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Interior

Unidades móveis enferrujam ao relento enquanto índios sofrem com dor de dente

Denúncia foi feita ao MPF por manifestantes que ocupam polo-base do Dsei em Dourados há 3 dias

Helio de Freitas, de Dourados | 06/05/2021 16:34
Carros no pátio do polo-base em Dourados; ao fundo as duas unidades móveis (Foto: Direto das Ruas)
Carros no pátio do polo-base em Dourados; ao fundo as duas unidades móveis (Foto: Direto das Ruas)

Enquanto 18 mil pessoas ficam sem atendimento nas aldeias indígenas, duas unidades móveis do programa federal “Brasil Sorridente” enferrujam embaixo de sol e chuva no pátio do polo-base do Dsei (Distrito Sanitário Especial Indígena), em Dourados, 233 km de Campo Grande.

Compradas em 2017 pelo Governo Federal, as unidades foram destinadas a atendimento odontológico de pacientes indígenas da área de abrangência do polo-base de Dourados, especialmente em localidades que não dispõem de estrutura de cadeira odontológica.

Dotados de equipamentos para procedimentos básicos odontólogos, os veículos são considerados de extrema importância para proporcionar tratamento digno e de qualidade aos pacientes indígenas, mas estão abandonados ao relento.

As duas unidades móveis fazem parte das dezenas de veículos que estão parados no pátio do polo-base, na Avenida Joaquim Teixeira Alves, em Dourados. O Campo Grande News mostrou o caso ontem.

O prédio está ocupado desde segunda-feira (3) por lideranças indígenas que exigem a demissão da chefe local do Dsei, Sidneide Alves Boa Sorte. O distrito é unidade descentralizada da Sesai (Secretaria Especial de Saúde Indígena), órgão do Ministério da Saúde.

Nesta quarta-feira (5), representantes da coordenação estadual do Dsei estiveram no prédio ocupado para conversar com os manifestantes, mas não houve avanço nas negociações.

Apesar de os índios afirmarem que não estão impedindo o trabalho dos funcionários, o coordenador estadual do Dsei, Joe Soccenti Júnior, teria determinado paralisação dos atendimentos enquanto durar a ocupação.

Hoje, líderes do movimento denunciaram o abandono das unidades móveis ao MPF (Ministério Público Federal).

“Os dois veículos relativamente novos, adequadamente equipados para atendimento odontológico em locais de difícil acesso onde não há Unidades de Saúde estão abandonados em meio às sucatas de veículos, lixo, e matagal, expostos às intempéries em nítido estado de desgaste”, afirma a denúncia.

Enquanto os veículos viram sucatas no pátio do polo-base, indígenas de áreas sem gabinete odontológico estão sem atendimento adequado e sem receber procedimentos de atenção básica e preventivo em saúde bucal.

Uma das duas unidades móveis que estão abandonadas no polo-base em Dourados (Foto: Direto das Ruas)
Uma das duas unidades móveis que estão abandonadas no polo-base em Dourados (Foto: Direto das Ruas)

“Não por falta de profissionais e sim pela falta de gestão e de planejamento administrativo por parte do coordenador da Sesai, senhor Joe S. Junior, e da chefe do polo-base de Dourados, senhora Sidneide Boa Sorte”, afirma o documento.

As lideranças indígenas também denunciaram ao MPF terem encontrado pelo menos 70 galões de 50 litros com hipoclorito de sódio com prazo de validade em agosto de 2021. O produto serve para limpar superfícies, clarear roupa branca, lavar verduras e para purificar a água para consumo humano, reduzindo as chances de contaminação por vírus, parasitas e bactérias.

Segundo a denúncia, os galões estão armazenado de forma totalmente inadequada, expostos às intempéries que certamente influenciarão na eficácia do produto, especialmente exposição ao sol.

“São recursos públicos do Governo Federal que foram investidos nas aquisições, cujo bem, são para fins de saúde pública da população indígena, mas o que se observa é o descaso que vem causando prejuízos à população indígena”, afirma a denúncia à qual o Campo Grande News teve acesso.

Desde segunda-feira a reportagem tenta, em vão, falar com os representantes do Dsei em Mato Grosso do Sul.

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