Comerciante que debochou da polícia tem prisão preventiva decretada
Luan Vinicius da Silva Matos é um dos investigados na Operação Contrafação, deflagrada ontem (30)
Preso em flagrante por porte ilegal de arma de fogo e munições, o comerciante Luan Vinicius da Silva Matos, de 24 anos, teve o flagrante convertido em prisão preventiva após passar por audiência de custódia, na tarde desta quinta-feira (31), em Ivinhema, a 289 quilômetros de Campo Grande.
Conforme apurado pela reportagem, o rapaz foi um dos principais alvos da Operação Contrafação, deflagrada pelo Ministério Público de Ivinhema com o apoio do Gaeco (Grupo de Atuação Especial de Repressão ao Crime Organizado). Luan foi preso na tarde de quarta (30), quando agentes o encontraram em sua casa uma pistola calibre 9 milímetros e diversas munições, incluindo calibres 32, 38 e 380. Ele foi encaminhado à delegacia de Ivinhema e autuado em flagrante.
Há 15 dias, Luan já havia sido alvo de outra operação, denominada “Defray”, conduzida pela Polícia Federal, na qual foi apreendida uma caminhonete importada Silverado, de cor preta, de sua propriedade, avaliada em R$ 519 mil. O comerciante ficou conhecido na região após publicar um vídeo, desdenhando do trabalho das autoridades policiais após a operação da Polícia Federal.
“Levou a Silverado, mas já pedi uma branca, se f..., to nem vendo, deixa arder. Tão achando que nós tá guardado, onde nós ta”, disse o rapaz segurando uma garrafa de cerveja e mostrando ele e os amigos na lancha. O vídeo se tornou um dos assuntos populares do estado desde então.
Audiência de custódia - Ao decidir pela prisão preventiva, o juiz Rodrigo Barbosa Sanches citou que Luan é investigado na operação do Gaeco por ter comprado a Dodge RAM 2.500 Laraime branca por R$ 300 mil, pagos em espécie, conforme por ele próprio declarou em depoimento à Polícia Federal.
“Todavia, esse veículo, transferido no ano de 2023, estava emplacado no estado de Goiás, e seu proprietário era falecido desde o ano de 2020, sendo a transferência consumada a partir de falsificação de assinaturas e do selo cartorário, que por sinal era da cidade de Passo Fundo (RS)”, citou o magistrado.
Esses fatos provocaram a expedição de mandado de busca e apreensão na casa de Luan Matos. Ao cumprir a ordem, agentes do Gaeco encontraram o armamento.
Rodrigo Barbosa Sanches citou também a Operação Defray, da Polícia Federal, que apreendeu outra caminhonete de Luan. “Se não bastasse a gravidade dos fatos apurados (pelo Gaeco), no dia 15 de outubro de 2024 o autuado foi alvo de uma busca da Polícia Federal, no bojo de investigação que apura a prática de tráfico, associação para o tráfico, lavagem de dinheiro, dentre outros, quando na posse de Luan, foi apreendido veículo Silverado, que por ele teria sido adquirido por R$ 550 mil”.
O magistrado também citou episódio em que o comerciante debochou da apreensão da Silverado. “Logo após a apreensão do veículo, Luan teria postado vídeo em suas redes sociais, debochando do trabalho policial, não demonstrando respeito às leis ou ao sistema de justiça como um todo”. No dia seguinte ao vídeo, Luan negou ter zombado da polícia e pediu desculpa.
O juiz de Ivinhema citou também que Luan Matos não é investigado no procedimento da Polícia Federal, tendo sido ouvido apenas como testemunha. “Mas o que até aqui foi relatado tem o único propósito de demonstrar que os fatos que ensejaram a prisão em flagrante de Luan não devem ser considerados como uma simples apreensão de arma de fogo e munições de uso restrito e permitido”.
Operação Contrafação - Em nota oficial, o Ministério Público informou que a Operação Contrafação cumpriu oito mandados de busca e apreensão domiciliar, um mandado de busca e apreensão da caminhonete e intimações sobre imposição de medidas cautelares. Entre os alvos dos mandados estão o prefeito reeleito de Ivinhema, Juliano Ferro (PSDB), o comerciante Luan Vinicius e pelo menos dois policiais militares – um de Ivinhema e o outro residente em Dourados (também preso em flagrante).
Buscas foram feitas na casa de Juliano Ferro, na loja de revenda de veículos Alvorada Multimarcas e num supermercado, ambos de propriedade da família de Luan Matos. Segundo o MP, as investigações revelaram que a caminhonete importada pertenceu ao prefeito Juliano Ferro e a Luan Matos, mas nunca foi transferida oficialmente em nome de qualquer um deles.
Por fim, a RAM teve a transferência efetivada para o nome de dois policiais militares, “baseada em documentação falsificada”, conforme a investigação do Gaeco. A transferência ocorreu em junho de 2023, na agência do Detran em Maracaju. Entretanto, o proprietário da RAM que aparecia no sistema do órgão de trânsito já havia falecido há mais de três anos, o que demonstra falsificação. Durante cumprimento dos mandados, foram apreendidos R$ 79 mil em dinheiro, armas, carregadores e munições.
O outro lado - Nas redes sociais, Juliano Ferro disse que, em sua casa, a equipe do grupo especial apreendeu dinheiro em espécie e cheques, “de carros que eu trabalho” e também seu celular. “Não sei ainda o que é, não sei é relacionado à minha vida particular ou à prefeitura, mas estou à disposição da Justiça de Mato Grosso do Sul com muita tranquilidade”, afirmou o prefeito.
Ele também agradeceu aos agentes do Gaeco e ao promotor de Justiça que conduziu as buscas por tratarem suas filhas e sua esposa com educação. Reeleito com 81,29% dos votos no dia 6 de outubro, Juliano Ferro tem quase 770 mil seguidores no Instagram.
*Matéria alterada às 8h43 de 01/11/2024 para acréscimo de informações.
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