Índio é enterrado em área de conflito, diante de protestos por demarcações
Diante de 300 irmãos de tribo, o corpo do indígena Clodioudo Aguile Rodrigues dos Santos, 26 anos, foi enterrado nesta quinta-feira (16) na Fazenda Yvu, local onde ocorreu confronto entre fazendeiros e indígenas, em Caarapó, a 280 km de Campo Grande. O velório aconteceu na quadra de esporte de uma das escolas da aldeia.
Durante o sepultamento, várias lideranças indígenas afirmam que serão capazes de matar por sua terra. “Vai enterrar o filho onde ele morreu. Vamos morrer aqui e ser sepultado aqui. Se matar mais um de nós vamos matar ou morrer”.
Emocionados e revoltados, os índios leram documento cobrando demarcação das terras no Estado. Disseram que a Constituição garante a demarcação das terras e que eles não irão se render porque estão defendendo a garantia de seus direitos e sua identidade.
“Os fazendeiros vieram para nos matar, a partir de hoje vamos retomar e também vamos matar. Se precisar também vamos matar, estamos nos armando”, reforça uma das lideranças.
Durante o velório, eles contaram ao Campo Grande News que a própria polícia estaria atacando mulheres e crianças. “Queremos segurança, mas não queremos civil e PM. Apenas queremos a terra que é nossa. Em nome das crianças, das mulheres e idosos. Não queremos mais morrer”.
Os indígenas relatam que são aproximadamente dois mil índios sem alimentação e atendimento médico envolvidos na luta pelo que chamam de retomada das terras, e dizem que a disputa só acabará quando houver demarcação. “Queremos que os fazendeiros sejam desarmados e deixem nosso tekoha (terra) para para vivermos em paz”, pronunciam.
A atuação da Força Nacional também foi criticada pelos índios, que alegam não haver desarmamento dos fazendeiros, responsáveis por matar índios. “Não temos esperança que o governo brasileiro vai demarcar nossas terras. Nós vamos fazer por conta e se for preciso até morrer o último guerreiro.
Prestando solidariedade aos indígenas e afirmando que a perda de um guerreiro não pode ser em vão, o deputado federal e presidente da CDDH (Centro de Defesa dos Direitos Humanos), Padre João (PT/MG), afirmou que as lágrimas são um combustível. “Vamos lutar por vocês, vocês daqui e nós de lá para acelerar o processo de demarcação”.
O deputado repudiou o uso de arma pelos fazendeiros e disse que exigirá por parte do governo o cumprimento dos prazos até a homologação e a retirada dos produtores.
“Os intrusos não podiam contestar a demarcação com armas, tem que contestar dentro da lei e com documentos. Não podiam nem usar armas quanto menos contra quem luta pela mãe terra e tem pela mãe terra o maior respeito e não a trata com veneno”, disse.
Já o o vice-presidente da CDDH, deputado federal Paulo pimenta (PT/RS), lembrou aos indígenas que eles não estão sozinhos. “Vamos pedir audiência com ministro da Justiça e exigir todas as medidas para garantir a segurança de vocês. Vamos encaminhar relatório sobre as providências”
O deputado Zeca do PT também compareceu ao velório e falou aos indígenas que a luta será ecoada no congresso. “ Vocês não estão sós. Representamos uma bancada de deputados de esquerda que vão ser somar à nossa luta para a demarcação das terras”.
Também foi apresentado um documento pelos índios para os deputados, mas o com conteúdo é sigiloso e não foi revelado.