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Interior

“Sobrou a vida”, diz mulher que teve casa destruída por estouro de barragem

Luzia relata susto três minutos depois de sair de casa com o filho e os netos

Por Izabela Cavalcanti e Antonio Bispo | 20/08/2024 12:45
Casa de Luzia destruída por água de barragem rompida e tomada por lama (Foto: Henrique Kawaminami)
Casa de Luzia destruída por água de barragem rompida e tomada por lama (Foto: Henrique Kawaminami)

“Perdi tudo, mas sobrou meus filhos, sobrou a vida”. Esse é o forte relato da aposentada Luzia Ramos do Prado, de 60 anos, que viu a sua própria casa sendo levada pela água da barragem rompida no Nasa Park. A catástrofe aconteceu na manhã desta terça-feira (20), entre Jaraguari e Campo Grande.

Minutos antes, a filha que estava na cidade recebeu uma mensagem de vizinhos pedindo para que moradores saíssem de casa imediatamente, pois a barragem havia rompido e que não teria como ser controlada. Ela logo ligou para a mãe e informou.

“Deu tempo de entrar no carro e sair. Foi um estrondo, hoje eu estou vivendo um pesadelo. Os três minutos que Deus fez a gente sair com vida. Foi Deus e eu creio nisso e vou morrer crendo nisso”, destacou.

Luzia contando relato após perder casa para barragem rompida (Foto: Henrique Kawaminami)
Luzia contando relato após perder casa para barragem rompida (Foto: Henrique Kawaminami)

O Campo Grande News conseguiu ter acesso à casa e registrou fotos do estrago que a força da água causou. Todos os pertences foram destruídos.

No interior da residência está tudo revirado, com muita lama, galhos, folhas e madeiras. Na garagem, um carro Ford Fiesta também foi atingido pela água.

Um dos cômodos da casa de Luzia, com os pertences todos revirados em meio a lama (Foto: Henrique Kawaminami)
Um dos cômodos da casa de Luzia, com os pertences todos revirados em meio a lama (Foto: Henrique Kawaminami)

Luzia morava na residência há 36 anos e lembra que construiu tudo “tijolinho por tijolinho”, criou os filhos e, agora, os netos. “Nós vamos correr atrás, não temos preguiça. Nós não temos mais documentos, não temos cartão de crédito, não temos uma roupa, saímos com o chinelo e Deus. Não sei para onde ir, acho que eu tinha mil reais na bolsa, não tenho mais. Estou nas mãos de Deus e ele proverá”, disse Luzia.

A moradora não lembra com toda a certeza de quantas vezes já estourou a represa, mas sabe que essa não é a primeira vez. “É um assassinato, porque se aconteceu a primeira e a segunda, era pra ter esgotado isso aos poucos e fechado, pois eles sabiam que iam estourar de verdade e ia detonar muitas vidas assim como fez, destruiu muitas vidas, tenho certeza disso”.

Cômodo da casa tomado por lama (Foto: Henrique Kawaminami)
Cômodo da casa tomado por lama (Foto: Henrique Kawaminami)

Tiago Andelço, de 35 anos, é filho de Luzia. Ele complementa a fala da mãe dizendo que o pai tem uma propriedade rural ao lado e criava alguns porcos, que foram levados pela correnteza. “Esse foi o pior barulho que ouvi na minha vida. Acabamos perdendo tudo. Tentei salvar alguns animais, mas a maioria acabou sendo arrastada pela água”, lamentou.

Ainda de acordo com ele, na região havia entre 8 e 10 casas e todas da parte mais baixa foram atingidas.

Isso não foi acidente, foi negligência e todo mundo da região já sabia que isso podia acontecer, só não sabíamos quando”, finalizou Tiago.

Marca na parede, próxima ao telhado, mostra altura em que a água chegou (Foto: Henrique Kawaminami)
Marca na parede, próxima ao telhado, mostra altura em que a água chegou (Foto: Henrique Kawaminami)

Entenda – Na manhã desta terça-feira, o rompimento da barragem do Nasa Park pegou todos de surpresa. A situação destruiu casas, abriu cratera na rodovia, e interditou totalmente a BR-163.

Os motoristas estão sendo orientados pela CCR MSVia a retornarem para Campo Grande ou desviarem pelo anel rodoviário Dr. Ricardo Trad, que liga Campo Grande a Rochedinho, e que pode ser acessado a partir do km 495.

Já para quem está vindo pelo sentido sul, a alternativa é ir para a estrada de acesso ao Bonfim, no km 529, rumo a Campo Grande.

O congestionamento chega a 4 quilômetros no sentido Norte, e 3 quilômetros no sentido Sul.

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