Filiação de Priscila Pires e eleição em Dourados marcaram 2011
RETROSPECTIVA
Ano foi marcado pela eleição fora de época em Dourados, ameaça de demissão de secretários na Capital e indicação no TCE
O ano de 2011 já está acabando, mas vai deixar acontecimentos que marcaram a história da política em Mato Grosso do Sul. Seja pela surpresa, fato inusitado, vergonha ou insatisfação, alguns acontecimentos marcaram um ano que teve eleição por conta de denúncias de corrupção em Dourados, possível aproximação entre os rivais históricos, PMDB e PT, e as movimentações para a escolha dos pré-candidatos a prefeito.
Alguns fatos do ano que passou pegaram a população de surpresa, como o anúncio da pré-candidatura da ex-BBB Priscila Pires a vereadora em Campo Grande ou a possível demissão de todos os secretários da Capital, por conta da insatisfação do prefeito Nelson Trad Filho (PMDB).
Depois de fazer sucesso em todo País e quase vencer o programa Big Brother Brasil, Priscila Pires tenta aproveitar a fama para entrar no mundo da política. A ex-BBB pegou todo mundo de surpresa e ganhou manchete nacional ao anunciar a filiação ao PTdoB e declarar que pretende ser vereadora em Campo Grande. A pré-candidata explicou que sempre gostou de política e não é leiga no assunto, mas ressaltou que vai estudar para ser uma boa vereadora, caso seja eleita pelos campo-grandenses.
A candidatura de Priscila surpreendeu quem achou engraçado, gostou ou detestou a ideia. Porém, não teve o mesmo impacto da atitude do prefeito Nelson Trad Filho, que para balançar a administração e iniciar um período de ascensão, decidiu deixar todos os secretários demissionários.
O prefeito reuniu todo o secretariado, incluindo a primeira dama Antonieta Trad, e fez todo mundo assinar uma carta de demissão. A justificativa do Prefeito era de que muitos estavam desleixados e sem o comprometimento necessário. Trad aproveitou a oportunidade para combater o chamado “fogo amigo” e declarou que não aceitaria que os secretários de outros partidos, tidos como aliados, continuassem participando da administração enquanto seus colegas, mas especificamente do PPS e PSDB, atacavam a atual administração.
As demissões nem chegaram a ocorrer, mas movimentaram a política e todo o secretariado. Entendido por alguns como uma forma de dizer que o prefeito está atuando e não perdoaria a apatia ou como uma forma de tirar de si a responsabilidade, o fato é que o prefeito conseguiu reverter a baixa na popularidade e fechar o ano em ascensão, rumo ao último ano de administração.
Eleição após denúncias de corrupção - No dia 6 de fevereiro, Murilo Zauith (DEM) foi eleito prefeito de Dourados com 70.906 votos (70,11%), em uma eleição fora de época, onde 27,3% do eleitorado não compareceram as urnas. Zauith assumiu a administração depois que a Justiça Eleitoral determinou nova eleição após a renúncia do então prefeito Ari Artuzi e do vice, Carlinhos Cantor, acusados de envolvimento em um esquema de fraude em licitações e pagamentos de propinas.
Artuzi renunciou após a operação chamada pela Polícia Federal de Uragano. Na ocasião, foram presos Artuzi, o vice-prefeito, secretários, vereadores e empresários de Dourados. Todos suspeitos de participação em um esquema revelado por meio de gravações feitas por Eleandro Passaia com uma câmera escondida. Zauith foi eleito prefeito depois de duas derrotas, para Laerte Tetila (PT), em 2000, e Ari Artuzi, a época PDT, em 2008.
União entre PT e PMDB - A política sul-mato-grossense também foi movimentada por algo inimaginável após os embates entre os principais líderes, André Puccinelli (PMDB) e Zeca do PT. A possibilidade da união entre o PT e o PMDB nas eleições no Estado e até na Capital agitaram os bastidores da política.
A proximidade entre os dois partidos na Presidência da República fez muita gente acreditar que ambos poderiam andar de mãos dadas em Campo Grande e as especulações começaram a surgir. Porém, não passaram disso. Os mais radicais disseram não rapidamente. Mas, as interrogações deixadas pelo governador André Puccinelli esquentava os bastidores e aumentava as apostas, finalizadas apenas com o anúncio da pré-candidatura de Vander Loubet (PT) a prefeito na Capital.
As especulações quanto a eleição em 2012 também balançaram o mundo da política. Após vários anos nos bastidores da administração do PMDB, o PPS e o PSDB anunciaram a pré-candidatura em Campo Grande e acenderam a luz amarela no PMDB, que percebeu que a eleição em 2012 será bem disputada.
