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Interior

Irmã de foragido do Clã Mota faz "desapego" de roupas de grife na internet

Empresária fechou perfil nas redes sociais após fuga do irmão, mas segue vendendo uma simples sandália a 5 mil

Natália Olliver e Helio de Freitas, de Dourados | 10/07/2023 19:52
Antonio Joaquim da Mota, Cecyzinha Mota, Filipe e Cecy Mota (Foto:Reprodução)
Antonio Joaquim da Mota, Cecyzinha Mota, Filipe e Cecy Mota (Foto:Reprodução)

A irmã do chefão do crime organizado, Antônio Joaquim Gonçalves Mendes da Mota - também conhecido como ‘Motinha’ ou ‘Dom’-, Cecy Mendes Gonçalves da Mota, a Cecyzinha, hoje vende roupas de grife na internet. Operação da Polícia Federal revelou que o irmão é líder de um dos principais grupos que atuava na fronteira entre Mato Grosso do Sul e Paraguai.

Cecyzinha criou uma página de desapegos nas redes sociais em 2021 e vende as peças de luxo de maneira aberta. Entretanto, após as reportagens sobre o Clã Mota, a conta agora é privada. Apesar da restrição de público, o perfil continua ativo. Na publicação mais recente, feita há três dias, na última sexta-feira (7), a jovem cobra R$ 5 mil por uma sandália da grife Hermès, uma das mais caras do mundo e conhecida pela exclusividade. Mas às interessadas Cecyzinha explica que o valor pode ser parcelado em até três vezes.

Sapato de grife, vendido por Cecyzinha na internet, pelo custo de R$ 5 mil. (Foto: Redes sociais)
Sapato de grife, vendido por Cecyzinha na internet, pelo custo de R$ 5 mil. (Foto: Redes sociais)

Na lista de itens anunciados, só luxo, como bolsas Louis Vuitton, óculos da Dior, óculos da Tom Ford, relógios da Gucci, aparelhos celulares Apple, sapatos da Chanel e vestidos variados, com oferta até de frete grátis.

A investigação Magnus Dominus ganhou repercussão nacional pelo poder da família na fronteira. A apuração reuniu provas, inclusive, geradas durante o processo de separação da única mulher do casal de filhos do clã. Há várias mensagens trocadas entre o ex-marido Filipe Rezende Barbosa e Cecyzinha, que admite crimes praticados pela família Mota e a relação com os maiores grupos criminosos da região.

A quebra de sigilo telemático feito pela PF aponta a ligação clara da família com o contrabando de armas, gado, emissão de notas frias e lavagem de dinheiro. A afirmação se sustenta no diálogo trocado entre o casal, por mensagens de texto. A conversa está no processo investigatório da Polícia Federal e Ministério Público Federal.

Casamento - Cecyzinha e Filipe se casaram em 2016. Entre os convidados para a cerimônia estavam diversos líderes do narcotráfico Brasil/Paraguai. Os nomes foram encontradas pela PF no computador do meio irmão, Orlando. Ao todo, 196 nomes apareceram na listagem, entre grandes empresários paraguaios, também de Ponta Porã e Campo Grande.

Ainda, aparecem entre os convidados traficantes e líderes de quadrilhas famosas. Fadh Jamil, conhecido por muito tempo como o Rei da Fronteira, foi acompanhado pela esposa. O narcotraficante Jorge Rafaat era outra presença ilustre e participou de um dos últimos casamentos de luxo da era Rafaat no crime organizado. Um mês depois, ele foi executado, o que criou uma guerra pelo poder no Paraguai. Também entraram na lista Luam Paväo, alvo preso na Operação Pavo Real, Kleiton Chimenes Larson, irmão do narcotraficante Jarvis Pavão, e Marcelo Stracieri Barbosa, apontado como um dos chefes do contrabando do país e citado no relatório final da CPI da Pirataria.

Casamento e desconfiança - O casamento de Cecyzinha e Filipe foi para marcar o ano de 2016 como o grande evento de Pedro Juan Caballero. Mas não durou muito. Ainda em 2016, os recém-casados discutem sobre os amigos do pai da moça. Filipe lembra que chegou a desconfiar diante da quantidade de seguranças em volta de Rafaat e reclama que Cecy havia explicado à época que o motivo era alguns problemas enfrentados por ele no Brasil.

