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Interior

Relatório aponta que 37 cidades têm índice de letalidade acima da taxa estadual

Desses 37 municípios, 15 apresentam o dobro da taxa média estadual que é de 1,55%

Adriano Fernandes e Helio de Freitas | 21/08/2020 21:16
Taxa de letalidade da Covid-19 em Mato Grosso do Sul, em 15 de agosto de 2020
Taxa de letalidade da Covid-19 em Mato Grosso do Sul, em 15 de agosto de 2020

Alta letalidade, lotação de UTIs (Unidades de Terapia Intensiva) em estado de alerta e distanciamento social muito abaixo do recomendado. Estes são o reflexo do panorama preocupante da covid-19 no interior de Mato Grosso do Sul.  Relatório de pesquisadores aponta que 37 dos 79 municípios sul-mato grossenses têm taxa de letalidade acima da taxa estadual, que é de 1,7%.

A taxa de letalidade por covid-19 expressa a proporção de óbitos pela doença em relação à quantidade de casos confirmados. Desses 37 municípios, 15 apresentam o dobro da taxa média estadual que é de 1,55%. Entre eles estão as cidades de Vicentina, Nova Andradina e Batayporã que compõem a macrorregião de saúde de Dourados.

Aral Moreira, Ponta Porã, Laguna Carapã, Amambai, Fátima do Sul, Itaquiraí, Naviraí, Tacuru e Itaporã também apresentam taxa de letalidade acima de 1,55%, ainda segundo o Relatório Técnico da Análise Geocartográfica das Incidências de Casos Confirmados e de Óbitos pela covid-19 na Macrorregião de Saúde de Dourados.

Segundo o especialista em Geografia da Saúde, professor da UFGD (Universidade Federal da Grande Dourados) e doutor em Geografia, Adeir Archanjo da Mota, uma das hipóteses para explicar essas taxas elevadas de letalidade é a baixa quantidade de testagem frente às ocorrências das síndromes gripais e das síndromes respiratórios agudas graves. A ocupação dos leitos de UTI também está relacionada com o aumento da taxa de letalidade. No estado, das quatro macrorregiões de saúde, três apresentam taxas de ocupação dos leitos de UTI acima de 70%. São elas Campo Grande, Dourados e Corumbá.

Confira na tabela. 

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Taxa de letalidade da Covid-19 em Mato Grosso do Sul, em 15 de agosto de 2020

Distanciamento social

Mato Grosso do Sul ocupa as últimas posições na lista de estados com os mais baixos índices de distanciamento social do país. Os melhores índices foram registrados nas primeiras semanas da pandemia. Depois disso, o índice permaneceu frequentemente abaixo de 40%, nível muito aquém da recomendação - 70% - da OMS e para desacelerar a disseminação da Covid-19.

Subnotificação e SRAGs

Outro dado preocupante é a comparação entre os registros das SRAGs (Síndromes Respiratórias Agudas Graves). Em 2019 foram notificados 221 casos. Já em 2020, o estado registrou 2.367 notificações de SRAGs. A comparação mostra que houve aumento de 1.071% em julho de 2020 no número de casos notificados de SRAG.

Do total de casos de SRAGs registradas em julho de 2020, foram registrados 473 óbitos por SRAGs. No mesmo mês de 2019, foi notificada quantidade consideravelmente menor de óbitos, registrando 64 mortes. Isso significa que em 2020, o estado registrou 409 mortes a mais por SRAGs apenas no mês de julho em relação ao ano anterior.

“Fica evidente que há uma desproporção de 7,4 vezes mais de casos entre o ano passado e esse ano em que temos a pandemia da Covid-19. Compreendemos que esse aumento expressivo no número de casos de SRAGs corresponde justamente à Covid-19 não testada e subnotificada”, enfatiza o pesquisador.

Até o dia 15 de agosto, Mato Grosso do Sul registrou 1.063 mortes. Dessas mortes, 631 foram registradas como SRAGs por Covid-19 - uma vez que toda Covid-19 quando é agravada apresenta uma condição clínica de SRAG - e 432 como SRAGs não específicas. A macrorregião de saúde de Dourados é responsável por 258 dessas 1.063 mortes por SRAGs, sendo que dessas 258, quase a metade (47%) é atribuída a SRAGs não específicas.

“Só o município de Dourados apresentou 67 óbitos confirmados por Covid-19 até 15 de agosto e outras 32 mortes por SRAGs não específicas. Assim, absurdamente, se esses casos não forem de Covid-19, existe outro agente etiológico de alta letalidade circulando no estado. Acredito que isso é quase impossível. Enfatizo que as SRAGs omitem a Covid-19”, pontua Archanjo da Mota.

Populações vulneráveis

De acordo com Archanjo da Mota, as desigualdades de acesso à testagem na macrorregião de Dourados são evidenciadas quando são comparadas as mortes por cor/etnia por SRAG não específica e SRAG por covid-19, com destaque para os povos indígenas e para a população negra.

“Das 11 mortes registradas, somente três foram diagnosticadas como covid-19. Entre indígenas que moram no município de Dourados, dos oito que foram a óbito por SRAG não específicas, seis moram em outras cidades da macrorregião”, explica o pesquisador.

Na população negra da macroregião de Dourados as quantidades foram de 55 para SRAG não específica e 52 por covid-19; na população de cor branca ficaram, respectivamente, de 48 e 68; e na população oriental, de 2 e 7, respectivamente.

“Esses dados mostram que a doença, nas populações historicamente mais vulneráveis socioambientalmente, estão estatisticamente muito discrepantes entre as populações indígena e negra e as de cor branca e oriental”, explica Archanjo da Mota.

Níveis de alerta

Desde o mês de junho, pesquisadores têm apresentado relatórios técnicos alertando sobre os dados da pandemia e recomendando medidas para conter o avanço do novo coronavírus, para preservar vidas e o sistema de saúde pública. No relatório sobre a macroregião de Dourados divulgado hoje (21), os municípios de Tacuru e Dourados apresentam, respectivamente, 1,84 e 1,52 de índice de morbimortalidade (índice de pessoas mortas em decorrência de uma doença específica), enquadrando esses municípios no nível de alerta 3.

Os municípios com nível de alerta 2 são: Sete Quedas, Coronel Sapucaia, Taquarussu e Mundo Novo, com aumento no índice índice de morbimortalidade; os municípios de Juti, Naviraí, Caarapó, Eldorado, Rio Brilhante, Iguatemi, Vicentina, Ponta Porã, Itaquiraí, Deodápolis, Nova Andradina, Batayporã e Antônio João apresentam estabilidade no índice de morbimortalidade e se encontram no nível de alerta 2.

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