Para filha de cacique assassinado, demarcação de terra evitaria morte de índios
Líder avalia que demora no processo tem contribuído para mortes por de indígenas que vivem em acampamentos
Para Valdelice Veron, filha do cacique Marcos Veron, assassinado em janeiro de 2003, a demora na demarcação de terras indígenas tem contribuído para morte de índios em Mato Grosso do Sul.
Na avaliação da liderança guarani-kaiowá, a demora “ está contribuindo para a morte de crianças na beira de estrada, diarreia, fome e destruição. Também está contribuindo com a morte prematura e com abortos espontâneos”.
Valdelice continua. “Estamos morrendo silenciosamente. Estão acabando silenciosamente com nosso modo de ser. Queremos nossa terra de volta para reconstruí-la”, disse.
Segundo Valdelice, o processo de demarcação da terra guarani-kaiowá precisa ser concluído urgentemente, pois a situação do grupo está "muito difícil".
“Queremos a demarcação [de nossa terra], que já está identificada. Basta o ministro da Justiça [José Eduardo Cardozo] e a [presidenta da República] Dilma [Rousseff] assinarem para nós. É isso o que a gente quer para parar o genocídio, o massacre que está acontecendo hoje em Mato Grosso do Sul", declarou Valdelice.
Ela desabafa. "Está uma situação muito difícil, principalmente para as mulheres, crianças, grávidas e os idosos. Para quem vamos pedir socorro? O Ministério Público Federal, quando esteve lá, teve que correr porque eles [fazendeiros] atiraram por cima. E quando pedimos [ajuda] para a Polícia Federal, ela está em greve”, disse.
Dados do relatório Violência contra os Povos Indígenas, do Cimi (Conselho Indigenista Missionário), indicam que 32 índios foram assassinados em Mato Grosso do Sul no ano passado. O número representa 62,7% dos 51 assassinatos registrados no período em todo o país. Do total de mortos, 27 eram da etnia guarani-kaiowá. O estado também abrigou o maior número de casos de tentativas de assassinatos (85) e de suicídios (13) registrados pelo Cimi.
O cacique Marcos Veron foi morto a coronhadas por seguranças contratados para desocupar a Fazenda Brasília do Sul, em Juti, em fevereiro de 2003. Os acusados Carlos Roberto dos Santos, Jorge Cristaldo Insabralde e Estevão Romero foram inocentados pela morte do cacique, mas condenados por sequestros, tortura, lesão corporal e formação de quadrilha.
Por sua luta contra a violência que atinge os povos indígenas, Valdelice ecebeu do Conselho Federal de Psicologia, na semana passada, o 2º Prêmio Paulo Freire de Psicologia.
(Com informações da Agência Brasil)