A preocupação foi tamanha, que fez o PMDB, já com as pré-candidaturas de Carlos Marun, Paulo Siufi e Edil Albuquerque, bem como do aliado Luiz Henrique Mandetta (DEM), trazer Edson Giroto do PR e até transferir o domicílio eleitoral da vice-governadora, Simone Tebet, de Três Lagoas para Campo Grande. Porém, o final desta longa jornada da escolha do pré-candidato do PMDB vai chegar a 2012. Embora a disputa esteja mais “afunilada” entre Siufi e Giroto, conforme análise do governador, ainda se fala nas candidaturas de Simone e Luiz Henrique Mandetta.
Briga entre filiados - As brigas pelo comando dos partidos na véspera de ano eleitoral e as pré-candidaturas deixaram aflorar verdadeiras guerras em 2011. No PT, a tradicional disputa entre Delcídio e Zeca durou o ano todo, depois que o PT não marchou unido nas eleições de 2010. A guerra foi marcada por provocações e troca de acusações e só terminou quando o diretório estadual do partido resolveu agir e fazer as escolhas dos candidatos, de maneira neutra, o que esfriou os ânimos e deu a impressão de que a paz voltou a reinar.
Os desentendimentos não foram exclusividades do PT. No PP, a confusão culminou com a saída do ex-presidente, Antônio Cruz, em meio a acusações de desvios, e na posse do deputado Alcides Bernal, que não colocou fim a insatisfação e iniciou uma nova disputa, entre ele e o presidente municipal do PP, Paulo Matos. No PSB a história é parecida. Eleito deputado estadual, Lauro Davi começou a pensar em uma mudança dentro do partido e provocou a ira do presidente, Sérgio Assis.
A tempestade parecia se encerrar quando Murilo Zauith deixou o DEM e passou a comandar o PSB, mas não foi o que aconteceu. A briga dentro do PSB terminou em agressão e registro de boletim de ocorrência por ameaças de morte, após uma reunião no diretório do partido.
Escolha de novo conselheiro para o TCE - Na Assembleia Legislativa o ano foi marcado pela morte da ex-deputada Celina Jallad, deixando uma vaga no Tribunal de Contas do Estado. Após a morte de Celina, a Casa passou por um fato histórico. Pela primeira vez na história do Estado, o cargo que sempre foi marcado por indicações de governadores ou dos demais poderes, foi alvo de uma disputa acirrada, com direito a sabatina na então senadora Marisa Serrano e no deputado Antônio Carlos Arroyo (PR).
A indefinição para a escolha do novo conselheiro atrasou a formação das comissões na Assembleia e até mesmo a ano de trabalho, só iniciado depois da votação, que acabou sendo a mais movimentada dentro da Casa. Arroyo foi um dos primeiros a se candidatar e chegou a conseguir assinaturas dos colegas, suficientes para lhe garantir a vaga. Entretanto, a precipitação lhe custou caro.
A disputa pela vaga chegou a ameaçar um racha na base aliada do governador na Casa, já que a disputa envolvia os aliados PR e PSDB, além de forçar os recém-chegados a mostrar a cara, dizendo se eram situação ou oposição. Parte da oposição apoiou Arroyo, que ainda conseguiu os votos de Mara Caseiro (PTdoB) e Marquinhos Trad. Porém, não foi suficiente para evitar a vitória de Marisa Serrano.
Ao final de tudo, Puccinelli conseguiu manter a base unida e a lealdade de Arroyo. O deputado entendeu que o fato do governador ter declarado por diversas vezes que teria lhe escolhido, significava que ele estaria neutro na campanha. Apesar disso, muitos apostam que a escolha teve arranjos políticos e o dedo de Puccinelli, já que serviu para aproximar o governador da presidenta Dilma Roussef (PT), tendo em vista que a escolha de Marisa tirou uma opositora do Senado e abriu as portas para Antônio Russo, que se filiou ao PR, partido da base de sustentação da presidenta.
Para não dizer que o ano na Assembleia Legislativa foi marcado apenas pela escolha do novo conselheiro, podemos lembrar da Lei da Ficha Limpa para cargos públicos no Mato Grosso do Sul. De autoria do deputado Paulo Duarte (PT), a regionalização da famosa, mas ainda não aplicada Lei da Ficha Limpa, foi aprovada pelos deputados, que deram um pequeno passo para amenizar as sequelas deixadas pelo ano tristemente marcado por uma eleição fora de época, depois que Dourados e o Estado ganharam manchete nacional com os escândalos de corrupção.