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Interior

“Vocês mataram mais um de nós”, gritam indígenas a PMs em palco de guerra

Imagens gravadas pelos guarani-kaiowá mostram grupo carregando corpo de jovem em meio à fumaça de bombas

Por Helio de Freitas, de Dourados | 18/09/2024 16:08


Novas imagens compartilhadas em redes sociais por entidades de defesa dos povos indígenas mostram o corpo do jovem guarani-kaiowá Neri da Silva, 23, sendo carregado por amigos em meio à fumaça de bombas jogadas por policiais militares. “Vocês mataram um de novo, mataram mais um de nós”, diz o indígena que gravou a cena (veja o vídeo acima), lembrando de outras 3 vítimas na mesma região;.

O campo de batalha foi a Fazenda Barra, no município de Antônio João, na fronteira com o Paraguai. Atingido com tiro na cabeça, Neri morreu no local. Imagens de seu corpo em meio à poça de sangue circulam na internet e foram parar no CNJ (Conselho Nacional de Justiça).

Amparada por decisão da Justiça Federal, desde o ano passado a Polícia Militar mantém equipes na propriedade. A liminar, concedida pela 1ª instância em Ponta Porã e ratificada pelo TRF3 (Tribunal Regional Federal) da 3ª Região, manda a PM salvaguardar a propriedade, para impedir ocupação e confrontos. Entretanto, não legaliza eventual reintegração de posse.

Assessora do governo – De propriedade dos pecuaristas Pio Queiroz Silva e Rozeli Ruiz – pais da advogada Luana Ruiz, assessora especial nomeada na Casa Civil do governo do estado – Fazenda Barra faz parte do Território Nhanderu Marangatu, de 9,3 mil hectares.

Palco de vários confrontos e outras 3 mortes de indígenas, a começar por Marçal de Souza (1983), a área foi demarcada e homologada no primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2006), mas um mandado de segurança impetrado no STF (Supremo Tribunal Federal) suspendeu a decisão da União. O caso está há anos no gabinete do ministro Gilmar Mendes.

A Fazenda Barra era a única das três fazendas sobrepostas à área indígena que continuava desocupada devido à presença da PM. Na semana passada, os indígenas tentaram retomar a propriedade, houve confronto com os policiais militares e três guarani-kaiowá ficaram feridos – dois por tiros de bala de borracha e uma mulher por tiro de munição letal, no joelho direito.

Após dois dias de tensão, a situação foi contornada na sexta-feira (13) e a ponte de acesso à fazenda, queimada no dia anterior pelos indígenas, foi reconstruída.

No fim de semana a situação se manteve tensa, mas sob controle. Entretanto, na segunda-feira (16), os indígenas ocuparam parte da fazenda. A Polícia Militar informou que houve nova conversa para que não ampliassem a nova ocupação.

Ontem (17), no entanto, o risco de confronto se tornou iminente e o Batalhão de Choque foi mobilizado. Na manhã de hoje (18), Neri da Silva foi atingido por tiro disparado por um policial e morreu.

PMs que estão no local afirmam que os indígenas investiram contra a tropa e também teriam atirado com armas de fogo. Entretanto, a Secretaria Estadual de Justiça e Segurança Pública não relatou a existência de policial ferido.

A Superintendência da Polícia Federal em Mato Grosso do Sul informou que a corporação já assumiu as investigações sobre a morte do indígena e que vai cuidar inclusive da perícia no corpo. Equipes da Delegacia da PF em Ponta Porã foram para o local de confronto.

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