Índio é morto em aldeia e técnicos da Sesai são suspeitos de envolvimento
O indígena Everton Vergilio Lescana, 22 anos, foi morto a tiros na noite de ontem (28), na Aldeia Alves de Barros, em Porto Murtinho, distante 431 quilômetros de Campo Grande. Dois técnicos da Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena) são suspeitos de participação no crime.
De acordo com boletim de ocorrência, um adolescente que testemunhou o crime, relatou que saía de uma igreja com a vítima, quando os dois foram abordados por três homens, o indígena Gildo Matchua e dois funcionários da Sesai, lotados em Bodoquena.
Ainda conforme registro policial, segundo relatos do adolescente, Gildo foi quem atirou em Everton. Após o crime, o adolescente correu para avisar a família e o rapaz morreu no local. O caso foi registrado como morte a esclarecer na Delegacia de Polícia Civil de Porto Murtinho.
Disputa por cargo - Disputa por liderança na aldeia pode ter provocado, em cinco meses, quatro mortes de índios Kadiwéu na Aldeia Alves de Barros. Em dezembro do ano passado, o ex-cacique Ademir Matchua, 42 anos, foi atingido a tiros por opositores políticos. No mesmo dia, o indígena Orácio Ferraz, 26 anos, foi morto por vingança.
A terceira morte foi de Jamélio Farias, registrada na manhã do dia 1º de janeiro. O indígena foi atingido com um tiro na cabeça e chegou a ser socorrido, mas morreu no hospital da região. Em dezembro de 2014, amigos e parentes dos indígenas kadiwéu assassinados se reuniram na sede da Funai (Fundação Nacional do Índio) em Campo Grande. Eles protocolaram pedido para que o órgão investigasse o caso, junto ao MPF (Ministério Público Federal).
Na época, os parentes do ex-cacique relataram que as mortes foram provocadas por dois servidores da Funai (Fundação Nacional do Índio). Segundo eles, os funcionários promoviam reuniões para escolher lideranças sem o consentimento dos moradores da aldeia, gerando clima de rivalidade.
Divisão - Morador da aldeia, que pediu para não ter o nome divulgado, contou que após a morte do ex-cacique Ademir e Orácio a comunidade se dividiu em dois grupos e se nada for feito as mortes vão continuar no local.
Ela conta que os moradores já pediram apoio da Funai e do MPF (Ministério Público Federal), mas até agora nada foi feito. “O clima está tenso e a maioria dos integrantes dos grupos têm arma de fogo. Tudo isso por causa de liderança interna”, lamenta.
O Campo Grande News entrou em contato por telefone e e-mail com a assessoria de imprensa da Sesai em Brasília, que ficou de se pronunciar sobre o caso ainda hoje.