Inocência tem explosão nos preços e aluguel da quitinete já custa R$ 3.500
Enquanto firmas podem arcar com os valores, moradores migram para cidades vizinhas
RESUMO
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Em Inocência, a 331 km de Campo Grande, a construção de uma fábrica de celulose provocou uma explosão nos preços imobiliários. O aluguel de uma quitinete chegou a R$ 3.500, valor muito acima do observado em outras cidades como Ribas do Rio Pardo e a capital. Os terrenos também valorizaram, passando de R$ 45 mil em 2019 para uma média de R$ 200 mil atualmente. Investidores de outros estados, como Santa Catarina e São Paulo, estão interessados na região. A cidade, que tinha 8.400 habitantes, agora tem 13 mil e espera chegar a 32 mil. A construção civil está em alta, com obras de sobrados, hotéis e lofts. Moradores locais, como o pedreiro Leandro Macedo, sentem o impacto dos altos custos de aluguel e alimentação, mas continuam na cidade devido ao trabalho.
Quanto custa o progresso? Na pequena cidade de Inocência, a 331 quilômetros de Campo Grande, a obra de fábrica de gigante da celulose resultou numa explosão de preços no setor imobiliário. Por lá, o aluguel da quitinete já chega a astronômicos R$ 3.500.
Para efeito de comparação, em 2021, a cidade de Ribas do Rio Pardo, que viveu o mesmo crescimento galopante com uma planta industrial de celulose, a quitinete custava R$ 600 por mês. Na Capital, a maioria não passa de R$ 1 mil, neste mês de fevereiro, pelo aluguel de imóvel com quarto, banheiro e pequena copa.
Enquanto as firmas podem arcar com os valores, os moradores das casas alugadas são obrigados a deixarem Inocência, se dispersando por cidades do entorno, como Paranaíba (a 90 km) e Três Lagoas (130 km).
“Quando a gente veio morar aqui, em 2019, o preço do terreno era R$ 45 mil e parcelado. Hoje, o preço médio é de R$ 200 mil, isso nos bairros. Se você vem para o Centro, vai de R$ 250 mil a R$ 450 mil. É brutal a diferença”, afirma Rejane Rocha Canevari.
O crescimento de Inocência atrai, principalmente, investidores de Santa Catarina e São Paulo. “São clientes que vêm para fazer investimentos em três, quatro áreas. Uns querem comprar e esperar. Eu aconselho a não esperar porque o boom é agora”.
A dica para quem tem capital disponível é investir em construção de moradia, a maior necessidade da cidade. Considerando o público que quer sair de alojamento ou trazer a família. Por enquanto, as pessoas físicas não têm vez, com todos os espaços sendo alugados pelas firmas.
Aqui, não tenho casa à disposição para aluguel. A última estou fazendo contrato nessa semana, para uma empresa, com preço de R$ 5 mil. E é uma casa bem antiga, com três dormitórios e um banheiro”, afirma Rejane.
Antes, a média do aluguel de casa similar era R$ 1.200. A cidade vive o seu auge, mas a avaliação é de que o crescimento será sustentado depois da ativação da fábrica, prevista para fim de 2027.
“Uma coisa que falam é que isso vai passar, como passou em Três Lagoas e Ribas do Rio Pardo. Mas a Arauco, antes mesmo de começar a obra, já estava trabalhando com a cidade, com a construção do ambiente apropriado para recebê-los. Não foi como em Ribas, que quando veio, veio de uma vez. Aqui, não fizeram segredinho e o anúncio já faz dois anos”.
Mas tem gente esperando o preço subir ainda mais, deixando área parada à espera de vender ainda mais caro: R$ 900 mil por um terreno.
Tem pessoas que têm terrenos, mas, hoje, não tem interesse em vender. Segura o terreno esperando valorizar mais, segura para locar. As empresas alugam o terreno para poder montar alojamento, tem essa situação também”, afirma Leandro Rigonato, gerente da Imobiliária Costa.
Ele mora há quatro anos em Inocência, vindo de Assis, cidade no interior de São Paulo. “Em Assis, você pagaria aluguel de R$ 1.500 numa casa de três quartos, suíte, sala, cozinha, garagem com vagas para dois carros. Aqui, não aluga nem uma quitinete”, diz o gerente.
Em Inocência, a possibilidade de fazer dinheiro com aluguel de imóveis também faz parte dos moradores se recolher ao campo. “Muitas vezes, eles têm casa na cidade, mas são proprietários de chácaras, sítios, fazendas. Então, vão para a residência rural e disponibilizam o imóvel urbano para a locação”.
Para o futuro, Leandro espera que a construção de casas pelo poder público e pelo setor privado equilibrem a oferta de moradias.
“Mesmo em meio a toda essa movimentação, é uma cidade boa para se viver. A gente ainda tem a liberdade deixar nossos filhos na rua, andando de bicicleta”.
Conforme a Arauco, as ações previstas incluem a construção de unidades habitacionais aos colaboradores.
“Aluguel subiu demais, Deus me livre”
Trabalhando como pedreiro em Inocência, Leandro Macedo, 38 anos, conta que não falta serviço, o que garante renda mensal de R$ 6 mil. Mas os valores do aluguel e comida devoram quase todo o salário, conseguido com obras, praticamente, de segunda a segunda.
“Está faltando é mão de obra, serviço tem bastante. Mas é complicado achar gente para trabalhar”, diz Leandro. Vindo de São Paulo, ele enfrentava o sol forte por volta de 12h da última quarta-feira (dia 19).
Ele conta que tem experiência de viajar para outros Estado, mas nunca encontrou preços de aluguel tão alto como em MS.
“Eu trabalhei no Paraná, mexendo com maçã e uva. Uma casinha lá eu pagava R$ 600. Agora vim para o Mato Grosso do Sul e aqui está esse absurdo. O aluguel subiu demais, Deus me livre, está um horror. Por um quartinho, com banheiro dentro, estou pagando mil contos. Não tem lavanderia, não tem cozinha, não tem nada”, diz o pedreiro.
Apesar do alto custo, a compra semanal no mercado, por exemplo, não sai por menos de R$ 400, Leandro não pensa em voltar ao interior paulista. “Por enquanto, não estou pensando em ir embora, não. Vou me mantendo e meu patrão é muito bom para mim”.
Inocência tinha 8.400 habitantes, contando a população da área rural, passou para 13 mil moradores e deve chegar a 32 mil pessoas. Ou seja, população multiplicada por quatro.
Canteiro de obras
Se a fábrica da Arauco, com previsão de investimento de US$ 4,6 bilhões, está na etapa de terraplanagem na MS-377, a 50 km da área urbana, a cidade de Inocência tem o boom da construção civil. Por todos os cantos, se vê pedreiros em ação e betoneiras rodando o concreto. A gama de obras inclui construção de sobrados e hotéis.
Termo mais comum para grandes cidades, também já se vê condomínios dos chamados loft. Pequenos imóveis onde o espaço é integrado, sem divisões de paredes entre os cômodos principais. A estrutura modular é feita em Santa Catarina e montada no destino final.
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