Para índia Guarani Kaiowa de 20 anos, prioridade é estudar
Enquanto a disputa por terras entre indígenas e fazendeiros é notícia mundial, a jovem Guarani-Kaiowá Barbara Montiel, de 20 anos, sonha com mais conhecimento. A terra fica em segundo plano, porque o que ela quer, mesmo, é concluir a faculdade de pedagogia e mais.
“Quero mais, não quero parar. Quero ir em busca de conhecimento”, define.
Ela mora na aldeia Sassoró, segunda área demarcada como indígena no município de Tacuru. A área fica ao lado da terra que ganhou repercussão internacional após ser invadida pela comunidade Pyelito Kue. Eles dizem que só saem do local, na fazenda Cambará, mortos.
Acompanhando de longe a disputa - pois como ela diz “não dá tempo por conta do estudo e trabalho” – o que ela conta com orgulho é a carreira de estudo. Foi da primeira turma a concluir o ensino médio na escola da aldeia.
Hoje, ela é professora para os novos estudantes indígenas e à noite cursa Pedagogia. “Quero ser igual minha mãe. Não quero parar de estudar”, diz sobre a mãe que é diretora de uma das três escolas da aldeia.
A rotina de estudos começa às 16h. Ela anda vários quilômetros até chegar a entrada da aldeia e pegar o circular, às 17h40. A volta para casa é por volta das 0h20. Alias, andar a pé pela longa estrada de chão que dá acesso a aldeia é rotina diária para a comunidade.
Ela lembra que muitos indígenas não terminam os estudos e vão trabalhar nas usinas e fazendas das cidades vizinhas, mas ela quer um futuro diferente.
“Quero adquirir mais conhecimento para ajudar minha comunidade”, garante.
Orientação – Na aldeia, a jovem diz que a segurança se tornou um problema e lamenta que muitos adolescentes e crianças estão envolvidos com drogas.
“Esses dias um menino de 13 anos quase arrancou a orelha da mãe. Todos lá usam drogas. Alguns jovens começam a usar porque os próprios pais usam”, conta.
Até durante as aulas muitos estudantes fogem da escola para usar droga em pontos diversos da escola. “Meu avô contava histórias de antigamente, mas nunca falou que tinha a droga”, diz.
O resultado, ela conclui, é a morte de índios cada vez mais novos. “Por isso que agüentam chegar até os 100 anos. A maioria agora não agüenta viver muito”, diz.
A jovem ainda é incisiva ao dizer que “não adianta mais terra se não tiver orientação para plantar”.
“Vai acontecer igual aqui. Sem um técnico para orientar a gente vai continuar sem saber como fazer”, diz.