Para promotor, fronteira tem abandono da União e vácuo de poder no PCC
O contraditório é que a liderança não deve emergir de poder constituído, mas do crime organizado
Enquanto convive com o abandono da União, a fronteira de Mato Grosso do Sul com o Paraguai está à espera de um novo líder. O contraditório é que a liderança não deve emergir de poder constituído, mas do crime organizado.
O vácuo de poder na região, fundamental para o tráfico de drogas e armas, é identificado por quem estuda uma das principais peças no tabuleiro fronteiriço: o PCC (Primeiro Comando da Capital).
De acordo com o promotor Lincoln Gakiya, que atua no Gaeco (Grupo de Atuação Especial contra o Crime Organizado ) de Presidente Prudente (SP) e investiga a facção criminosa desde 2005, as mudanças são recentes e é necessário tempo para avaliar se o PCC vai seguir em expansão ou terá perda de território.
“Realmente, estava havendo uma tomada de território por parte do PCC, consolidando com Gegê e Paca”, afirma o promotor. Conhecidos pela capacidade de gestão, eles foram enviados para o Paraguai após a execução de Jorge Rafaat, morto numa rua de Pedro Juan Caballero, que faz fronteira seca com Ponta Porã, no mês de junho de 2016.
Mas os chefes Rogério Jeremias de Simone (Gegê do Mangue) e Fabiano Alves de Souza (Paca) foram encontrados mortos no último dia 16 de fevereiro em uma reserva indígena de Fortaleza, capital do Ceará, abrindo esse hiato de poder.
“Tem que ver como essa questão vai se consolidar. Ainda não existem pessoas em liberdade que tenham essa capacidade de gestão. Pode acontecer também do PCC perder espaço”, avalia o promotor.
Ainda segundo Lincoln Gakiya, a execução de Rafaat e o crescimento do poderio da facção paulista forçou o Comando Vermelho a buscar alternativas para o tráfico de drogas como complicadas rotas na região Norte do País.
Sobre as recentes execuções, o promotor afirma que uma versão sustenta que foram motivadas por desvio de dinheiro. Outra corrente é que a ordem partiu de um dos chefes da facção, mas sem o aval do líder do PCC, que está preso. Os envolvidos no crime são procurados tanto pela facção quanto pela polícia. A tendência é de mais assassinato para queima de arquivo e não se esclareça quem ordenou os crimes.
Ranking – Mato Grosso do Sul é o terceiro Estado no ranking do “partido”, atrás de Paraná e São Paulo. E passa por aqui o tráfico de drogas, principal fonte de receita do PCC. “A cocaína tanto pode abastecer o mercado interno quanto pode ser encaminhada para o Porto de Santos. Na Europa, um quilo vale 25 mil euros”, diz o promotor.
Sobre a relação com MS, Lincoln Gakiya afirma que há colaboração entre o Ministério Público para combate ao crime organizado. “Mas tem um pouco de abandono por parte da União, na questão de fiscalização, guarda da fronteira. Espero que tenha outras operações, principalmente com [setor] a inteligência”, diz.
A facção criminosa chegou a Mato Grosso do Sul no ano 2000, quando São Paulo transferiu lideranças. Em seis meses, um grupo de cinco presos já tinha seu exército local. Seguindo uma metodologia e com dinheiro, foram batizando os “soldados”. Em 2006, o Estado participou da rebelião em rede do Dia das Mães, que tomou presídios em Campo Grande, Dourados, Três Lagoas e Corumbá.