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Cidades

MS precisa de R$ 23 bilhões para tornar a malha ferroviária competitiva

Valor corresponde à soma dos investimentos estimados dos projetos ferroviários

Osvaldo Júnior | 29/03/2018 06:29
Antiga estação ferroviária de Campo Grande (Foto: Roberto Higa/Arquivo)
Antiga estação ferroviária de Campo Grande (Foto: Roberto Higa/Arquivo)
MS precisa de R$ 23 bilhões para tornar a malha ferroviária competitiva

Quilômetros de precariedades, cifras bilionárias e busca por investidores estrangeiros são as maiores pedras nos trilhos sul-mato-grossenses. São necessários R$ 23 bilhões – soma dos valores estimados dos projetos – para encurtar a distância entre os produtos do Estado e o mercado consumidor através de uma malha ferroviária competitiva. 

Entre os projetos, a Ferrovia TransAmericana é a que concentra as energias do governo estadual, de acordo com a Semagro (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento Econômico, Produção e Agricultura Familiar). A proposta é ligar o oceano Atlântico, no porto de Santos (SP), ao Pacífico, na cidade portuária de Ilo, no Peru.

A TransAmericana conecta a Ferroeste, administrada pela concessionária Rumo e que passa por São Paulo e Mato Grosso do Sul, à Ferrovia Oriental, na Bolívia. Isso permite acesso à Ferrovia Andina, ligada aos portos do Oceano Pacífico. Assim, haveria alternativa de saída para o mercado asiático e o escoamento da produção seria mais econômico, com redução aproximada em 25 dias, o que contribui para a maior competitividade das commodities sul-mato-grossenses.

À frente do projeto está consórcio formado pela Rumo, Ferrovia Oriental e Andina, o Hub Intermodal de Três Lagoas e a Transfesa, do segmento de transportes ferroviários.

O desafio é atrair soma considerável, estimada em US$ 2 bilhões (R$ 6,6 bilhões na cotação atual), para transformar as precariedades de uma ferrovia centenária em uma linha moderna. Esse valor é projetado apenas para o trecho entre Santos e Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia.

Secretário Jaime Verruck apresentando projeto da Ferrovia TransAmericana durante evento no ano passado na Semagro (Foto: Divulgação/Governo de MS)
Secretário Jaime Verruck apresentando projeto da Ferrovia TransAmericana durante evento no ano passado na Semagro (Foto: Divulgação/Governo de MS)

Precária – “Dormentes velhos, trilhos tortos, trilhos de baixa densidade, falta de sinalização adequada”, enumerou o secretário Jaime Verruck, titular da Semagro, em referência à situação da ferrovia. Isso tudo impossibilita o escoamento rápido e em grande volume. “Primeiro, temos que fazer investimentos para retomar a carga, pra aumentar velocidade”, completa. É preciso, segundo ele, trocar a totalidade dos trilhos.

Embora necessite de melhoria, a Ferroeste opera com três contratos: transporte de celulose de Jupiá a Santos; de minério, do morro de Urucum a Porto Esperança, em Corumbá (daí o insumo segue de barcaça até a Argentina); e de vergalhão de ferro, de Bauru a Bolívia. Haverá, ainda, novo contrato para escoar farelo de soja de Três Lagoas ao porto de Santos.

Prorrogação e PPI – O uso atual da ferrovia é modesto frente ao que se pretende com a TransAmericana: incrementar as exportações ao mercado asiático, os maiores consumidores do mundo. Para isso, há algumas frentes de ação. Uma delas é a prorrogação, que já tem anuência do governo estadual, da concessão da Malha Oeste para a Rumo por mais 30 anos, além da vigência dos dez anos que faltam para o seu encerramento. “Essa ampliação está condicionada aos investimentos da Rumo. É a única solução para a ferrovia: investimento privado”, considera Verruck.

De acordo com o secretário, o governo de Mato Grosso do Sul também tenta incluir a Ferrovia TransAmericana no PPI (Programa de Parcerias e Investimentos), para passar a ser prioridade também do Governo Federal. Além disso, o Estado participa do processo de acordo entre o governo brasileiro e alemão. O país europeu tem interesse em vender tecnologia, máquinas e equipamentos para a recuperação da linha férrea.

Não há apenas este projeto para ligar os oceanos Pacífico ao Atlântico. Há outro, mais antigo e apresentado em outro contexto nacional. Trata-se da ferrovia Bioceânica, incluída em 2015 no PIL (Plano de Investimento em Logística), e que passaria pelo Rio de Janeiro, Minas Gerais, Goiás, Mato Grosso, Rondônia e Acre. O projeto, no entanto, propõe uma extensão maior e custo muito mais elevado, estimado em R$ 40 bilhões.

Trajeto da TransAmericana (Imagem: Divulgação/Governo MS)
Trajeto da TransAmericana (Imagem: Divulgação/Governo MS)

Até Paranaguá – A região de Dourados pode ser ligada ao porto de Paranaguá (PR) pela Nova Ferroeste, proposta do governo do Paraná. No dia 21 deste mês, o governador desse estado, Beto Richa (PSDB) autorizou a abertura dos estudos de engenharia e de viabilidade técnica, ambiental e econômica para implantação da ferrovia

São dois trechos: o primeiro, com 400 quilômetros, liga Guarapuava (PR) ao Litoral do Paraná; o segundo vai de Guarapuava a Dourados, com a construção de mais 350 quilômetros de trilhos. No total, são estimados R$ 9,93 bilhões em investimentos.

Outros – Há projetos mais antigos e com concretização menos provável. Um deles propôs, inicialmente, ligar Porto Murtinho a Panorama (SP). Também passaria, em Mato Grosso do Sul, por Maracaju e Dourados. O EVTEA (Estudo de Viabilidade Técnica, Econômica e Ambiental), concluído em 2012 ao custo de R$ 5,5 milhões, verificou que não haveria volume significativo de carga até Porto Murtinho.

O trajeto foi reduzido, assim, de Panorama a Maracaju, totalizando 708 quilômetros de extensão e incluindo a “execução de obras de terraplenagem, drenagem, superestrutura, obras de arte especiais, obras complementares, serviços de supervisão de obras, gestão ambiental e desapropriação”, conforme o relatório do EVTEA. Os investimentos somam R$ 3,78 bilhões.

O segundo projeto é extensão da Ferrovia Norte-Sul, que interliga Três Lagoas a outros municípios de Goiás, Minas Gerais e São Paulo. A proposta está incluída na segunda etapa do Plano de Investimento em Logística e tem custo estimado em R$ 4,9 bilhões.

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