Fiscais gravam ameaça de "cacete" a moradores e prefeitura avalia punição
Profissionais da Vigilância Sanitária de Cassilândia fizeram vídeo de 63 segundos que viralizou
A pandemia de novo coronavírus está produzindo situações inéditas mundo afora. Em Mato Grosso do Sul, no município de Cassilândia, a 418 quilômetros de Campo Grande, além do esforço para que o vírus não chegue à cidade, a prefeitura agora lida com situação inusitada: teve de tirar momentaneamente da fiscalização dois funcionários antigos da Vigilância Sanitária para que expliquem vídeo produzido no prédio público, no qual ameaçam a população de “cacete”, caso as regras de restrição à circulação de pessoas não sejam obedecidas. O material veio a público nesta quarta-feira (8).
Na gravação de 63 segundos, os fiscais Luciney Correa da Silva e Francisco Uildo da Silva aparecem próximos a uma mesa, onde se vê um vidro de álcool gel. A mulher, que é médica veterinária, segura um cabo de vassoura. Francisco, cuja formação não foi identificada pela reportagem, é quem fala.
Introduzido por som de sirene, cita a preocupação com a saúde pública, comenta estar “trabalhando dia e noite” e depois vem a ameaça, “se o povo não ajudar”.
“Eu tenho pessoas do meu lado, que é da minha inteira confiança, se eu ver (sic) que não vai ter respaldo, vai descer o cacete”, declara.
“Vamos trabalhando, lavando as ruas, desinfetando as ruas públicas e estabelecimentos para que isso não aconteça, uma proliferação grande em nosso município”, encerra.
O vídeo está circulando em grupos de WhatsApp e, segundo o secretário de Saúde de Cassilândia, José Lourenço Marin, foi feito totalmente à revelia das autoridades. Nesta manhã, o secretário convocou os servidores para se explicar e disse que só depois disso vai decidir a medida a ser adotada. Para ele, os servidores até tiveram boa intenção, de tentar tratar o tema com “humor”.
Casos assim podem gerar, por exemplo, abertura de sindicância e processo administrativo. A reportagem apurou que o prefeito Jair Boni (PSDB) solicitou que, pelo menos, advertência seja dada.
Justificativa - No Facebook, a médica veterinária publicou explicação em nome dela e do colega de trabalho. Disse que foi uma “brincadeira” feita depois do expediente, “num momento de descontração”. De acordo com Luciney, o vídeo foi feito para “alegrar” a equipe, que está “trabalhando 24 horas”.
Cassilândia, próxima à divisa com Goiás, não tem casos de novo coronavirus. Houve uma suspeita, descartada essa semana. A cidade tem 8 pessoas atuando na Vigilância Sanitária.