Jornal compara ex-prefeito preso ao lendário traficante Pablo Escobar
Neneco teria mandado executar rivais na disputa pelo tráfico e adversários políticos do próprio Partido Colorado
O ex-prefeito da cidade paraguaia de Ypejhú, Vilmar Neneco Acosta Marques, preso ontem por policiais civis de Naviraí em uma fazenda no município de Caarapó, a 283 km de Campo Grande, é comparado ao lendário narcotraficante colombiano Pablo Escobar Gaviria. De acordo com o ABC Color, o principal jornal de circulação diária no país vizinho, Neneco espalhou o terror no Departamento de Canindeyú, na fronteira com Mato Grosso do Sul. O periódico aponta o político como responsável por dezenas de assassinatos naquela região.
“Aqueles que vivem no pequeno distrito localizado na fronteira seca entre Brasil e Paraguai preferem não falar sobre o que acontece na área e é conhecido de todos. Os poucos que se atrevem a ‘cantar’ se tornam cientes do risco a que estão expostos”, diz reportagem do ABC, divulgada nesta quinta-feira.
Política e guerra – Conforme o jornal, após o assassinato do correspondente do ABC Color Pablo Medina – uma das mortes atribuídas a Neneco – alguns moradores decidiram começar a contar a maneira em que viviam na área dominada por Vilmar Acosta Marques. “Como o famoso traficante colombiano, Marques Acosta decidiu um dia deixar de lado o anonimato para saltar para o campo da política. A partir daí, Pablo Medina começou a divulgar suas ligações com o tráfico de drogas e um monte de crimes relacionados ao negócio”.
O ABC Color relata que após a prisão do brasileiro Luiz Fernando da Costa, o Fernandinho Beira Mar, começou naquela região da fronteira uma luta pelo controle do comércio de drogas. Um dos clãs era liderado por Neneco, filiado ao Partido Colorado.
Dois irmãos do traficante foram assassinados em outubro do ano passado na disputa pelo tráfico envolvendo outra família, os irmãos Gimenez Suarez, que também perderam um dos seus integrantes na guerra das drogas. “A partir daí, uma série de assassinatos envolveu o ambiente familiar. Rivais ligados ao tráfico de drogas, adversários políticos e até supostos pistoleiros que trabalham para o chefe da região estavam caindo”, informa o jornal.
As mortes – De acordo com o ABC, as mortes começaram em dezembro de 2010, quando Francisco Félix Bogado foi executado a tiros na fazenda pertencente a um policial. A vítima trabalhava como segurança de Wilson Marques Acosta, irmão de Neneco e acusado de envolvimento com o tráfico. No mesmo mês, Luis Cesar Benitez, zelador da casa de Dionísio e Tomás Gallardo – irmãos pistoleiros suspeitos de executaram um dos irmãos Gimenez Suarez – foi morto por três homens armados. Levado de sua casa, foi esfaqueado no pescoço e alvejado por vários tiros.
Em janeiro de 2011, o corpo de uma empregada doméstica foi encontrado em uma casa de madeira em Ypejhú. No mesmo mês, um jovem de 18 anos de idade foi encontrado morto embaixo de uma ponte de concreto construída sobre o córrego Aparay. A vítima foi sequestrada dias antes e executada por homens armados, entre os quais estaria um dos irmãos de Neneco, conforme o jornal paraguaio.
Outro crime atribuído a Neneco ocorreu em 21 de fevereiro de 2011, quando um assassino profissional invadiu uma boate e matou um estudante e o dono da casa noturna, supostamente a mando do político do Partido Colorado.
Em dezembro de 2011, três pistoleiros a serviço de Acosta foram presos após tentarem escapar de uma barreira policial. Os bandidos estavam em um veículo com placa do Brasil. No carro havia maconha e uma arma, que seria de Neneco. Em janeiro de 2012, mais uma morte atribuída a Vilmar Acosta Marques. Martinez Secundina Vallejos foi morto na frente de seus dois filhos, um deles deficiente físico, que foram feridos pelos tiros.
Resgate em delegacia – Conforme o ABC Color, em janeiro de 2013 Neneco mobilizou um exército de pistoleiros para libertar da cadeia de Ipejhú um de seus capangas, preso dias antes acusado de ligação com o assassinato de um rapaz de 19 anos. Em agosto de 2014 o ex-prefeito de Ypejhú Julian Nunez foi morto por pistoleiros usando motocicletas. Segundo o jornal, Nunez estava emergindo como um possível rival para os interesses de Marques Acosta dentro do Partido Colorado.
O inquérito revelou, segundo o ABC Color, que a mesma arma usada para matar o jornalista Pablo Medina tinha sido usada no assassinato de Julian Nunez. “Apesar desta longa lista de registros e suas ligações com o tráfico de drogas, Vilmar Neneco Acosta Marques nunca foi investigado pelas autoridades e teve forte apoio de grupos políticos influentes e agentes da polícia”, relata o periódico.