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Interior

Um prefeito, dois PMs e “vendedor morto”: mistérios da Dodge Ram alvo do Gaeco

Investigação suspeita de então servidora do Detran, que fez a transferência

Por Aline dos Santos | 26/03/2025 08:38
Um prefeito, dois PMs e “vendedor morto”: mistérios da Dodge Ram alvo do Gaeco
Prefeito Juliano Ferro posa para foto com caminhonete Dodge Ram. (Foto: Reprodução/Instagram)

Com autorização judicial para ir a leilão em breve, a Dodge Ram 2500 Laramie, de cor branca, ano e modelo de 2018, é cercada de mistério, que investigação do MPMS (Ministério Público de Mato Grosso do Sul), com direito à operação do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado) em outubro do ano passado, busca desvendar.

RESUMO

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A Dodge Ram 2500 Laramie, envolta em mistérios, é alvo de investigação do MPMS e Gaeco em Mato Grosso do Sul. O veículo, que será leiloado, está ligado ao prefeito de Ivinhema, dois policiais militares e um comerciante. A caminhonete foi transferida irregularmente, com suspeitas de fraudes em cartório e no Detran/MS. O veículo foi vendido por R$ 300 mil, mas o proprietário faleceu três anos antes da transação. O caso envolve uso de "laranjas" e movimentações financeiras suspeitas. O Gaeco apreendeu R$ 79 mil na casa do prefeito. O Detran-MS usa IA para monitorar operações suspeitas.

O enredo tem o prefeito de Ivinhema, que se autointitula o “mais louco do Brasil”, dois policiais militares, um comerciante, um vendedor que fez negócio depois de morto e suspeita de fraudes com tentáculos em cartório do Rio Grande do Sul e no Detran/MS (Departamento Estadual de Trânsito).

A história começa em janeiro de 2024. Naquela ocasião, chegou ao conhecimento do Ministério Público, por meio de cidadão que não quis se identificar por temer represálias, denúncia de que o veículo teria sido transferido de forma irregular para o policial militar Vagner Pires da Silva, cedido para atuar na segurança do prefeito Juliano Ferro Barros Donato (PSDB). Atualmente, Vagner é vereador de Ivinhema (PSD), o Vagner Polícia.

“Ainda, segundo o(a) denunciante, o veículo em testilha apresentava problemas de ordem administrativa e não poderia ser regularmente transferido”.

Conforme a decisão do juiz da 1ª Vara de Ivinhema, Rodrigo Barbosa Sanches, que autorizou a operação Contrafação, o prefeito teria negociado o veículo em 2022 com o empresário Luan Vinicius Silva Matos, porém, sem formalizar a transferência. “Não se sabendo como o veículo teria ido parar na posse e disponibilidade” do prefeito. Sem a documentação, o negócio teria sido desfeito.

Um prefeito, dois PMs e “vendedor morto”: mistérios da Dodge Ram alvo do Gaeco
Ministério Público destaca suspeita de fraude. (Foto: Reprodução/Processo)

A apuração mostrou que a caminhonete foi transferida por R$ 300 mil para o nome de Vagner, no dia 12 de junho de 2023. O reconhecimento de firma do vendedor e do comprador foi feito em cartório de Passo Fundo (Rio Grande do Sul). O proprietário tinha endereço em Goiânia, enquanto Vagner residia em Ivinhema.

O MP considerou estranho o deslocamento para o Rio Grande do Sul. Depois, a promotoria verificou que o dono da caminhonete faleceu em 28 de fevereiro de 2020, três anos antes da venda. “Portanto, impossível que a assinatura constante no recibo de transferência fosse dele”.  Conforme a promotoria, não se sabe como o veículo teria ido parar na posse de Juliano Ferro.

O documento da transferência foi feito no Detran de Maracaju. Para a investigação, uma servidora foi cooptada. Dois meses depois, a caminhonete foi transferida para o policial militar Rodrigo Ferreira da Silva. Por fim, a Dodge Ram foi transferida para empresa de família de Luan.

O prefeito, os policiais e o empresário foram alvos de mandado de busca e apreensão, além da quebra do sigilo bancário.

