Índios protestam contra saúde precária para 9 mil habitantes
Indígenas da região de Miranda, a 201 quilômetros de Campo Grande, começaram ontem (20) protesto reivindicando melhorias no atendimento de saúde para cerca de 9 mil habitantes, de oito aldeias e uma área de acampamento. Eles reclamam de demora nos encaminhamentos para cirurgias, ausência de médicos e alegam que veículos defasados são usados para transporte de pacientes, enquanto os funcionários da saúde usam caminhonetes modernas para chegar às comunidades.
Segundo o cacique da aldeia Cachoeirinha, Marcos Sobrinho, os índios apreenderam uma das caminhonetes para protestar e querem a presença do coordenador distrital de Saúde Indígena, Hilário da Silva, para ouvir as reivindicações das lideranças.
“Todos os caciques estão reunidos porque queremos que seja cumprida a lei de um atendimento especial à saúde indígena. A equipe médica tem duas Hilux para se locomover, enquanto os pacientes são transportados em uma caminhonete Toyota bem antiga e uma Kombi. São veículos inadequados para levar grávidas, idosos e doentes”, disse Marcos.
O atendimento dos índios ocorre nos postos das aldeias três vezes por semana. Para consultar com médico especialista, os índios têm que ir para o hospital da cidade. O cacique reclama que há vezes em que os médicos não estão nos dias previstos e a administração informa que eles estão atendendo em outros postos.
“Quem precisa de hemodiálise, por exemplo, vai para Miranda nesses veículos velhos. A saúde da área indígena para nós é um insulto muito grande. O encaminhamento atrasa um ou dois anos, sendo que tem uma lei de saúde diferenciada, mas isso não acontece. Tem paciente que precisa de cirurgia urgente, então essa é a nossa indignação”, disse o cacique. Segundo ele, a caminhonete apreendida pelos índios só será usada para plantonistas, em emergência.
O técnico da Dsei (Coordenação Distrital de Saúde Indígena) em Campo Grande, Edmilson Canale, falou com o Campo Grande News, por indicação do coordenador Hilário da Silva, que não deu entrevista, porque estava participando de reunião, nesta tarde.
Edmilson disse que a coordenação já foi informada sobre o protesto e a apreensão da caminhoneiro pelas lideranças. Segundo o técnico, haverá reunião e é possível que Hilário vá até a comunidade ouvir as reivindicações. Ele afirmou que o coordenador esteve em Brasília, na última segunda-feira (18), discutindo a aquisição de novos veículos para o transporte de pacientes. A Dsei planeja também fazer a contratação de uma empresa terceirizada para locar veículos.
Quanto aos atendimentos, Edmilson justificou que a demora para consulta com especialistas ou cirurgias se dá porque os indígenas são atendidos pelo SUS (Sistema Único de Saúde). “O atendimento básico, como clínico e dentista é feito em todas as aldeias, normalmente. Ocorre que quando precisa de especialista, o paciente entra no sistema de encaminhamento e aí demora, mas isso não é pela Sesai. Teríamos que ter uma reunião com gestores do município para pactuar isso, pois eles que têm que dar suporte”, disse.
Hilário chegou a ser afastado da Dsei em 2015. Lindomar Terena foi nomeado pelo Ministério da Saúde para ocupar o cargo, mas portaria do próprio ministério suspendeu a nomeação. Representantes, tanto do grupo que apoia Lindormar, como do que é a favor de Hilário fizeram manifestações na sede em Campo Grande, em novembro do ano passado.