aquino Navarro (na casa dele foram apreendidos R$ 47 mil), Carlos Eduardo Lhopi Jardim, Luiz Carlos Soto, Maicom Thomaz Correa de Alencar e João Xavier Martins Neto. A primeira audiência foi marcada para 5 de maio.
Os policiais penais estão presos em Campo Grande. A reportagem não conseguiu contato com a defesa dos citados.