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Interior

“Vou te bater mais”: pai filma filho ensanguentado e é “caçado” na fronteira

Homem chegou a ser preso, mas responde a inquérito em liberdade; garotinho e irmãos estão com parentes

Anahi Zurutuza e Helio de Freitas, de Dourados | 29/09/2021 18:08

Vídeo em que menino de 3 anos aparece aos prantos e coberto de sangue viralizou nesta quarta-feira (29), em Ponta Porã – cidade da fronteira a 323 km de Campo Grande –, e virou “prato cheio” para muita gente falar em “justiça com as próprias mãos”. Pai e mãe da criança, que têm outros três filhos, estão sendo “caçados”.

De acordo com a delegada Analu Lacerda Ferraz, que atendeu a ocorrência, o caso chegou à polícia no sábado passado, dia 24. Denúncia contendo o vídeo foi feita à PM (Polícia Militar) na madrugada, que acionou o Conselho Tutelar e foi ao local. Na casa da família, estavam a mãe e as crianças. O pai foi localizado depois e preso no mesmo dia.

Em depoimento, o homem nega que tenha agredido o filho, embora no vídeo, supostamente gravado por ele mesmo, diga: “eu vou te bater mais”, mandando que o menino tirar a bermuda. O pai alega que o filho havia caído, por isso, estava ensanguentado e a mãe confirma. O casal também nega fazer uso de drogas e admite ter problemas com álcool.

“Ele diz que foi ele mesmo quem gravou para mostrar a situação das crianças, que realmente estavam em situação de extrema vulnerabilidade. É uma família muito pobre, que passa necessidade, fome mesmo. As crianças estavam comendo comida do chão”, completou a delegada.

Analu Ferraz explica que a polícia investiga o caso. Não há como provar, por enquanto, que aquele sangue na criança foi provocado por uma agressão, apesar da forte evidência de que o menino estava apanhando naquele momento. Foi pedida perícia no celular do pai para apurar, por exemplo, quando o vídeo foi gravado e se há mais imagens que esclareçam os fatos.

A delegada esclarece que apesar da prisão, juiz entendeu que não havia elementos suficientes para configurar flagrante. O pai foi colocado em liberdade. “A conduta possivelmente omissiva da mãe (não impedir a violência) também vou apurar no inquérito”.

Mensagem compartilhada em rede social junto com o vídeo. (Foto: Reprodução)
Mensagem compartilhada em rede social junto com o vídeo. (Foto: Reprodução)

Exposição – A responsável pela investigação e a conselheira tutelar que esteve na casa da família, Marine Escobar de Souza, garante que as crianças estão em segurança. “Estão fora da cidade”, explica a delegada.

“Eu entendo que um caso desses choca, choca a todos nós. Mas todas as medidas pertinentes para a segurança dessa criança e dos demais irmãos, foram tomadas pelos órgãos. Eles estão em segurança e com todos os seus direitos resguardados”, explicou a conselheira tutelar, completando que os quatro irmãos estão sob os cuidados de parentes que não têm contato com os pais.

As duas afirmam que a “caça as bruxas”, estimulada pelo compartilhamento do vídeo do menino chorando, em nada contribui para o bem-estar das crianças. “Parem de compartilhar, é crime e é revitimizar essa criança. Tudo o que ela já passou, o que ela menos precisa nesse momento é essa exposição. Encarecidamente eu peço, como quem acompanhou, como quem viu, como quem estava de perto, apaguem esse vídeo do WhatsApp. Isso não ajuda em nada. A criança está atendida. Pelo amor de Deus, tirem das redes sociais. Parem!”, apela Marine.

Analu Ferraz também afirma que o casal não sairá impune, se for o caso. Mas a investigação precisa ser respeitada.

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