Felipe fica bravo com Cecy porque só depois de um mês descobre pelo noticiário a verdade:

Trecho retirado do processo de investigação da PF e Ministério Público Federal (Foto: Processo)
Trecho retirado do processo de investigação da PF e Ministério Público Federal (Foto: Processo)

Em 2018, o casal começou a brigar de maneira mais frequente, de acordo com as mensagens. Conforme a denúncia do Ministério Público Federal, o empresário cada vez ficava mais incomodado e tirava informações importantes da esposa sobre o clã.

Em uma das conversas com Cecyzinha, ela diz que não acha que o pai fez mal em ser contrabandista de cigarro e que estaria sendo ‘cretina’ se negasse que não usufruiu do dinheiro vindo do crime.

Felipe faz questionamentos éticos e acusa o sogro Antônio da Mota de faturar em esquema que ficou conhecido como "boi de papel", com a emissão de notas fiscais “frias” de gado.

Conversa entre Cecyzinha e Filipe quando casal ainda estava junto (Foto: Processo)
Conversa entre Cecyzinha e Filipe quando casal ainda estava junto (Foto: Processo)

Compra de arma - Em outros trechos da conversa, Filipe faz Cecyzinha confirmar o contrabando de armas dos Estados Unidos. O diálogo aconteceu antes da separação, que ocorreu em 2019.

Trecho mostra interesse de Filipe em adquirir armas com pai de Cecyzinha (Foto: Processo)
Trecho mostra interesse de Filipe em adquirir armas com pai de Cecyzinha (Foto: Processo)

Durante toda a denúncia, Cecyzinha é citada 22 vezes, inclusive, encomendando a morte de uma pessoa a um funcionário do irmão. As conversas mostram a forma de agir de todo o Clã Mota, com a ajuda da mãe, que juntos orquestram o que fazer com o desafeto de Cecy.

Um deles sugere raspar o cabelo da pessoa, que tudo indica ser uma mulher, para dar o exemplo, como se quisesse passar um recado para a cidade sobre o que ocorre com quem mexe com um membro da família.

Campo Grande News - Conteúdo de Verdade

Procurado - Dom (Antônio Joaquim Gonçalves Mendes da Mota), de 30 anos, está foragido e possui o nome cadastrado na Difusão Vermelha da Interpol (Organização Internacional de Polícia Criminal).

Ele teria fugido após vazamento da operação Magnus Dominus. No momento, ele se encontrava em uma fazenda na fronteira de Ponta Porã com o Paraguai e conseguiu fugir dois dias antes, com um helicóptero.

Ele também ganhou o apelido Motinha por herdar os negócios ilícitos do pai, Antônio Joaquim da Mota, conhecido com Tonho, que por sua vez também herdou a aptidão para o crime na fronteira de seu pai, o baiano Joaquim Francisco da Mota, o Joaquinzinho, que chegou a Ponta Porã em 1960 e rapidamente se tornou um dos maiores contrabandistas de café na região.

Já adulto, Dom e o pai se juntaram aos narcotraficantes Sérgio de Arruda Quintiliano Neto, o “Minotauro”, e Caio Bernasconi Braga, o “Fantasma da Fronteira”, ambos ligados ao PCC (Primeiro Comando da Capital), para esquematizar a logística e despachar drogas para diversos países da Europa e também para uma nova rota até a Guatemala.

O Clã Mota chegou a formar um “holding” de organização criminosa para embarcar toneladas de maconha e cocaína do Paraguai para a Europa, através de portos brasileiros e rotas do tráfico de Mato Grosso do Sul.

Os telefones do ex-casal constam na denúncia, mas nenhum atendeu às ligações do Campo Grande News.

"Motinha" ou "Dom" é apontado como chefe dos mercenários, quadrilha de narcotráfico, no Paraguai (Foto: Arquivo)
"Motinha" ou "Dom" é apontado como chefe dos mercenários, quadrilha de narcotráfico, no Paraguai (Foto: Arquivo)


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