O levantamento mostra que não houve movimentação de valores compatíveis, ou seja, a transação não passou pelo sistema bancário. Para o MP, o fato de a caminhonete não ter sido declarada por nenhum dos investigados reforça o uso de “laranjas” para “esquentar” o veículo.

Também chamou a atenção que a servidora do Detran recebeu R$ 268 mil entre janeiro de 2023 e abril de 2024, a titulo de pagamento de fornecedores. Mas não consta declaração dela sobre atividade comercial. Ela foi exonerada em julho.

Na casa do prefeito Juliano Ferro, o Gaeco apreendeu R$ 79 mil, sendo uma cédula de R$ 200, 724 cédulas de R$ 100 e 128 cédulas de R$ 50. Também foram recolhidas 31 lâminas de cheques e o contrato de compra e venda da Dodge Ram. A caminhonete, que estava na casa do comerciante, foi levada para o pátio da delegacia da PF (Policia Federal) de Dourados, pois não havia depósito adequado em Ivinhema.

Um prefeito, dois PMs e “vendedor morto”: mistérios da Dodge Ram alvo do Gaeco
Dodge Ram foi apreendida e levada para a Delegacia da Polícia Federal em Dourados (Foto: Direto das Ruas).

“Apenas comprou” – O advogado Robson Rodrigo Ferreira de Oliveira afirma que o policial militar afastado Rodrigo Ferreira da Silva não participou de nenhuma fraude. “Apenas comprou do Juliano. O Rodrigo não sabia da transferência para o Vagner”.

Ele entrou com processo de anulação do negócio, além de pedir liminar para o bloqueio de R$ 739.200 nas contas do prefeito.  O valor é pela caminhonete, danos materiais e danos morais.

O policial relata que em 12 de janeiro de 2023 fez contrato de compra e venda do veículo Dodge Ram. Segundo Rodrigo, o prefeito informou que a caminhonete se encontrava em processo de inventário.

A transação foi de R$ 366 mil. Na sequência, após a transferência da Dodge Ram, surge Luan Vinicius Silva Matos, que alegou ser o antigo proprietário e demonstrou o interesse de readquirir a caminhonete.

Então, o policial celebrou compromisso de compra e venda com Luan. O veículo foi adquirido por uma empresa familiar, de propriedade do irmão do comprador. A transação foi de R$ 300 mil. Após a operação, o policial devolveu a S10 e o dinheiro para Luan.

Um prefeito, dois PMs e “vendedor morto”: mistérios da Dodge Ram alvo do Gaeco
Dinheiro aprendido pelo Gaeco em operação no mês de outubro. (Foto: Divulgação/MPMS)

Boa fé – A defesa do comerciante Luan Vinícius Silva Matos informa que ele  adquiriu o bem de boa-fé, acreditando que todos os trâmites legais haviam sido devidamente cumpridos.

“Não houve, em momento algum, intenção de cometer qualquer ato ilícito ou fraude. Portanto, não há qualquer participação ou responsabilidade do nosso cliente no que se refere à alegada irregularidade”, afirmam os advogados Daniela Garcia da Cunha e Augusto César Mendes Araújo.

Inteligência artificial - O Detran-MS informa contar com ferramenta, desenvolvida de forma inédita no Brasil, que usa Inteligência Artificial (MAC Detran) para monitorar 24h por dias as operações sistêmicas realizadas pelos servidores ou conveniados do órgão. Quando a ferramenta identifica qualquer tipo de desvio padrão de comportamento, como possíveis atividades suspeitas de irregularidades, são encaminhados para a Corregedoria de Trânsito, que faz apuração e leva as investigações às instâncias superiores.

“Frente a isso, o Detran-MS informa que colabora ativamente e cobra celeridade e transparência com todas as investigações em tramitação nos diversos órgãos de Justiça e segurança pública, mas não emite opinião ou prejulgamento de qualquer que seja o investigado. É de nosso maior interesse que atos de corrupção sejam identificados, estancados, investigados e punidos de maneira rápida e eficiente para evitar maiores prejuízos ao erário público”, informa o órgão estadual em nota enviada ao Campo Grande News.

A reportagem não conseguiu contato com a defesa do vereador Vagner Polícia. O jornal fez contato com o prefeito e o seu advogado, aguardando retorno.

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